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Curta-metragem premiado é uma espécie de diálogo-homenagem com a obra do fotógrafo que retratou Londrina em mais de 20 mil imagens | Divulgação/ Carlos Ebert
Curta-metragem premiado é uma espécie de diálogo-homenagem com a obra do fotógrafo que retratou Londrina em mais de 20 mil imagens| Foto: Divulgação/ Carlos Ebert

Opinião

Contradições cinematográficas

Luís Lima, leitor da Gazeta do Povo selecionado para participar do Júri Popular do 38º Festival de Cinema de Gramado

Nove dias de festival e 28 filmes. O cardápio cinematográfico avaliado pelo júri popular, formado por 11 cinéfilos de todo o Brasil, foi composto por 16 curtas-metragens de altíssimo nível. Essa categoria, consequentemente, foi a que mais gerou polêmica entre o júri popular, que concedeu ao brasiliense Ratão, de Santiago Dellape, o prêmio de melhor filme.

A seleção estrangeira contou com dez representantes de oito países e conferiu à mostra de longas internacionais, grande riqueza em termos de diversidade da cultura cinematográfica. Nessa categoria, júri oficial e popular coincidiram: Mi vida con Carlos, do chileno German Berger, foi o preferido de ambos. E se não fosse o prêmio do júri popular para 180º, a ficção do carioca Eduardo Vaisman voltaria pra casa sem nada. Bróder, o principal vencedor da noite, não foi, em nossa opinião, o filme mais interessante. Contradições cinematográficas que devem ser levadas em conta.

O documentário Contestado – Restos Mortais, de Sylvio Back, que viveu por três décadas em Curitiba, foi elogiado pela crítica, mas não foi lembrado na noite de premiação do 38.º Festival de Cinema de Gramado, realizada no último sábado.

Apesar disso, o Paraná saiu carregado de troféus, em boa parte graças ao curta londrinense Haruo Ohara, de Rodrigo Grota, que retrata em belíssimas imagens em preto e branco flagrantes do cotidiano do fotógrafo nipo-brasileiro Haruo Ohara, que viveu em Londrina entre 1933 e 1999.

Só de Kikitos, foram três: melhor filme, dividido com o singelo curta baiano Carreto, de Marília Hughes e Cláudio Marques; melhor direção e melhor fotografia. Levou ainda os prêmios Aquisição do Canal Brasil e Cidade de Gramado de melhor filme.

Uma realização do núcleo de cinema Kinoarte, com patrocínio do Ministério da Cultura, Haruo Ohara foi tão premiado em Gramado quanto foram os demais filmes que compõem a Trilogia do Esquecimento, que inclui ainda Satori Uso (2007), sobre um poeta japonês (que nunca existiu), e Booker Pittmann (2008), sobre o jazzista norte-americano que passou uma temporada obscura na Londrina dos anos 50. "São filmes de ficção, mas foram construídos com abordagem totalmente documental. Isso causa uma confusão saudável no público", diz Grota, que desde a semana passada frequenta Curitiba a cada duas semanas para dar aulas de Direção na Escola de Cinema da CineTVPR/FAP.

A "confusão" talvez ocorra porque os três filmes tiveram como inspiração as imagens de uma Londrina mitológica feitas pelo pioneiro Haruo Ohara e reelaboradas pelo experiente diretor de fotografia Carlos Ebert (O Bandido da Luz Vermelha). O cineasta, que se diz um apaixonado pela bruma densa, o céu visto em 360º e a terra vermelha de Londrina, também fotografou o longa curitibano em fase de finalização Circular, dos diretores Alysson Muritiba, Adriano Esturilho, Bruno de Oliveira, Fábio Allon e Diego Florentino.

Diante do desafio de retratar a vida absolutamente pacata deste agricultor e fotógrafo, Grota optou por uma abordagem poética e subjetiva. O espectador vê as cenas do cotidiano familiar de Haruo, como a de crianças brincando ou comendo, sob a ótica da criação do próprio fotógrafo.

A Trilogia do Esquecimento será reunida em DVD, com previsão de lan­­­­çamento em dezembro, contendo os três filmes, making of e ce­­­nas cortadas. Com patrocínio da pre­­­­feitura de Londrina, terá distribuição gratuita em cineclubes e ins­­­­tituições culturais e educacionais.

A atriz curitibana Simone Spoladore, presente em três longa-metragens exibidos nesta edição do Festival de Gramado, foi eleita melhor atriz pelo júri oficial por sua atuação no longa Não Se Pode Viver sem Amor, do chileno radicado no Rio de Janeiro Jorge Durán.

Ela dá delicadeza à Roseli, uma jovem do interior que viaja para o Rio de Janeiro à procura de um homem que a abandonou e ao filho dele, Gabriel (Victor Navega Mota). Simone também aparece na comédia Elvis & Madona, do ca­­­­rioca Marcelo Laffitte, exibido na destacada Mostra Panorâmica, e nas encenações do documentário O Último Romance de Balzac, de Geraldo Sarno (ven­­­­­cedor dos prêmios de melhor direção de arte e prêmio especial do júri).

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