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A jornalista Dinah Pinheiro Ribas e sua personagem, a artista Efigênia Rolim | Michelle Czaikoski / Divulgação
A jornalista Dinah Pinheiro Ribas e sua personagem, a artista Efigênia Rolim| Foto: Michelle Czaikoski / Divulgação

Livro

A Viagem de Efigênia Rolim nas Asas do Peixe Voador

Dinah Pinheiro Ribas. R$ 60. Arte.

A cena é digna de uma história saída das páginas de uma obra do realismo fantástico. No início dos anos 1990, Efigênia Rolim andava pela Rua XV de Novembro, quando perto do bondinho, foi surpreendida por uma lufada de vento, acompanhada por um redemoinho, que jogou aos seus pés papéis de bala lançados à calçada. De um deles, verde, reluzente, que ela achou parecido com uma pedra preciosa, ela fez uma flor – ou teria sido um passarinho?

A velha senhora, então com um pouco mais de 60 anos, gostou tanto da sensação de transformar os invólucros em figuras que nasciam de sua imaginação, que logo procurou um suporte para suas criações, e o encontrou em uma sandália havaiana, também largada na rua. Nesse suporte de borracha criou sua primeira árvore de sonhos, feitos a partir de material reciclável, e ali nascia, como ela mesma gosta de contar, "a rainha do papel de bala pé de chinelo", que ganharia o mundo com suas criações e sua personalidade singular.

Essa história, uma entre tantas que se entrelaçam na verdadeira epopeia que tem sido a vida da artista, hoje com 81 anos, antecede o momento de seu encontro com a jornalista Dinah Pinheiro Ribas, que acaba de lançar o livro A Viagem de Efigênia Rolim nas Asas do Peixe Voador , caprichada obra definida pela autora como "uma grande reportagem ilustrada", que busca dar conta da trajetória pessoal e dos tortuosos caminhos percorridos pela arte desafiadora de uma criadora ao mesmo tempo ingênua e genial.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Dinah lembra que conheceu Efigênia pouco tempo depois do espisódio do redemoinho nas proximidades da Boca Maldita. "Eu era assessora de imprensa da Fundação Cultural de Curitiba em 1993, e um dia ela foi falar comigo na nossa sede [então instalada no Setor Histórico, em frente ao Largo do Rosário], e perguntou se eu poderia ajudá-la a fazer uma exposição. Fiquei encantada com a beleza ao mesmo tempo simples e mágica do que ela fazia."

Pouco depois desse encontro, do qual brotaria uma forte amizade, Efigênia teria a primeira oportunidade de mostrar ao grande público o seu trabalho, na chamada Sala de Pedra do Palácio Garibaldi, que abrigava à época a sede da FCC, espaço então utilizado para exposições de arte popular. A mostra era composta de uma grande árvore, na qual as diversas figuras confeccionadas por Efigênia com papel de bala, eram dependuradas. "Foi um sucesso enorme", conta Dinah.

Nesses quase 20 anos que separam o encontro entre a jornalista, e agora sua "biógrafa", e a artista, Efigênia se transformou em uma referência no universo da arte popular no Brasil – e isso é contado, em detalhes, pelo livro.

A Viagem de Efigênia Rolim nas Asas do Peixe Voador foi lançado em 8 de dezembro, no Museu Oscar Niemeyer. A obra, financiada por meio da Lei do Mecenato, dispositivo municipal de incentivo à cultura, pretende não apenas resgatar a história da artista, mas eternizar o que ela cria, que flerta com o efêmero devido ao tipo de material reciclável que ela utiliza.

Naquele sábado, assim como no dia do redemoinho de papéis de bala, há quase duas décadas, a natureza se fez presente: um vendaval se abateu sobre a cidade, sobretudo na região onde o MON está instalado, no Centro Cívico, ao ponto de uma árvore (mais uma entre tantas na vida da artista) cair sobre um carro no estacionamento da instituição. Detalhe: Efigênia naceu em 21 de setembro, Dia da Árvore.

Os fortes ventos trouxeram também um importante reconhecimento, mais um entre tantos, ao trabalho de Efigênia: a diretora do MON, Estela "Teca" Sandrini, manifestou o desejo de comprar uma das obras da artista. A escolhida foi, justamente, a "Rainha do Planeta", manequim que porta um dos mirabolantes trajes criados por Efigênia para si mesma – e uma espécie de amuleto que ela sempre carregou e nunca pensou em vender.

A partir de 2013, a instalação reinará, soberana, na mostra permanente PR/BR – Produção da Imagem Simbólica do Paraná na Cultura Visual Brasileira, que tem curadoria de Maria José Justino e faz um panorama da produção artística do estado. Essa coroação já estava escrita nos búzios, pelo jeito.

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