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Barbarito Torres, 54 anos,  e seu alaúde de três décadas. Cubano esteve em Curitiba no último dia 29 e fez show no Teatro Guaíra | Fotos: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Barbarito Torres, 54 anos, e seu alaúde de três décadas. Cubano esteve em Curitiba no último dia 29 e fez show no Teatro Guaíra| Foto: Fotos: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

El rey de laúd

Saiba mais sobre a carreira do cubano Barbarito Torres, um dos remanescentes do histórico grupo Buena Vista Social Club:

- O músico foi duas vezes indicado ao Grammy e venceu a premiação em 1998, com o disco Buena Vista Social Club

- Profissional desde os 14 anos, ele foi o responsável por introduzir o alaúde na música cubana contemporânea

- Já tocou nos grupos Serenata Yumurina, Yaraví, Campo Alegre e Manguaré e dividiu o palco com Willie Colon, Neil Young, Richie Ray, Bobby Cruz, Chichi Peralta e Jimmy Cliff, entre outros

- Tem dois discos solo lançados: Havana Cafe (1999) e Barbarito Torres (2003)

Ele é o caçula de uma turma que ajudou a exportar a música feita na ilha de Fidel Castro. A camisa florida e o grande bigode mal-ajambrado saltam aos olhos assim que Barbarito Torres chega, meio cansado, à recepção do hotel em que se hospedou em Curitiba. O cubano é o integrante mais novo – e um dos seis ainda vivos – do grupo Buena Vista Social Club, que se tornou ainda mais conhecido com o lançamento do documentário homônimo, dirigido por Wim Wenders e Roy Cooder, lançado em 1998. Acompanhado por outros 13 músicos, Torres fez turnê pelo Brasil semana passada. Tocou em São Paulo, Rio de Janeiro e, um dia antes do show no Teatro Guaíra, no último dia 29, conversou com a reportagem da Gazeta do Povo.

O concerto envolveu pelo menos três gerações da música cubana. Laritza Bacallao, jovenzita de 22 anos, está dando o que falar lá na linha do Equador; Conchita Torres – irmã de Barbarito, cuja idade é mantida a sete chaves – é uma das vozes mais conhecidas da ilha; e Ignacio Mazacote Carrillo, do alto de seus 84 anos, ainda impressiona devido à força de sua voz e a energia no palco, que parece infindável.

Aos 54 anos, Barbarito Torres é uma espécie de síntese disso tudo. Trazendo na memória a música campesina cubana – gênero conhecido como guajira –, tem no alaúde cubano sua própria forma de expressão. Para fazer fotos para esta matéria, ele retira o instrumento de seu estojo, o dedilha um pouco e o apresenta como o melhor dos amigos. "Feito em Cuba. Está comigo há três décadas."

Músico profissional desde os 14 anos, Barbarito – o nome de batismo é Bárbaro Alberto Torres Delgado –, logo começou a tocar com seu pai. De festinhas nas ruas de Matanzas, cidade há cerca de cem quilômetros de Havana, onde nasceu, para grandes bailes em Havana, capital do país, onde mora hoje, foi mais rápido do que dizer hola. E aí começa sua história no Buena Vista.

"Sempre me encontrava com Omara [Portuondo] e Ibrahim [Ferrer]. Tocávamos bastante. Em Matanzas, lá por 1987, já tinha gravado com o Compay [Segundo]. Eram geniais musicalmente e, como pessoas... por favor. Eles eram muito nobres", conta Torres, sorriso sempre presente. Omara Portuondo ainda está na ativa. Compay Segundo e Ibrahim Ferrer silenciaram-se em 2003 e 2005, respectivamente.

História

Grupo musical mais conhecido da história de Cuba pós-Fidel, o Buena Vista Social Club existia informalmente desde o início da década de 1940. Lá, artistas se encontravam para compartilhar conhecimento. Tocar, dançar. Conversar. Mas as portas foram fechadas, muito por conta da revolução de 1959. Depois disso, dois fatos deram novas luzes ao projeto, que ganhou o mundo primeiramente com a gravação, em 1996, do disco Buena Vista Social Club – ideia do músico cubano Juan de Marcos Gonzáles e do guitarrista norte-americano Ry Cooder.

A dupla convidou os ex-membros, como Compay e Ibrahim, a gravar as músicas. Doze milhões de cópias foram vendidas em todo o mundo. O feito, então, chamou a atenção do cineasta Wim Wenders, que foi até a ilha para rodar seu documentário homônimo, lançado em 1998, indicado ao Oscar na categoria de melhor documentário. E Cuba ressurgiu.

"A música cubana também estava ‘bloqueada’. As pessoas de fora da ilha só conheciam a música feita lá até os anos 1950, elas não sabiam que continuava depois disso. O Buena Vista Social Club mudou isso", diz Torres. O filme, enfim, serviu de bom exemplo para os demais músicos cubanos e para os próprios habitantes da ilha, privados do sucesso e da qualidade de seus próprios instrumentistas.

Um pouco de política

Barbarito Torres já viajou mais de meio mundo. Seu grupo – nele há sua esposa, Sônia e seus filhos, Alejandro e Margarida –, toca mais fora de Cuba do que em seu próprio país. Mas Torres mora em Havana, se orgulha da ilha e diz que as mudanças recentes no regime do partido comunista são benéficas.

"Esse tipo de abertura é necessária não somente para nós, mas para os norte-americanos também. Isso é natural. Cuba é um país em que qualquer pessoa pode ser médico, engenheiro, artista. Cuba é um país onde não há analfabetos. Isso não vai mudar mesmo com a mudança do regime porque lá as pessoas pensam", afirma o músico, balançando as mãos.

Mas a conversa sobre o regime logo cessa. "Não falo muito de política porque acho que quem fala disso tem que ser estudado na área. A política se estuda. É por isso que os políticos de lá não falam sobre música", sugere Barbarito Torres, sorrindo como quem diz "próxima pergunta, por favor".

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