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Orlando Dasilva prefere não ser chamado de "senhor". "Ainda não cheguei lá", disse, ontem, em conversa rápida e bem-humorada com a reportagem do Caderno G, por telefone. O artista português radicado em Curitiba não tem uma linha telefônica em casa, mas retorna ligações quando é necessário. Para o jornal, conta humildemente que sua nova exposição de aquarelas, Anéis do Tempo, abre amanhã, às 11 horas, na Galeria Solar do Rosário, na capital paranaense. Tratam-se de cerca de 50 aquarelas realizadas no decorrer de 2005.

Dasilva chegou à casa dos 80 anos com uma trajetória admirável, sustentada por, como ele chegou a descrever em seus textos, uma "anarquia de conhecimentos" que decorre de um misto de solidão, autoconhecimento e honestidade rigorosa. "Só, quanto mais terrivelmente só, mais amplos serão os seus horizontes", escreveu em seu depoimento no livro Orlando Dasilva – Percurso e Confissões. A franqueza incondicional consigo e com os outros pode ser dolorosa, levar à marginalização e render a pecha de difícil.

O artista já foi chamado de maior mestre vivo da gravura no Brasil. Também é pintor, desenhista, poeta, pesquisador, escritor e crítico, mas nunca buscou a especialização nem a classificação. "Não se chega à arte com diploma de especialização, aliás, com nenhum rótulo. A classificação mata a criatividade. Os ‘conhecedores’ pedem ao artista plástico que seja o desenhista, o escritor, o pintor, enfim um técnico especialista, mas, para o artis-ta, a técnica só serve para trabalhar o sentimento. A arte exige do artista a sua participação em todos os níveis da vida e, para se comunicar, que traduza esse convívio em sentimentos de simpatia com o ser humano", escreveu Dasilva. Também dele são alguns dos textos mais valiosos escritos sobre a gravura do Paraná, notadamente dois volumes publicados sobre Guido Viaro e um sobre Poty Lazarotto. Seu papel também foi central na criação do Museu da Gravura de Curitiba.

O texto de apresentação da mostra que inaugura amanhã é assinado pela crítica e professora de História da Arte e Estética Maria Cecília Araújo de Noronha. "Trata-se de uma mostra didática, que deve ser vista por qualquer pessoa interessada em aquarela. São trabalhos de técnica muito apurada que tratam de dois temas queridos a Dasilva, as mulheres e os animais. A idéia é mostrar que o artista não é apenas mestre na gravura, mas também na aquarela", explica Noronha.

A estudiosa afirma que Dasilva pinta com igual destreza expressionista as mulheres e os animais, "sobre fundos trabalhados em transparências, esboçados ou divididos coloristicamente por pinceladas, da mesma forma que realiza laboriosos desenhos em grafismos com amplas gamas tonais, ou faz traços sintéticos reduzindo as figuras a seus contornos".

Serviço: Orlando Dasilva – Anéis do Tempo Solar do Rosário (R. Duque de Caxias, 4), (41) 3225-6232. Inauguração amanhã, às 11 horas. Visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 20 horas; sábados, domingos e feriados, das 10h30 às 13h30. Até 8 de outubro.

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