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Clique de ouro de Peter Lik ocorreu num cânion do Arizona, sudoeste dos EUA: o lugar é esculpido por pequenos rios que existem há milhões de anos; a luz externa só passa por pequenas frestas | Peter Lik/Divulgação
Clique de ouro de Peter Lik ocorreu num cânion do Arizona, sudoeste dos EUA: o lugar é esculpido por pequenos rios que existem há milhões de anos; a luz externa só passa por pequenas frestas| Foto: Peter Lik/Divulgação

US$ 6,5 milhões cerca de R$ 17 milhões foi o valor pago por Phantom, do fotógrafo Peter Lik, a fotografia mais cara já vendida na história. Esta é a quarta obra do australiano no ranking das 20 mais valorizadas.

Cerca de R$ 17 milhões foi o valor pago por Phantom, do fotógrafo Peter Lik, a fotografia mais cara já vendida na história. Esta é a quarta obra do australiano no ranking das 20 mais valorizadas.

Ao ler a notícia de que a mais nova campeã do ranking das fotografias mais caras já vendidas foi adquirida em dezembro deste ano por US$ 6,5 milhões (mais de R$ 17 milhões), você imagina uma imagem fabulosa, incrível, diferente de qualquer coisa jamais vista. E logo se frustra ao descobrir que Phantom, do fotógrafo australiano Peter Lik, parece até um tanto banal se considerada a fortuna que custou.

Houve quem fizesse pouco caso da obra e quem reconhecesse suas qualidades, mas a foto em si diz pouco sobre o valor que atingiu no mercado, de acordo com especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Uma primeira pista para entender o caso é propagandeada pelo próprio fotógrafo: Phantom é agora a quarta obra de Lik no ranking das 20 mais caras.

"Não existe fotografo de uma foto só", diz a profissional Charly Techio, que lembra casos anteriores como as fotografias Rhein II (1999) e 99 Cent II Diptychon (2001), do alemão Andreas Gursky – respectivamente vendidas por cerca de US$4,3 e US$ 3,3 milhões. "Muitas vezes não estamos vendo a melhor foto, e sim uma parte de uma obra muito maior."

Este é o caso de Lik, conforme explica o fotógrafo Lucas Lenci, sócio da galeria Fotospot, de São Paulo. Ele conta que visitou uma das várias lojas do fotógrafo australiano nos Estados Unidos e descobriu um modelo e estrutura de negócio excepcional. "[Phantom] é bonita, tecnicamente bem tirada. Mas chegou a este valor pelo trabalho comercial que Lik tem feito", diz Lenci, que ressalta que o australiano é mais uma figura ligada ao mercado que ao mundo artístico.

Também ressaltando a importância da trajetória do artista para o valor da obra, Lenci resgata outro caso de fotografia vendida por um destes preços que avalia como casos isolados no mercado: Moonrise, Hernandez, New Mexico, de Ansel Adams (1902-1984). "Adams passou a vida inteira fotografando, transformou parques nacionais americanos em patrimônios da humanidade. Não dá para comparar. Por isso a foto vale mais de um milhão", diz.

Especulação

O fotógrafo mineiro Eustáquio Neves lembra que mesmo este prestígio que serve de lastro para os altos valores de certas obras no mercado pode ser relativizado. "Você pode criar um artista para o mercado. Não estou dizendo que o trabalho deles não é importante e não mereçam o valor a que chegaram, mas foi preciso que algum segmento do mercado tivesse interesse. Como em qualquer segmento, criam-se tendências e nichos, diz.

As práticas de especulação no mercado de arte, para o artista plástico Cleverson Oliveira, são rodeadas por denúncias de manipulações e até de crimes como lavagem de dinheiro. "É um fenômeno que diz muito sobre as casas de leilão, que funcionam como outras instituições financeiras em outros sistemas de especulação", compara, ressaltando a peculiaridade das obras de arte, que podem virtualmente chegar a qualquer valor.

Mercado

Certificação e ordem das cópias influenciam preço

Se a reprodução é uma das características que definem a própria técnica fotográfica, o que um colecionador adquire quando compra uma foto? O impressor Alberto Dy, dono da Aphoto Impressão Fine Art, explica que, para início de conversa, a cópia precisa atender a padrões técnicos que garantam sua durabilidade. "São impressões certificadas para durar mais de 150 anos", explica. O que varia é o número de cópias – um dos fatores que define o preço das obras. "Há tiragens de 1 a 1 milhão", diz.

A ordem das cópias também influencia no preço, em um sistema inspirado pelo uso das gravuras, cujas matrizes se desgastam com o tempo.

Lucas Lenci, da paulistana Fotospot, explica que as fotografias são vendidas com um certificado que garante a galeria não vai fazer cópias além do número especificado pela tiragem inicial. "Isso valoriza a obra. Quanto mais rara, mais cara. E quanto mais próximo do fim da tiragem, mais caro também – a terceira de três cópias vale mais, porque ao comprá-la você está tirando a obra do mercado", explica.

Alberto Dy conta que sua empresa de impressão fine art atende dois tipos de mercado de arte – decoração e coleção. São mercados que se misturam, no entanto. "Tem muita gente que compra fotografias de arte via arquitetos para colocar em suas casas. Isso cria, inclusive, um grande mercado. Porque em Curitiba não estamos acostumados a ter obras de arte em casa", avalia. E ele ressalta: valores exorbitantes como os milhões pagos pela fotografia de Peter Lik não contribuem em nada com o mercado de arte, que espera ver continuando a crescer por aqui. "O mercado tem que investir no valor médio, de R$ 1 mil a 20 mil", opina. "Não adianta botar a preço de banana, porque as pessoas precisam valorizar e pagar o valor real do que estão comprando. Mas estes preços na estratosfera não existem, são só armação."

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