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Fátima OrtizAtriz, diretora e dramaturga

Fátima Ortiz não optou pela profissão – teatro era a única coisa que sabia fazer. "Acho que meu destino já estava traçado no plano metafísico", brinca.

Gaúcha, a menina mudou-se com a família para o interior do Paraná. Entre outras cidades, passou por Londrina e Irati – a profissão do pai, funcionário público, exigia um estilo de vida meio nômade – até que, aos 15 anos, instalou-se em Curitiba. Foi fazer artes cênicas na Escolinha de Artes do Colégio Estadual do Paraná e, em pouco tempo, o teatro tornou-se o centro de sua vida.

Fátima completa 35 anos de carreira artística com a feliz sensação de ter explorado todas as possibilidades da realização cênica: começou como atriz, em 1970, mas em pouco tempo descobriria sua vocação de autora, diretora teatral e arte-educadora.

Há 10 dez anos, criou, com o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, os cursos livres Pé no Palco de teatro para adultos, jovens e crianças. Em 2002, encontrou o espaço ideal para dar continuidade ao projeto e, enfim, realizar seu grande sonho: apresentar o universo cênico a crianças que dificilmente teriam outra oportunidade de conhecê-lo.

O Espaço Pé no Palco fica na Rua Conselheiro Dantas, n.º 20, no bairro Rebouças, pertinho de uma das áreas mais pobres de Curitiba: a Vila das Torres. Como nova moradora, Fátima tratou de pôr em prática a política da boa vizinhança: abriu a casa à comunidade. A parceria com os vizinhos deu tão certo que, em 2004, o Clube de Mães da Vila ajudou a produzir a peça Vila Paraíso (texto de Etel Frota e direção de Fátima), que recria o universo dos catadores de lixo para tratar de temas como gravidez e meio ambiente.

Em 2001, a diretora criou o Projeto Criança Encenação,que oferece formação cênica a 80 crianças da rede pública. Elas freqüentam o Pé no Palco duas vezes por semana, sob a orientação pedagógica de Maíra Lour – que a exemplo da mãe, Fátima, pôs um pé no palco e outro na arte-educação.

Após 13 anos sem atuar, por conta da vida atribulada como autora e diretora, este ano Fátima participou do elenco de uma peça sua, Rumo à Terra, que adaptou da obra Folha de Relva, de Walt Whitman. "Senti a necessidade de me nutrir no palco e de ampliar a convivência com os atores". Eles formam o Círculo de Encenação e Pesquisa Pé no Palco. No próximo ano, a companhia apresenta duas novas produções: O Amor Seja Como For, no Teatro Novelas Curitibanas, uma adaptação dos contos e crônicas de Roberto Gomes, e Olho D’Água – retorno de Fátima ao mundo infantil, após três anos sem dirigir espetáculos para esse faixa etária.

Annalice Del Vecchio

Destaque indiscutível

Bonde do RolêBanda

Em meados de 2005 Marina Ribastki, Rodrigo Gorky e Pedro D’Eyrot montaram uma banda com o único intuito de dar boas risadas, misturando batidas de funk carioca a riffs de clássicos roqueiros manjados e letras libidinosas e escatológicas. Gravaram meia dúzia de canções, que divulgaram apenas ao amigos mais chegados pela internet. Acabaram chamando a atenção do produtor gaúcho Fred Endres, integrante do grupo Comunidade Nin-Jitsu. Fred, por sua vez, mostrou as tais músicas para o DJ norte-americano Diplo, que logo os contratou como os primeiros artistas de seu recém-criado selo Mad Decent. Com o lançamento de um compacto em vinil com distribuição internacional, o trio Bonde do Rolê deixou Curitiba com destino ao mundo.

Após uma turnê por 30 cidades americanas e canadenses ao lado da banda paulistana Cansei de Ser Sexy – incluindo uma performance arrebatada no festival Pitchfork, em Chicago, que rendeu uma fratura exposta ao antebraço de Marina – o trio curitibano foi indicado pela revista Rolling Stone como uma de dez bandas-revelação de 2006.

Memoráveis apresentações por países como França, Dinamarca, Suécia e Inglaterra, antecederam a volta do trio ao Brasil, onde eles já chegaram dividindo o palco com nomes como TV on the Radio durante o Tim Festival, no Rio de Janeiro. Para fechar este ano com chave de ouro, o show do Bonde do Rolê venceu a votação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na categoria de melhor show de MPB (acredite se quiser!).

Juliana Girardi

O nosso maestro

Oswaldo ColarussoMaestro

Quem gosta de música erudita e vive em Curitiba deve muito a Osvaldo Colarusso. Primeiro, pelos anos em que ele dirigiu a Orquestra Sinfônica do Paraná. Depois, pelos milhares de programas de rádio que já transmitiu, levando música boa e de graça para quem acessa a Rádio Educativa. E agora, de dois anos para cá, pelo trabalho de vanguarda que vem fazendo no projeto Domingo no Câmpus, no Unicenp.

Neste ano, por exemplo, se tivesse montado apenas um dos programas da temporada, Colarusso já teria feito história. Em março, com um grupo de músicos curitibanos selecionado a dedo, ele fez a primeira montagem curitibana do Pierrô Lunar, a obra máxima de Arnold Schoenberg. A peça, que influenciou toda a música do século 20, já tem quase cem anos de idade. E só com Colarusso ela foi feita ao vivo por aqui.

No concerto, o maestro fez questão de deixar a sua marca registrada. Explicou minuciosamente as peças que iria executar.

Desde que chegou a Curitiba, vindo de São Paulo, 20 anos atrás, Colarusso sempre se destacou por ser extremamente didático em suas apresentações. Além de tocar um repertório mais ousado do que o da maioria dos regentes, ele parece ter a capacidade de fazer a música soar natural, ao dar à platéia uma noção do contexto histórico em que ela foi produzida. Coisa de quem há muito tempo se acostumou a dar aulas. Nas horas vagas, Colarusso é professor de História da Música, composição e análise musical.

Rogério Waldrigues Galindo

Livros por todo lado

Thiago TizzotEditor e livreiro

Tudo o que Thiago Tizzot faz tem a ver com livros. Aos 26 anos e formado em Publicidade, colocou a editora Arte & Letra – fundada pela tia Marília Pinheiro Machado – no mapa com a publicação de Curso de Quenya: a Mais Bela Língua dos Elfos (2004), de Helge Kare Fauskanger, obra inspirada no idioma criado por J. R. R. Tolkien, criador de O Senhor dos Anéis. Dois anos depois, editaria As Cartas de J. R. R. Tolkien, organizadas por Humphrey Carpenter, e viraria herói dos fãs do autor inglês no Brasil.

Semana passada, lançou Story – Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de Roteiro, de Robert McKee, amado e odiado por falar de roteiros de cinema como uma forma de ciência exata. Situado em Curitiba, Tizzot toca uma editora comentada em todo o país.

Na função de livreiro, é possível que tenha encontrado um novo formato para livrarias de rua, uma forma de elas sobreviverem às megastores. Atendendo no interior de uma cafeteria (a Lucca Cafés Especiais da Alameda Pres. Taunay), a maior qualidade da loja resulta de uma limitação.

O pouco espaço levou a uma pré-seleção das obras que colocaria à venda. Ele prioriza livros e autores difíceis de encontrar, evita títulos que se vê em toda parte e criou estantes temáticas incomuns – Crime e Jabuti (o prêmio) são algumas delas.

O primeiro e até aqui único romance de Tizzot, O Segredo da Guerra (2005), escrito sob o pseudônimo Estus Daheri, faz da fantasia uma ferramenta narrativa, enquanto muitos a consideram um gênero literário. No papel autor, diz ter idéias para amadurecer. Como editor e livreiro, já faz diferença.

Irinêo Netto

Animação paranaense

Paulo MunhozCineasta

O destaque principal do cinema paranaense neste ano vem da área da animação. O diretor Paulo Munhoz conseguiu lançar em 2006 seu primeiro desenho de longa-metragem, o simpático e divertido Brichos. O filme foi apresentado inicialmente no Anima Mundi (principal evento do gênero no Brasil e um dos mais importantes no mundo), sendo também convidado para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, numa programação destinada às crianças da capital federal, onde teve boa recepção. Brichos participou recentemente de uma mostra de animação nos cinemas de Curitiba, novamente com resposta positiva dos espectadores. Munhoz já fechou contrato de co-distribuição com a empresa gaúcha Panda, devendo lançar a animação nos cinemas em janeiro próximo, com cerca de 25 cópias.

O diretor curitibano também teve mais um trabalho importante no ano: o curta-metragem Pax foi vencedor de vários prêmios em festivais, incluindo os de melhor filme pelo voto popular das edições de São Paulo e do Rio de Janeiro do Anima Mundi.

Outro nome a ser destacado no audiovisual do estado em 2006 é o da diretora e fotógrafa Heloísa Passos, que conquistou troféus em mostras de cinema com o documentário de curta-metragem Viva Volta. Heloísa está no momento em Nova Iorque, participando da finalização do documentário Manda Bala, do norte-americano Jason Kohn, do qual foi câmera e diretora de fotografia. O filme foi selecionado para a edição 2007 do prestigiado Festival de Sundance (EUA), criado por Robert Redford.

Rudney Flores

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