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Menos reverenciado do que merece, Waltel segue dando aulas particulares e apoiando músicos iniciantes | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Menos reverenciado do que merece, Waltel segue dando aulas particulares e apoiando músicos iniciantes| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Waltel Branco é parnanguara, mas poderia ser curitibano, carioca, cubano, americano ou italiano. Waltel é do mundo, mais precisamente do mundo da música. É o mais cosmopolita dos nossos músicos. O doutor honoris causa da Universidade Federal do Paraná subiu ao palco montado na Praça Carlos Gomes, junto com Ravi Brasileiro, como uma das principais atrações da Corrente Cultural em 2013. Afinal, foi ele quem cedeu o nome para edição do ano. O bom é receber homenagem em vida. Depois de morto, não é homenagem, é missa", diz Waltel em um misto de humor e conselho no alto de seus 84 anos, que serão completados no próximo dia 22, o Dia do Músico.

Estante

Para conhecer Waltel Branco:

Discos Solo

• 1960 – Recital Violão

• 1962 – Guitarras em Fogo (com Baden Powell)

• 1963 – Guitarra Bossa Nova

• 1966 – Mancini Também É Samba

• 1972 – Meu Balanço

• 1972 – Jungle Bird Black Soul (sob o pseudônimo de Airto Fogo)

• 1974 – Seleção de Clássicos, Músicas do Século XVI ao Século XX

• 1975 – Airto Fogo (sob o pseudônimo de Airto Fogo)

• 1976 – Recital (II)

• 1990 – Kabiesi • 1997 –Naipi • 2007 – Meu Novo Balanço

Discos Tributos

• 2007 – Tributo a Waltel Branco

Disco de Cláudio Menandro executando obras de Waltel Branco

• 2008 – Mestre Waltel

Orquestra à Base de Corda da Fundação Cultural de Curitiba toca obras de Waltel Branco

• 2011 – O Violão Plural de Waltel Branco

Direção musical de Dirceu Saggin, com participações de vários violonistas tocando Waltel Branco

Livro

A Obra para Violão de Waltel Branco (Curitiba, 2008)

Com 44 partituras revisadas por Cláudio Menandro e biografia escrita por Zeca Corrêa Leite

Curta-metragem

Descobrindo Waltel (2005), de Alessandro Gamo

Blog: waltelbranco.blogspot.com Blog atualizado pelo músico Kito Pereira.

Há quase 80 anos, quando o menino filho de militar do exército começou a aprender violão clássico com um capitão amigo do pai dele, em Campo Grande (MS), onde moravam, todos viram que ele levava jeito. Mesmo assim, o pai não o queria no mundo da música. De nada adiantou. Hoje, Waltel contabiliza participações em cerca de mil discos e tem mil e uma inacreditáveis histórias que vão se encadeando em nomes como Heitor Villa-Lobos, Igor Stravinski, Dizzy Gillespie, Henry Mancini, Andrés Segovia, Nat King Cole, Quincy Jones, João Gilberto, Baden Powell, Tom Jobim, Roberto Carlos, Djavan, Roberto Marinho, entre centenas de outros.

Da bossa à pantera

A batida da bossa nova passou por suas mãos, assim como o funk e a black music de Tim Maia. A partitura de "Ebony – Concerto para Clarinete e Jazz Band", de Igor Stravinski, teve sua matemática decodificada pelo parnanguara para facilitar a orquestração em sua estreia nos Estados Unidos (e depois no Brasil), o que teria surpreendido o próprio autor, que aprovou a intervenção.

Quando aquele desenho de uma pantera cor-de-rosa na abertura do filme de Blake Edwards tomou as telas de cinema de todo o mundo, em 1963, a trilha sonora de Henry Mancini se popularizaria rapidamente. O arranjo era de Waltel Branco que, segundo conta, foi feito em apenas um dia.

A música de Waltel Bran­co sempre passeou livre e solta entre o erudito e o popular. A formação foi clássica, mas os sons da rua sempre se fizeram presentes. Os estudos eruditos e populares correram lado a lado, de mãos dadas. Assim, decodificar partituras de Stravinski, dar uma arrumada instrumental nas músicas de Roberto Carlos e a turma do iê-iê-iê brasileiro, ou arranjar o Chega de Saudade para o João Gilberto, davam o mesmo trabalho para os ouvidos e o talento de Waltel. Ele poderia simplesmente dizer "Faz parte do meu show", como cantou Cazuza, também sob arranjo do maestro paranaense.

Nas andanças e viagens, sempre seguia aprendendo. No seminário, que abandonou pouco antes de mandar confeccionar a batina, havia os corais e Bach. Com a breve primeira passagem pelo Rio, e depois por Cuba, foi aperfeiçoando ritmos. Nos EUA, foi jazzista, aprendeu trilha sonora, estudou no Berklee College of Music, em Boston, e conheceu e trabalhou com, entre outros, Nat King Cole, Dizzy Gillespie e Henry Mancini.

Na volta ao Rio, no final de década de 50, chegou bem no surgimento da bossa nova e caiu na mesma pensão de João Gilberto. Daí para arranjar o disco Chega de Saudade, foram poucos acordes.

Na novela da Globo

Retornou para os EUA e, ao final de uma apresentação com Dizzy Gillespie, foi chamado a uma mesa da boate. Ali estava Roberto Marinho, que na mesma noite faria um convite para que Waltel fosse trabalhar na Rede Globo. O convite e o dinheiro eram tentadores e Waltel aceitou. Ficou responsável por programas musicais, regências e arranjos e pelas trilhas sonoras das novelas globais.

"Eu convidei para trabalhar comigo o Radamés Gnattali, o Guerra Peixe, o Claudio Santoro… Olha só o time que montei!", diz, rindo, saudoso. Mas nem tudo são bons acordes nos 20 anos que ficou por lá. Da Globo também restou uma disputa trabalhista que se estende até hoje em busca de direitos autorais pelo que criou.

Neste sábado, quando subir ao palco da Corrente Cultural com Ravi Brasileiro, Waltel estará repetindo algo que vem fazendo no decorrer de sua trajetória: apoiar músicos iniciantes. Ele está sempre se reciclando no encontro com jovens músicos. "Eu sempre fui jovem", brinca, "mas agora estou vendo que vou envelhecer", constata. Além dos já citados, passaram por seus arranjos músicos então jovens, como Elis Regina, Gal Costa, Tim Maia, Hermeto Pascoal, a argentina Mercedes Sosa e até mesmo o Pelé, que sempre tocou melhor com os pés do que com as mãos.

Doutor Waltel

Na semana passada, em uma homenagem feita a ele pela Fundação Cultural de Curitiba e a Associação Comercial do Paraná, foi exibido um vídeo em que Djavan dá um depoimento enaltecendo o trabalho de Waltel no início de sua carreira. Entre arranjos e sugestões musicais, o cantor alagoano, que tinha só um violão velhinho, recebeu do parnanguara um violão novinho em folha que usa até hoje. Agora, em retribuição, enviou ao mestre uma guitarra especialmente construída por um lutier.

Waltel Branco é menos conhecido e reverenciado do que merece. Mesmo assim, nos últimos anos tem recebido homenagens. No ano passado ganhou o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Paraná. Mas, pela vontade dele, estaria mais presente nas escolas e universidades do que apenas para receber títulos. "Eu gostaria de ensinar na Federal e na Belas Artes, se me deixassem. Mas não deixam. Parece que é tudo da mesma família, da mesma panela e não abrem", queixa-se. Assim, entre uma homenagem e um esquecimento, vai dando aulas particulares em seu apartamento na Rua Ângelo Sampaio, em Curitiba, bem próximo ao campus do Batel, onde há o curso de música da UFPR.

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