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É matemática. Duas mil, trezentas e dez obras lançadas ano passado concorreram às 17 categorias do 47.º Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil. Dá 192 livros lançados por mês – sem contar aqueles (muitos) que não se inscreveram ao prêmio. É impossível uma livraria dedicar espaços iguais a todos eles – isso nem faz sentido. Funciona como um funil. As editoras lançam tantos livros, metade deles é efetivamente distribuída às livrarias, um quarto ocupa as prateleiras – onde se lê somente as lombadas de cada edição –, um oitavo ganha o privilégio de ter sua capa exposta, um dezesseis avos tem a honra de figurar em expositores exclusivos e poucos – pouquíssimos – atingem o paraíso editorial: sair na imprensa.

No jornalismo, a regra é subjetiva, porém clara: é preciso escolher obras que sejam notícia. O novo livro de Paulo Coelho – não importa o que digam – é notícia. O enésimo lançamento sobre como emagrecer comendo, muito provavelmente, não é. Já a lógica das livrarias parece mais obscura. Ao consultar três lojas referenciais – Livrarias Curitiba, Fnac e Livraria do Chain –, se percebe que cada uma tem regras próprias.

Há escritores que preferem uma boa exposição nas lojas a uma resenha na mídia, mas o que funciona à perfeição é a combinação dos dois. "É como um lembrete. Se as pessoas vêem o livro na vitrine e podem associar a um conhecimento anterior – a matéria que leu no jornal, por exemplo –, ela entra e compra. Quem manda na vitrine é a imprensa", explica Marcos Pedri, diretor comercial das Livrarias Curitiba. Para ele, a vitrine sozinha não tem poder de venda.

Luiz Apolônio, responsável pelo setor de livros da Fnac, diz que não recebe qualquer tipo de influência externa. As mordomias são reservadas aos livros que fazem parte da agenda cultural da loja – quando um autor se dispõe fazer uma sessão de autógrafos ou participar de um fórum, ganha espaço. O mesmo acontece nas Livrarias Curitiba.

A Fnac não dá a mínima para as listas de mais vendidos publicadas em jornais do Brasil todo. Ela trabalha com o seu ranking – o da Fnac Curitiba. Não são consideradas as vendas de outras unidades da rede. "Dessa forma, temos uma lista de mais vendidos voltada ao público local", diz Apolônio. Há ainda os planos de ação criados pelo departamento de marketing, que promovem livros de gêneros específicos – neste mês, são os de ciências humanas.

Aramis Chain, proprietário da livraria que leva seu nome, também defende a independência da mídia, com a diferença que a sua loja é influenciada por professores e estudantes da Universidade Federal do Paraná. "Minha vitrine é de livros acadêmicos", diz. Embora disponha de best sellers como O Código Da Vinci, os expositores da Chain são dominados por obras referenciais como Os Lusíadas e Raízes do Brasil.

"Existem editoras desesperadas, que oferecem margens de lucro maiores, pagam o frete e mandam os livros em consignação. Eu não aceito, mando o depósito devolver tudo porque sei que não vai vender", afirma Chain. Do lado oposto, as redes de livrarias são mais sensíveis às ofertas das editoras – outra forma de ter um livro em destaque.

O que as três livrarias têm em comum – e não poderia ser diferente – é a influência que sofrem dos clientes. O que não tem procura, não pode ser mantido na loja. Diferente das bibliotecas, o espaço das lojas não é democrático e sim ditado por leis de mercado. A pedido do Caderno G, Pedri fez o cálculo aproximado de quanto custa para a Livrarias Curitiba um exemplar de livro parado na prateleira por 30 dias: R$ 3,30. Posto assim, parece pouco – mas não para um acervo com 8 mil unidades. A Fnac trabalha com faixas de depreciação – a partir do terceiro mês sem vender, um livro passa a onerar o proprietário. Chain, que diz ter algo perto de um milhão de livros em acervo – contando o estoque de seu depósito –, quer acabar com os "livros parados". Aquilo que não interessa ao seu público, não tem lugar na loja. Nada mais lógico.

Os eleitos

Fnac e Livrarias Curitiba fazem levantamentos semanais para saber quais são os livros mais vendidos em suas lojas. As listas nem sempre seguem as tendências nacionais – mostram um retrato do gosto local – e cada uma delas adota critérios distintos na hora de definir o que é "ficção" e "não-ficção" (daí um título aparecer classificado das duas formas).

Ficção

Livrarias Curitiba

1. O Código Da Vinci, Dan Brown (Sextante)

2. Fortaleza Digital, Dan Brown (Sextante)

3. Memórias de Minhas Putas Tristes, Gabriel García Márquez (Record)

4. Anjos e Demônios, Dan Brown (Sextante)

5. As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, Mitch Albon (Sextante)

6. Casório, Marian Keyes (Bertrand)

7. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, Jô Soares (Companhia das Letras)

8. O Enigma do Quatro, Ian Caldwell (Planeta)

9. Quando Nietzsche Chorou, Irvin D. Yalom (Ediouro)

10. O Código Da Vinci – Edição Especial Ilustrada, Dan Brown (Sextante)

Fnac

1. Memórias de Minhas Putas Tristes, Gabriel García Márquez (Record)

2. Fortaleza Digital, Dan Brown (Sextante)

3. Anjos e Demônios, Dan Brown (Sextante)

4. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, Jô Soares (Companhia das Letras)

5. O Código Da Vinci, Dan Brown (Sextante)

6. O Enigma do Quatro, Ian Caldwell (Planeta)

7. O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams (Sextante)

8. O Jardim do Diabo, Luis Fernando Verissimo (Objetiva)

9. Sin City – O Assassino Amarelo, Frank Miller (Devir)

10. O Código Da Vinci – Edição Especial Ilustrada, Dan Brown (Sextante)

Não-ficção

Livrarias Curitiba

1. Me Leva Brasil, Maurício Kubrusly (Globo)

2. Dossiê Brasília, Geneton Moraes Neto (Globo)

3. 102 Minutos, Jim Dwyer (Jorge Zahar)

4. Amor É Prosa, Sexo É Poesia, Arnaldo Jabor (Objetiva)

5. Perdas e Ganhos, Lya Luft (Record)

6. Colapso, Jared Diamond (Record)

7. Você e Seu Sangue, Heloísa L. Bernardes (HLB)

8. Almanaque Anos 80, Luiz André Alzer (Ediouro)

9. O Melhor das Comédias da Vida Privada, Luis Fernando Verissimo (Objetiva)

10. O Chef Sem Mistérios, Jamie Oliver (Globo)

Fnac

1. O Monge e o Executivo – Uma História sobre a Essência da Liderança, James C. Hunter (Sextante)

2. A Arte da Guerra – Por uma Estratégia Perfeita, Sun Tzu (Madras)

3. Freakonomics, Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner (Campus)

4. Harry Potter and the Half-blood Prince, J. K. Rowling (Bloomsbury)

5. Jesus, o Maior Psicólogo que Já Existiu, Mark Baker (Sextante)

6. O Chef sem Mistérios, Jamie Oliver (Globo)

7. Toda Mudança Começa em Você, Reinhard J. Sprenger (Fundamento)

8. As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, Mitch Albon (Sextante)

9. As Mulheres Francesas Não Engordam, Mireille Guiliano (Campus)

10. Deltora Quest – As Florestas do Silêncio, Emily Rodda (Fundamento)

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