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Era miúdo e magrinho. Desconfiando e tímido.

– Deseja alguma coisa? – perguntou o funcionário.

O homem olhou assustado para ele, como se não entendesse a pergunta.

– Não, não... quer dizer... Eu queria uma informação.

– Pois não.

– Aquela voz na saída do estacionamento do shopping...

– Voz?

– A gravação. "Volte sempre" – o homem se emocionou ao dizer a frase.

– Ah, sei.

– Ela está? Quer dizer... ela trabalha aqui?

O rapaz sorriu:

– Não, senhor – e atendeu uma mulher que lhe estendeu um cartão de estacionamento.

Quando ficaram a sós, o homem retomou:

– Sabe onde... ela trabalha?

– Nem sei quem ela é, senhor.

O homem pareceu decepcionado.

– O jovem me desculpe, mas... é uma voz tão... tão...

O jovem precisou atender outro cliente.

– ...tão quente, disse afinal o homem.

– É, fez o jovem. Muito quente.

– Uma voz belíssima, enfatizou o homem.

Os dois ficaram se olhando até que alguém perguntou:

– Pode cobrar meu estacionamento?

O jovem despertou. Cobrou o estacionamento e disse para o homem:

– Mas o que o senhor quer?

– Falar com ela.

O jovem riu.

– Não ria, pediu o homem. É sério. Essa voz... você pode me ajudar?

O rapaz disse, penalizado:

– Vou tentar.

– Obrigado. Eu volto amanhã.

No dia seguinte, na mesma hora, lá estava ele:

– Conseguiu?

O rapaz, entre um atendimento e outro, passou ao homem um papelzinho. Disse:

– É da empresa que fez a instalação. O senhor veja.

O homem agradeceu emocionado e saiu com os olhos fixos no papelzinho. Achou a empresa, depois a agência, depois o contato com a mulher que tinha aquela voz.

– Queria falar com ela, pediu.

O sujeito careca e de óculos, o agente da voz, disse que qualquer contato só seria feito através da agência. Endereço, jamais. Foi quando o homem explicou:

– É que eu estou apaixonado. Preciso falar com ela.

– Apaixonado? – o careca sorriu – Sinto muito, senhor. A voz é belíssima, mas ela é casada. E tem uns dez anos mais do que o senhor.

O homem demorou a se recuperar. Foi até a porta, voltou:

– Será que ela faria uma gravação?

– Se fizermos um contrato... insinuou o careca.

– Pago o que pedir.

– E o que o senhor deseja?

– Quero que ela grave o seguinte, com aquela voz quente: "Volte sempre, Ademar." – Ademar sou eu, disse, apontando o próprio peito – Quero ouvir antes de dormir. "Volte sempre, Ademar".

– Só isso?

– Já é alguma coisa – o homem, tímido e infeliz, baixou os olhos – Nunca me pedem para voltar, explicou. Muito menos que volte sempre – e, após assinar o contrato, arrematou: Isso vai me fazer um grande bem, o senhor pode acreditar.

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