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Eleonora faz pose no palco do Guairão, que para ela é como um templo e esconderijo | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Eleonora faz pose no palco do Guairão, que para ela é como um templo e esconderijo| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Apesar de ter criado os dois filhos nas coxias do Guaíra e dançado por 30 anos nas montagens da companhia de balé do teatro, a primeira bailarina Eleonora Greca só sente que cresceu agora que está deixando a casa.

"O que vou ser quando crescer?", ela brinca, ao enumerar os diversos planos para os próximos meses. Entre eles, aprofundar o trabalho como coordenadora de dança da Fundação Cultural de Curitiba, com novos projetos que envolvam a população de periferia; montar uma bienal dessa arte na cidade, quem sabe já ano que vem; viver papéis como atriz e, claro, montar sua própria companhia. "Traria coreógrafos de fora, gente boa para trabalhar aqui", empolga-se, em conversa com a Gazeta do Povo realizada no palco do Guairão.

Na dramaturgia, ela analisa propostas como a do diretor Edson Bueno de viver a mulher do bailarino e coreógrafo eslavo Vaslav Nijinski. "Não sei se vou ser uma bailarina que fala ou uma atriz que dança."

O papel de Eleonora à frente da coordenação de dança da Fundação, que já está no segundo ano, vem bem a calhar com a visão que essa mulher pequena, que não nega o porte de bailarina, tem da arte. Ali ela estimula a dança nas regionais da prefeitura para ampliar a compreensão do que é a dança hoje. "Me encanta puxar esse público para a arte. A formação de plateia é uma coisa que eu adoro, que faz falta e é dever do poder público."

Para esse trabalho gerencial, contribui a faculdade de Administração com ênfase em Marketing e a pós-graduação em gestão de pessoas que ela procurou há alguns anos.

Sapatilhas e tênis

A matemática é simples. Eleonora começou a dançar no Guaíra com 8 anos e hoje está com 53: foram 45 anos debaixo daquele imenso pé direito. "Me sinto dentro de um templo. No meio dessa cidade louca, aqui você se sente cuidado."

Em sua época de aluna, a escola do Guaíra ainda ficava dentro do teatro – hoje as aulas acontecem no bairro Jardim Botânico.

"Para mim, foi ótimo que tenha sido aqui. Eu via as bailarinas mais velhas ensaiando, ficava espiando", conta, encantada.

É raro que uma bailarina concilie tão bem o clássico e o contemporâneo quanto Eleonora. Desde seu início como primeira bailarina, ela conviveu com as duas linguagens, talvez graças ao diretor polonês Yurek Shabelewski, que guiou o Balé do Teatro Guaíra (BTG) de 1970 a 1978. O pai de Eleonora, engenheiro, pode ter contribuído também, já que não gosta de balé clássico e se interessa pelas produções mais atuais.

O programa da comemoração de seus 30 anos como primeira bailarina, apresentado na noite deste sábado, foi criado pensando um pouco em tudo isso. Treze Gestos de um Corpo (de Olga Roriz) é uma peça com 20 anos de idade que ainda impacta pela ideia, o visual e a ousadia.

Marcas

Já em sua criação, em 1969, o Balé Guaíra veio com Impacto, com coreografia de Yara de Cunto e sabor contemporâneo. E, em 1983, o grupo estreou sua obra de maior repercussão, O Grande Circo Místico, com roteiro de Naum Alves de Souza e trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo.

A trama contava a saga da família austríaca que tocava o Grande Circo Knieps, e o amor entre um aristocrata e uma acrobata. "O público até hoje me para na rua e chora. Ficamos mais de 15 anos dançando, e as pessoas ainda perguntam quando vai ter de novo", diz Eleonora.

O trecho mais romântico, o duo Beatriz, foi escolhido por Eleonora para também marcar sua despedida, dançando ao lado do marido Wanderley Lopes.

Da extensa carreira, ela destaca ainda suas participações em O Mandarim Maravilhoso, Giselle – em que substituiu a comadre Ana Botafogo (madrinha de sua filha) como protagonista – Pastorale.

Para a frente

A saída vem repleta de sentimento. "Não queria sair com tudo desmoronando, e agora o balé está num momento de reestruturação. Mas eu vou espernear em outro lugar."

Em casa e quando está com os filhos Guilherme e Isadora, Eleonora quer mais é cozinhar, fazer massas, doces e bolos. Algo que sua figura esguia permite, mas só porque ela não é gulosa. Outro hobby do momento é fabricar aventais, que ela até considera vender na Feira do Largo.

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