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 | Fotos: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
| Foto: Fotos: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Na linha de produção de uma fábrica de carros, o processo é dividido em, basicamente, três etapas básicas: estruturação, pintura e montagem das peças. Para desfazer uma exposição de arte de grande porte, o número de passos é o mesmo, mas cada uma das fases encontra uma dificuldade ou peculiaridade. A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou a manhã de trabalho de uma equipe que retirava do Mu­­seu Oscar Niemeyer a exposição Brasiliana Itaú, que contava com cerca de 300 itens, e levou cinco dias para ser desmontada. O cuidado dos envolvidos no trabalho – cerca de seis pessoas –, também chama atenção: com aventais e luvas brancas, os especialistas mais pareciam fazer parte de um laboratório.

Além do grande número de materiais, a mostra trazia raridades, como um quadro de Jean-Baptiste Debret que retrata o casamento de Dom Pedro I com D. Amélia, e as primeiras edições de obras literárias, como Macunaíma, de Mário de Andrade, o que eleva o valor das apólices de seguro das obras. Por consequência, o orçamento da exposição também fica mais alto. "Não há como precisar o custo médio de uma exposição. Depende do que está envolvido. Às vezes, a mostra é menor, mas os pequenos detalhes de marcenaria, por exemplo, podem encarecer muito", diz a produtora do Itaú Cultural, de São Paulo, Carmen Fajardo.

Confira a seguir os detalhes do processo:

1 – Verificação de Laudo

É a parte mais trabalhosa em uma exposição. Todas as obras são acompanhadas por um laudo técnico (com data, técnica usada e dia de coleta), e que traz também as condições da obra ao chegar no museu. Depois dessa checagem, feita desde o início, na montagem, é realizada outra antes da embalagem das obras para o retorno, quando acaba a exposição. "Ele [o laudo] é uma espécie de curriculum vitae do objeto", diz a restauradora Aline Pestana. Depois do transporte (a última fase), uma nova conferência de laudo é realizada, dessa vez, por uma equipe do Itaú. O que pode ser repetitivo à primeira vista permite saber em qual das fases a obra sofreu danos (caso isso ocorra), e solicitar o seguro se o problema for grave ou não puder ser restaurado.

2 – Embalagem e Manuseio

Todas as caixas que abrigam as obras e os documentos da Brasiliana Itaú são de madeira e revestidas com glassine, uma espécie de papel de seda – foram usadas, em média, 50 caixas, sendo que todos os quadros a óleo são guardados individualmente. Os livros e documentos, por serem bastante antigos, recebem um tratamento minucioso. Todos foram retirados das vitrines pelos profissionais, que vestiam luvas descartáveis, e pequenos danos aparentes eram devidamente anotados nos laudos. "Só de um livro permanecer aberto por alguns meses a lombada pode ficar mais aberta, por exemplo. E esse problema tem de ser resolvido antes de ele ser guardado no acervo", diz a proprietária da produtora Manuseio, Cláudia Silva, cuja empresa realiza, há quatro anos, serviços terceirizados de montagem e desmontagem de mostras de arte. O professor especialista em conservação e manuseio da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) Allan Sostenis Hanke enfatiza que o mais prejudicial para as obras é o meio ambiente. "Elas não podem pegar luz do sol diretamente, e as lâmpadas dos museus devem ter um nível de raio ultravioleta controlado ou zero."

3 – Transporte

O último passo costuma ser o mais importante, já que grande parte dos danos, segundo os especialistas entrevistados, acontece no leva-e-traz dos quadros. Por conta disso, empresas que atuam especificamente na área costumam ser contratadas para o serviço. Segundo o embalador José Carlos Risi, da transportadora Alves Tegan, de São Paulo, o caminhão que transportou os materiais da Brasiliana tem aproximadamente 13 metros e é climatizado – a temperatura deve variar entre 17°C e 22°C no baú do veículo. Além disso, o caminhão conta com suspensão a ar, o que amortece os baques da viagem e evita possíveis rachaduras em quadros. Durante todo o percurso há uma escolta de veículos com seguranças particulares contratados, que acompanham a retirada das caixas para devolução ao acervo técnico, ou ao colecionador, caso a obra tenha sido cedida.

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