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Nina Pandolfo no ateliê que montou há dois anos: antes, sala da sua casa servia como local de produção | Divulgação
Nina Pandolfo no ateliê que montou há dois anos: antes, sala da sua casa servia como local de produção| Foto: Divulgação
  • Um dos muros que a artista pintou, em Atenas. Ao lado, uma de suas telas: trânsito constante entre street art e os meios convencionais
  • Livro com a obra de Nina foi lançado neste mês, pela editora Master Books

Mesmo quando pega um trânsito assombroso em São Paulo e tem vontade de proferir os palavrões mais cabeludos para fazer a raiva passar, a artista plástica Nina Pandolfo não consegue: o máximo que seus xingamentos atingem é um "feião" ou "bobão". Seu jeito delicado e feminino não se restringe apenas ao cotidiano, mas fica aparente em suas obras, que trazem meninas de olhos expressivos, sempre dentro de um universo lúdico, muito ligado à sua memória infantil.

Seria quase convencional que uma garota pintasse gatos e flores coloridas. Porém, a maioria desses desenhos está também em grandes muros, dentro do universo extremamente masculino do grafite: ela é uma das artistas brasileiras mais reconhecidas dentro da street art e já pintou diversas paredes e fachadas na Alemanha, França e Grécia, além dos elaborados desenhos que fez no Castelo Kelburn, em Glasgow, na Escócia, em 2007. Versátil, transita também pelos suportes convencionas e já expôs em galerias do mundo todo. A primeira foi em 2002, onde participou com alguns quadros da coletiva I Don’t Know, na Die Farberie, em Munique.

Aos 34 anos, a artista, que desenha as formas angelicais desde que começou a enveredar pelo mundo da arte, e, no início, sofreu preconceito por levar traços delicados para as ruas, diz ter alcançado neste mês um dos pontos mais significativos de sua carreira, que já tem mais de 15 anos: lançou o livro Nina (Master Books). A obra é uma retrospectiva de sua carreira em imagens, e traz textos dos curadores Steves Lazarides e Marsea Goldberg e do jornalista Mario Gioia.

Tudo aconteceu por acaso. Um dia, conversando com amigos e folheando vistosos livros de arte, Nina mencionou como seria bom ter um só seu. Passou pouco tempo até ela encontrar, em uma feira de arte, a apresentadora Eliana, colecionadora e dona da editora pela qual a artista lançou a obra. "Ela tem alguns trabalhos meus e começamos a conversar. Foi aí que ela disse que ia amar ver um livro meu publicado. Fizemos algumas reuniões e comecei a planejar tudo como eu queria. Só agradeço a Deus por coisas tão boas terem acontecido comigo".

Trajetória

Nina diz isso porque nunca planejou nem planeja o futuro, para evitar frustrações. Tampouco mergulhou nos estudos. Pelo contrário. Fugia das salas de aulas e aprendeu a pintar sozinha.

Voltemos ao ano de 1992. Aos 16 anos, ela decidiu fazer o ensino médio (então segundo grau) técnico em Comunicação Visual no Colégio Carlos de Campos, Zona Norte de São Paulo, bairro onde chegou com a família aos seis meses de idade. Antes mesmo de começar a aprender técnicas na teoria, ou, como ela prefere dizer, "estar mais com corpo presente do que qualquer coisa", ela já tinha começado a pintar.

Ao aprender os números, por exemplo, Nina costumava desenhá-los: o 1 virava uma flor, o 8, um homem gordinho, e o 2, um pato. Um pouco mais crescida, começou a demonstrar sua aptidão para a arte e começou a pintar telas em casa, em paralelo com as aulas de teatro de rua. Foi onde viu o grafite pela primeira vez. "Ninguém além da minha família sabia que eu pintava. Ao ver a arte em muros, pensei que poderia fazer algo para um monte de gente ver."

Mestre

Até então, tinha exposto alguns quadros em mostras semanais de arte que o colégio promovia. Foi em uma dessas ocasiões que conheceu seu mentor, e hoje marido, Otávio Pandolfo (da dupla de street artists Os Gêmeos). "Eu estava pintando numa sala e o Otávio veio me pedir a escada emprestada. Logo a gente não saiu mais do lado um do outro, e começamos a namorar."

Acompanhando Otávio nas grafitagens, Nina criou coragem para pegar as latas de tinta. "E aí ferrou, né? Os dois gostavam de pintar e virou um bicho só. Ele me mostrou muita coisa do grafite, o primeiro livro sobre o assunto eu ganhei dele. Até hoje, é um grande professor, um exemplo para mim, e me ajudou a chegar a muitos lugares." Um deles foi a pintura em Glasgow, que fez junto com a dupla. Quando se conheceram, Nina tinha 15 anos, Otávio, 18. E lá se vão quase duas décadas juntos, uma delas casados. "Ou seja, logo vamos fazer bodas de alguma coisa", brinca Nina.

Juntando a evolução quase simultânea da carreira do casal, o livro, galeria de arte e ateliê próprios, por ora, Nina deseja apenas diminuir o ritmo frenético de trabalho, algo que ela atribui muito à cidade onde vive. "São Paulo tem mil facilidades por ser um lugar que não para. Mas aí você fica refém, se insere nesta dinâmica e acaba trabalhando e esquecendo até do fim de semana. Fica uma relação de amor e ódio."

Serviço:Nina, de Nina Pandolfo. Master Books, 208 págs. Preço médio: R$ 150. Biografia/Artes. Mais informações no site www.ninapandolfo.com.br.

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