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A Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu tem obras de 20 dos 55 autores que ganharam o Nobel entre 1959 e 2011: é preciso ter referência na aquisição de acervos | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
A Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu tem obras de 20 dos 55 autores que ganharam o Nobel entre 1959 e 2011: é preciso ter referência na aquisição de acervos| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Comunidade

Doações completam acervos

O acervo municipal da biblioteca de Londrina, segundo Márcia Hasuda Ono, da Coordenadoria de Bibliotecas, vem sendo renovado apenas graças às doações da população. "Nos últimos oito anos, a biblioteca não comprou nenhum livro. Mas estamos inscritos no projeto do governo federal para adquirir R$ 64 mil em títulos novos", conta. Para 2012, a atual administração previu investimento de R$ 50 mil do orçamento da Secretaria da Cultura para a compra de novos livros.

Em Ponta Grossa, de acordo com a diretora da biblioteca, Gisele Aparecida França, os livros são adquiridos levando-se em consideração também as sugestões deixadas em uma caixa instalada na entrada da unidade, porém não há orçamento específico para a aquisição de obras. Ela também lembra que, em breve, a biblioteca vai mudar de endereço. Hoje, o acervo é oferecido na sede da Estação Saudade, um antigo imóvel tombado pelo patrimônio estadual. Com a transferência para outra sede, o acervo deve ser ampliado, passando de 35 mil livros para 80 mil.

Recursos

Em Curitiba, as doações também são importantes, conforme a chefe da Divisão de Obras Gerais, Sizuko Takemiya. O acervo, que é o maior do Paraná com 600 mil exemplares, é ampliado a cada ano com cerca de 22 mil livros doados pela comunidade e por instituições. "A compra de livros é feita de acordo com a liberação de recursos financeiros, e opta-se principalmente por lançamentos e por títulos selecionados pelos setores", completa.

Já em Maringá, de acordo com a secretária de Cultura, Flor Duarte, cerca de 1,5 mil obras foram adquiridas na última compra feita pela pasta. Para este ano, já existe uma lista com mais 1,8 mil livros. A escolha das obras é feita por uma comissão que recolhe críticas literárias, analisa lançamentos e acolhe pedidos dos bibliotecários e do público. (MGS)

  • Em Ponta Grossa, atenção ao Nobel é mais forte em vencedores das cinco primeiras décadas do prêmio, que começou a ser concedido pela Academia Sueca em 1901

Ponta Grossa - As bibliotecas municipais e estaduais são essenciais nas políticas voltadas para reverter os baixos índices de leitura no Brasil. Em muitos casos, no entanto, a falta de recursos deixa o acervo desses espaços com lacunas graves. Um levantamento feito em Curitiba e nas cinco principais cidades do interior mostra que, em sua maioria, as bibliotecas têm poucos títulos de autores contemporâneos premiados com o Nobel de Literatura.

O jornalista e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) Ben-Hur Demeneck resolveu investigar a presença de escritores laureados com o prêmio da Academia Sueca em algumas importantes bibliotecas públicas do estado. Ele fez uma pesquisa levando em consideração quantos autores premiados de 1959 para cá tinham obras disponíveis nas coleções de Curitiba, Maringá, Ponta Grossa e Cascavel. A reportagem atualizou os números e incluiu as bibliotecas de Londrina e de Foz do Iguaçu, verificando que apenas nas duas maiores cidades do estado, Curitiba e Londrina, os espaços contam com mais da metade desses Nobeis no acervo de que dispõem.

Dos 55 autores premiados nos últimos 53 anos (em 1966 e 1974 houve dois ganhadores por cerimônia), 40 são encontrados na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, ou seja, uma proporção de 72,7% em relação ao total dos escritores pesquisados. Em Londrina, há obras de 31 escritores, enquanto em Maringá, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu a média fica em torno de 20. Um fato que o levantamento não levou em consideração, entretanto, é escassez na própria tradução de Nobeis mais recentes para o português no Brasil. Em alguns casos, esses autores tiveram poucos ou até nenhum livro lançado por editoras nacionais. É o caso, por exemplo, do poeta sueco Tomas Tranströmer, vencedor do ano passado, que à época da premiação tinha apenas um poema seu publicado no país, em uma antologia compilada pela Biblioteca Nacional.

Ainda assim, os números locais são baixos. A biblioteca de Ponta Grossa tem apenas 19 autores contemporâneos agraciados com o Nobel. A diretora da unidade, Gisele Aparecida França, explica que, se for considerado o total de autores premiados desde o início da premiação, em 1901, o acervo contempla 70% da história do Nobel de Literatura. Porém, para Demeneck, a presença de autores contemporâneos é fundamental. "Os escritores contemporâneos falam dos desafios da nossa época e, de alguma forma, isso é uma forma de atrair leitores", acredita.

Referência

As bibliotecas são uma fonte de referência de leitura no país. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2008, coordenada pelo Instituto Pró-Livro, em média somente 4,7 livros são lidos por habitante a cada ano. E 34% desses leitores afirmam ter como fonte o empréstimo em bibliotecas públicas. Nos espaços pesquisados no interior do Paraná, a maior proporção de empréstimos em relação ao acervo e ao número de habitantes é encontrada em Maringá. Lá, cerca de 20,8 mil empréstimos são feitos a cada mês. Na capital, a Biblioteca Pública do Paraná registra cerca de 26,4 mil empréstimos mensais.

Para o escritor e professor de Literatura na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Miguel Sanches Neto, oferecer um autor premiado pelo Nobel é o "básico do básico" das bibliotecas. "O autor Nobel é uma espécie de cânone contemporâneo. Se faltam autores premiados, imagine o que acontece com os demais autores", afirma. Ainda na opinião de Sanches Neto, a aquisição de livros para bibliotecas públicas deve seguir critérios, como por exemplo a formação de leitores. "Não é interessante que a biblioteca apenas compre os livros comerciais, como sagas e best sellers, mas forme leitores, criando novos hábitos", comenta.

Preferência do público vai para os best sellers

"O cinema influencia a leitura", diz Dalva Cemin Pimentel, funcionária da biblioteca de Foz do Iguaçu responsável pelas estatísticas, que também diz que os romances ganham a preferência dos leitores. No acervo de 46,7 mil obras, as obras mais procuradas são tanto de literatura brasileira como estrangeira, mas em especial trilogias ou livros que versam sobre a temática de vampiros – moda que ganhou força nos últimos seis anos, com a popularização da saga Crepúsculo, da autora norte-americana Stephenie Meyer. Já entre os premiados pelo Nobel, alguns dos nomes mais populares entre o público são Mario Vargas Llosa, José Saramago, Gabriel García Márquez, John Steinbeck, Pablo Neruda e Jean Paul Sartre (por curiosidade, todos esses receberam seus prêmios nos últimos 50 anos).

Entre os autores mais procurados pelos leitores de Londrina, segundo Márcia Hasuda Ono, da Coordenadoria de Bibliotecas, estão os best sellers da língua inglesa, como Sidney Sheldon e Agatha Christie. "Da literatura brasileira, procura-se bastante João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado e outros sugeridos para provas de vestibular", acrescenta.

Não devolução

Um dado que preocupa as direções das bibliotecas é a não devolução e até mesmo o furto de livros. Em Ponta Grossa, conta a diretora Gisele Aparecida França, há obras emprestadas desde 2008. No ano passado, foi concedida anistia aos devedores. "Pedimos somente que eles entregassem os livros", acrescenta.

Em Foz do Iguaçu, o problema é semelhante. Maria Helena da Silva, bibliotecária responsável, diz que só 50% dos leitores devolvem os livros emprestados, um número alarmante. Não há meios legais para recuperar as obras. "Não temos com agir", diz. Na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, a cobrança é feita através de correspondências, e-mail e telefone. "Aos usuários que não devolveram os livros há mais tempo, solicitamos que venham conversar conosco para regularizar a situação", avisa a chefe da Divisão de Obras Gerais, Sizuko Takemiya.

Colaboraram Marcus Ayres, da Gazeta Maringá; Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu; Juliana Gonçalves, do Jornal de Londrina.

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