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Uma escultura no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, em Curitiba, reproduz a imagem de uma menina pequena carregando flores na borda do seu vestido. Ela havia acabado de destruir um jardim minuciosamente cuidado por seus pais. A mãe, segundo a história, pensou em repreender a filha, porém, a inocência da menina, que arrancou os cravos para mostrar a beleza de suas cores, falou mais alto. A pequena, chamada Luci, morreu duas semanas depois do singelo incidente, vítima de uma apendicite. Sua imagem ficou eternizada na escultura de mármore que hoje adorna o seu túmulo.

"O carinho não reside apenas na homenagem, mas em gestos simples, como o pai trazer da Itália, no navio, a estátua, em homenagem à filha. A peça revela a qualidade de representar uma cena com perfeita adequação entre a harmonia, delicadeza e esmero no tratamento da composição", escreve Clarissa Grassi em seu livro Um Olhar... A Arte no Silêncio. A representação de Luci é uma das 55 peças tumulares registradas e estudadas pelo volume, lançado semana passada em conjunto com uma exposição homônima no Museu da Fotografia.

Trata-se do resultado de três anos de pesquisas de Clarissa Grassi. A estudiosa, formada em Relações Públicas pela Universidade Federal do Paraná, gostava de freqüentar o cemitério e resolveu investigar a simbologia que permeia as imagens e figuras dispostas nos túmulos. "As pessoas associam os cemitérios à tristeza. Porém, neles é possível encontrar esculturas belíssimas, que têm de ser tratadas como obras de arte", argumenta a pesquisadora.

Com projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Grassi debruçou-se a estudar os detalhes de cada peça selecionada. "As fotografias geralmente registram todo o túmulo. Nas minhas imagens, foi dada atenção aos detalhes que agregam significado ao conjunto", afirma. As obras tumulares foram separadas em categorias, abordando as alegorias, as homenagens, os santos e mártires, a história, os anjos, e as representações de Cristo. A publicação conta, ainda, com um texto crítico do arquiteto Key Imaguire, que analisa o cemitério sob a ótica dos estilos (clássico, neoclássico, art nouveau, paranismo).

De acordo com Clarissa, o livro ganha importância como documento de uma cultura já encerrada na maneira de representar a morte. "Os pesquisadores afirmam que esses trabalhos são símbolos de riqueza e poder da buguesia, das famílias mais abastadas. Hoje isso não existe mais, não há mais artesãos hábeis nas marmorarias", diz. As fotografias também ganham importância na medida em que as obras registradas são suscetíveis à deterioração provocada pela ação do tempo, e, principalmente, por depredações. "Existe a figura de um Cristo cuja cruz foi arrancada", conta a pesquisadora. Em outro caso, havia uma escultura de bronze de uma criança, que foi roubada.

Uma seleção de fotografias está exposta no Museu de Fotografia de Curitiba até o dia 20 de agosto, com entrada franca. Um total de 25 imagens pode ser conferido no local, acompanhado de 47 fotografias menores mostrando detalhes e textos explicativos.

Serviço: Um Olhar... A Arte do Silêncio. Museu de Fotografia de Curitiba. (R. carlos Cavalcanti, 533), (41) 3362-3023. Terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas; sáb. e dom., das 12 às 18 horas. Livro à venda por R$ 30.

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