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Tem filme que faz chorar pela baixa qualidade da atuação. E cinema nacional, para muita gente, ainda é sinônimo de falta de naturalidade e artificialismo. Mas não onde a preparadora de elenco Fátima Toledo põe as mãos. Ela não admite que um ator grave suas cenas sem dar veracidade ao personagem, nem que seja – dizem – à base de dor e choro.

Com essa fama de durona, Fátima se tornou o principal nome da área no país, e comemora sua influência no resultado de filmões como Cidade de Deus e as duas partes de Tropa de Elite.

Essa experiência está, pela primeira vez, à disposição da classe teatral de Curitiba, em oficina promovida de hoje até sexta-feira pela escola Pé no Palco. Fátima conversou com a Gazeta do Po­­vo, por telefone, sobre seu método de trabalho. Confira a seguir alguns trechos da entrevista:

Qual o seu diagnóstico da qualidade da atuação que se faz hoje no cinema e na televisão brasileiros?

Acho que houve muita mudança em relação ao que se fazia antigamente. A naturalidade e a vera­­cidade na atuação são hoje preocupações, estou sentindo essas características mais presentes.

Você teria bons exemplos para citar?

Fora os meus... (risos).

Pode citar os seus também.

Os filmes em que trabalhei têm essa característica desde Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981), em que preparei adolescentes. De lá para cá, fiz quase 50 trabalhos. Neles, minha luta pela boa interpretação é muito presente. Mas vi em outros essa tentativa, inclusive sem usar o meu método.

Como você chegou a esse método?

Veio de uma necessidade real. Em Pixote... eu nunca tinha feito preparação, foi o Hector [Babenco] quem me levou para isso. Tudo que eu sabia com base em [diretores de teatro que criaram métodos de atuação, como] Stanislavski e Grotowski não funcionava bem com crianças, e tive que procurar uma saída na realidade deles. Não levei o filme pronto para impor, e vi que era um caminho muito interessante. Então fui aplicando isso em outros filmes.

Como seu trabalho "explodiu"?

Foi com Cidade de Deus. Eu já fa­­zia preparação havia 21 anos, mas só o pessoal de cinema o co­­nhecia. E então, ele veio a público. A partir daí, a profissão co­­meçou a ser regulamentada, ao que me parece, porque o que tem de preparador por aí...

Como você define o seu método?

Ele tem algumas características em comum com o de Stanislavski, que eu não nego de maneira nenhuma, mas não construo personagem. O ator tem que es­­tar ele mesmo em cena, não acredito em estabelecer um passado e um futuro para o personagem. Pego o ator e o coloco no contexto da trama.

Se o ator se baseia nele mesmo, não corre o risco de se repetir?

O Wagner Moura se repetiu em Tropa de Elite 1 e 2? Não. Cada filme tem um universo, que é muito difícil de repetir.

Como você lida com o ego e os bloqueios do ator?

Quando ele chega, eu não olho para isso, o trato como se fosse um ator iniciante. Considero seu histórico e o respeito, mas penso que ele está começando naquele filme assim como eu, já que é um trabalho novo que ainda não existe. Então, vou desconstruindo suas defesas e buscando a integração dele naquele universo. Não trabalho o ator, e sim a pessoa que ele será no filme.

Sua fama de durona é merecida?

Inicialmente, os atores ficam meio resistentes, mas depois aca­­bam aceitando. Quem fala mal do meu método não fez trabalho comigo... Sou muito exigente, mas na mesma medida sou carinhosa. E as pessoas confundem isso com dureza. Sou firme e exijo que o ator vá fundo. Mas, quando vejo que ele está frágil, sou a primeira a cuidar dele.

Com que você está trabalhando agora?

Com Heliópolis, do Sérgio Ma­­chado. Meu estúdio começou a escolher os atores também, porque, assim, evitamos problemas lá na frente.

Você exagerou alguma vez na intensidade proposta a um ator?

Às vezes fico nervosa porque ele não está conseguindo chegar aonde precisa, mas esses são momentos. Isso ocorre na minha casa, fico pensando no que fazer, chego a achar que vou enlouquecer. Às vezes digo aos atores que eles não estão me ajudando – tenho uma relação com eles de profunda honestidade. E quando digo que está bom, eles sabem que realmente está.

Suas oficinas são abertas a pessoas de outras profissões. Em que a atuação contribui, nesses casos?Empresários podem participar, políticos, pessoas que querem se relacionar melhor com os outros e consigo mesmas.

Serviço:

Workshop com a preparadora de elenco Fátima Toledo. De 27 de junho a 1.º de julho, das 9h30 às 13h30. Espaço Cultural Pé no Palco (R. Conselheiro Dantas, 20). Mais informações, pelo telefone (41) 3029-6860.

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