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"La Nevada" parece trilha sonora de perseguição. A composição abre com um piano bem-humorado, acompanhado de maracas (espécie de chocalho) capazes de criar o clima que deve conduzir a música em seus mais de 15 minutos de duração. O trompete provocando os trombones e vice-versa. Os pratos da bateria tremendo sem parar.

Não demora nada e você se pega embasbacado por Out of the Cool, um dos clássicos gravados por Gil Evans (1912 – 1988) e sua orquestra. Lançado originalmente em novembro de 1960, o disco acaba de sair no Brasil pela Universal/Impulse. A primeira vez em CD.

Na época (40 anos atrás), o pianista Evans já tinha conquistado respeito como arranjador depois de trabalhar em três álbuns extraordinários ao lado do trompetista Miles Davis (1926 – 1991): Miles Ahead (1957), Porgy and Bess (1958) e Sketches of Spain (1959). É da atmosfera latina desse último que parece ter saído Out of the Cool. O que se percebe já nos títulos das músicas como "La Nevada" (ou nevasca) e "Bilbao Song".

Em uma apresentação para a tevê americana, regendo a orquestra diante de Miles, o canadense Evans aparecia de camisa clara, com as mangas dobradas, encostado no banquinho e ladeado pelos músicos. Sem baqueta e estalando os dedos como quem ouve uma música no rádio, o pianista parecia se divertir à beça com o que estava acontecendo. O especial se chamou The Sound of Miles Davis e faz parte do DVD Vintage Collection, distribuído no país pela Warner.

O maestro despojado de mangas arregaçadas, estalando os dedos, regendo ao mesmo tempo em que parece curtir a música como qualquer outra pessoa do público. Essa é uma imagem difícil de desassociar de Evans, sobretudo em viagens sonoras como a de "Stratusphunk".

O livreto de Out of the Cool é simples (o tradicional de quatro páginas), mas vem repleto de explicações e referências técnicas que devem impressionar ouvintes iniciados. "Stratusphunk", para seguir no mesmo exemplo, foi composta por George Russell com base nos 12 compassos do blues (twelve-bar blues). "La Nevada", por sua vez, é estruturada em quatro compassos e transita do sol menor ao sol maior.

A vantagem da música é que não é necessário entender aspectos técnicos para apreciá-la, afinal é uma linguagem universal e blablablá. (Embora, claro, esse tipo de conhecimento torne a experiência ainda melhor.) No fim, o ouvinte não precisa compreender como o trompetista Johnny Coles "segue a topografia harmônica" de "Sister Sadie", composta por Horace Silver, para sacar que a performance dele é um dos achados do disco.

O título do álbum faz uma referência ao divisor de águas que Miles Davis gravou com Gerry Mulligan em 1949, The Birth of the Cool, trabalho na origem do chamado "cool jazz", fundado por Miles e muito bem explorado por Chet Baker (o fato de ser branco o ajudou um bocado). Saído do "cool", Gil Evans criou um disco divertido e vibrante, daqueles que entusiasmam na primeira audição. GGGGG

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