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Organizar um acervo de 300 discos importantes da gigantesca produção de música popular no Brasil em quase oito décadas não é tarefa das mais fáceis. Mesmo para o músico, pesquisador e produtor Charles Gavin, que, além de ser baterista dos Titãs, tem feito há cerca de dez anos um precioso trabalho de recuperação de álbuns antológicos, abandonados nos acervos das gravadoras.

Vários desses títulos que ele trouxe de volta à cena - como as maravilhas do selo Elenco - estão no livro 300 "Discos Importantes da Música Brasileira" (Editora Paz e Terra, 434 pgs., R$ 230). Acompanham o volume - em forma de LP e luxuosamente ilustrado com todas as capas dos discos - os CDs "O Último Malandro", de Moreira da Silva, e Elza Soares/Baterista Wilson das Neves.

Gavin realizou o projeto em parceria com os jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, que assinam os textos sobre os discos selecionados. Os quatro participam de um debate sobre recuperação e preservação da memória musical brasileira no lançamento do livro quinta-feira (30) na Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073, 3170- 4033).

A seleção privilegia álbuns originais, mas há compilações e caixas de artistas da era pré-LP, como Luiz Gonzaga, Jacob do Bandolim, Silvio Caldas, Orlando Silva, Noel Rosa, Carmen Miranda.

"No caso de Luiz Gonzaga, por exemplo, as gravações mais representativas de sua obra foram feitas quando não existia o conceito de álbum", diz Gavin.

O produtor, que também assinou o vistoso projeto "Bossa Nova e Outras Bossas: Design e Arte das Capas dos LPs", editado em 2005, vem desde então trabalhando na realização deste que pretende ser "um painel da música brasileira desde que começou a ser gravada". Por que 300? "Tudo na vida tem um limite. Achei que 300 era um número razoável para montar um painel, 100 é pouco, 200 é insuficiente. Foi na intuição", conta.

Títulos evidentes, indispensáveis em qualquer discoteca básica - como "Tropicália", "Clube da Esquina", "Acabou Chorare" (Novos Baianos), "Chega de Saudade" (João Gilberto), "Construção" (Chico Buarque), "Elis & Tom", "Jovem Guarda" (Roberto Carlos)," Os Afro-Sambas" (Baden Powell e Vinicius de Moraes - estão lá. Mas o leitor também toma contato com raridades como "Samba da Bahia" (reunindo Riachão, Batatinha e Panela), "Vida Noturna nº 1" (Caco Velho , seu conjunto e Hervê Cordovil), "A Volta" (Ed Lincoln).

Obviamente muita coisa boa ficou de fora, por isso mesmo Gavin evitou a expressão "os mais importantes", mas apenas importantes. Até porque é difícil escolher dois ou três dentre os fabulosos álbuns de Baden Powell, Tom Jobim, Dorival Caymmi e João Gilberto. Ou de Gal Costa, Gilberto Gil, Alceu Valença, Chico Buarque e Jorge Ben dos anos 1970, a década com maior número de títulos no livro: 104. Em seguida figuram os anos 60, com 77 títulos. A parte da fraca década de 80 ficou com 47 discos, 6 a mais que o período de 1990 a 2007.

É contestável, por exemplo a presença de "O Concreto Já Rachou" (Plebe Rude), "Brasileira ao Vivo" (Margareth Menezes) e o Ney Matogrosso de 1981. Por que "Adriana Partimpim" e não "Saltimbancos" ou "Palavra Cantada"? Por que a música eletrônica ficou de fora? "O de Max de Castro de certa maneira representa a música eletrônica", diz Gavin, que admite que "São Paulo Confessions", de Suba, merecia ter entrado como representante dessa categoria. Tudo de bom que não entrou daria mais do que um segundo volume, o que é possível de acontecer. O que importa agora, como diz Gavin, é ter aberto a discussão e ver aonde isso vai dar. Este já foi um primeiro grande passo.

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