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Uma versão de Diana Krall para "Insensatez", de Tom Jobim, bastaria para justificar a existência de From This Moment On, novo disco da cantora e pianista canadense. Em inglês, claro, fica "How Insensitive". Espécie de heroína do jazz – seus discos sempre colocam o gênero entre os mais vendidos –, ela é acompanhada pela orquestra Clayton-Hamilton, liderada pelos músicos Jeff Hamilton (bateria), Jeff Clayton (saxofone) e John Clayton (baixo). Os dois últimos são irmãos e o segundo tomou aulas com Count Basie.

O novo disco de Diana não traz nenhuma novidade – o que não é, necessariamente, uma crítica negativa. Ela resolveu sentar e dedilhar alguns standards do jazz, acompanhada dos melhores músicos que o dinheiro pode comprar (já que isso não é um problema para ela). Pode ser uma forma de vender mais alguns milhares de discos – embora o novo não deva superar o sucesso de Christmas Songs, lançado no Natal passado para se tornar um dos títulos mais vendidos de 2005. Diana Krall, uma das melhores artistas que o rótulo "jazz" tem a oferecer, faz por merecer cada fragmento de atenção que recebe da mídia e do público.

A música que se ouve em From This Moment On é tão boa que parece espontânea e não resultado do trabalho de profissionais aplicados. É como se "Little Blue Girl", talvez a melhor faixa do álbum, fosse sempre assim, sussurrada com delicadeza pela voz grave de Diana: "Apenas sente ali e conte as gotas de chuva/ Caindo sobre você/ É hora, você sabia/ Tudo o que você pode contar/ São as gotas de chuva/ Que caem na garotinha triste".

Quando se apresentou em Curitiba, ela mostrou que não é mesmo uma boa improvisadora, embora seja ótima pianista. Mas, em From This Moment On, é o dote vocal que aparece melhor – além de ser uma qualidade muito mais vendável na indústria fonográfica, tanto que se criou, nos EUA, o gênero "vocal jazz". Essa parece ser a sina de pianistas duplamente talentosos. Antes de Diana, Nat King Cole e Nina Simone viram o rótulo de cantor(a) ofuscar o de pianista.

From This Moment On tem seus momentos mais inspirados quando a orquestra se mantém coadjuvante. Em "It Could Happen to You", por exemplo, os metais berram tanto que fazem lembrar dos jantares-shows que Frank Sinatra fez em Las Vegas. A faixa-título oferece um meio-termo animado e é pontuada pela guitarra de Anthony Wilson (que teve o público curitibano na mão), algo no mínimo inusitado em meio aos trompetes, clarinetes e saxofones.

Diana tem um quê para baladas sem igual. "I Was Doing Alright", uma das obras-primas de George Gershwin, ganha uma interpretação bem-humorada, cantando "Eu estava bem/ Nada além de arco-íris no meu céu/ Eu estava bem até você aparecer" no tom de quem lança uma provocação carinhosa. Pode-se imaginar os músicos da orquestra sorrindo uns para os outros. Depois da euforia de "Come Dance with Me", apresentada por um vibrafone mais que simpático, o disco termina com duas baladas, sentimento que, enfim, predomina nas gravações.

"It Was a Beautiful Day in August/You Can Depend Me" tem um clima de fim de noite, mas sem a melancolia que a expressão pode sugerir. Ao contrário de "The Boulevard of Broken Dreams", derradeira, dolorida e triste. GGGG

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