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O filme Nada de Novo no Front é uma das produções descritas como ofensiva aos nazistas por Ben Urwand | Reprodução
O filme Nada de Novo no Front é uma das produções descritas como ofensiva aos nazistas por Ben Urwand| Foto: Reprodução

História

A Colaboração, o Pacto entre Hollywood e o NazismoBen Urwand. Tradução de Luis Reyes Gil. Leya, 368 págs. R$ 54,90.

Opinião

Autor exagera ao associar estúdios aos nazistas

Rodolfo Stancki

Em um artigo na revista The New Yorker, o crítico de cinema David Denby questiona a legitimidade da pesquisa de Ben Urwand em seu livro A Colaboração, o Pacto Entre Hollywood e o Nazismo. De acordo com o jornalista, o autor força a barra ao tentar comprometer os estúdios norte-americanos da década de 1930 com a ascensão do poder de Hitler na Europa.

A denúncia faz sentido, uma vez que o pesquisador, acadêmico de Harvard, tenta associar a predileção do regime nazifascistas a produções com típico viés estadunidense, como A Mulher Faz o Homem (1939), de Frank Capra. De acordo com Urwand, por ceder seu salário aos camponeses, a trama sobre o parlamentar vivido por James Stewart valorizaria um espírito nacionalista útil aos alemães.

Ainda que se exceda nas argumentações, o livro não perde o mérito de discutir um período importante da história do cinema. A narrativa, que apela exageradamente nas descrições dos filmes, é cheia de documentos que comprovam outras acusações mais sérias, como a influência dos alemães no processo de edição dos longas-metragens. GGG

Por volta de 1933, o roteirista Herman J. Mankiewicz teve uma ideia para um filme inspirado no tratamento que os judeus estavam recebendo no novo governo da Alemanha, encabeçado por um sujeito chamado Adolf Hitler. O escritor, que mais tarde assinaria o texto de Cidadão Kane (1944), bolou às pressas uma trama sobre a perseguição étnico-religiosa no país europeu. O nome do longa-metragem seria The Mad Dog of Europe (O Cachorro Doido da Europa).

Nunca filmado, o projeto de Mankiewicz entrou para história de Hollywood ao ser barrado por um lobby de empresários e censores que tinham medo da repercussão que a obra teria entre o público alemão. O caso e uma dezena de outros são relatados pelo historiador australiano Ben Urwand no livro A Colaboração, o Pacto entre Hollywood e o Nazismo, lançado recentemente no Brasil pela editora Leya.

O livro joga luz nas negociações que os estúdios de cinema mantinham com o governo nazista em plena ascensão do Terceiro Reich na Europa. Ao longo das páginas, o autor mostra que os executivos de Los Angeles faziam cortes em filmes que pudessem ser desinteressantes aos nazistas, e boicotavam produções agressivas ao regime de Hitler.

O diálogo, mantido entre 1933 e 1940, tinha olho no público alemão, um dos maiores mercados internacionais para os longas-metragens norte-americanos. O próprio Führer era fã do cinema hollywoodiano, pois assistia a um título diferente por noite, e reconhecia o poder da imagem para controlar as massas. Daí, seu investimento em cineastas como Leni Riefenstahl, de O Triunfo da Vontade (1935).

Relacionamento

Para escrever o trabalho, Urwand mergulhou em arquivos norte-americanos e alemães, que revelaram uma série de cartas comprometedoras evidenciando a relação entre o nazismo e os proprietários de estúdios, alguns deles de origem judaica. Uma figura chave para manter essa colaboração era Georg Gyssling, cônsul de Hitler em Los Angeles.

Com fácil acesso entre o departamento de censura dos EUA e o gabinete dos chefes de estúdios, o alemão supervisionava de perto o corte de diversas produções que apresentavam um perigo potencial ao Reich. Seu dedo esteve na finalização de filmes como A Vida de Emile Zola (1937), Três Camaradas (1938) e O Lanceiro Espião (1937), entre outros.

Uma das acusações mais polêmicas de Urwand é a de que os estúdios MGM, Paramount e 20th-Century Fox acataram exigências dos nazistas para continuarem com seus escritórios em Berlim. Entre as demandas estavam a demissão de funcionários judeus e a promessa de não produzir obras, mesmo fora do país, que apresentassem mensagens políticas contrárias ao espírito hitlerista.

No início da década de 1940, outros estúdios começam a investir em filmes deliberadamente antinazistas, como O Grande Ditador (1940), Correspondente Estrangeiro (1940) e O Homem que Quis Matar Hitler (1941). A essa altura, a 2ª Guerra Mundial tornava a Alemanha inacessível para Hollywood.

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