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Não tem erro. todo disco de Alcione tem um baladão daqueles, de dor de cotovelo concentrada. Em dose cavalar. O novo CD (e DVD) da cantora, De Tudo Que Eu Gosto, não podia contrariar essa tradição, iniciada lá atrás, na década de 70, com sucessos como "Sufoco" e "Menino sem Juízo". O álbum abre com "Perdeu, Perdeu", gíria nascida no crime transmutada em desaforo. Um desabafo de mulher traída pelo parceiro cafajeste. A faixa, assinada por Chico Roque e Sérgio Caetano, deixa claro: a "Marrom", que completa 60 anos em novembro, está de volta. Competente como sempre.

Mas, por mais que insista em não desapontar sua legião de fãs, conquistada ao longo de quase 40 anos de carreira, Alcione experimenta, também busca novos caminhos para trilhar. Prova desse desejo pelo novo é o samba-rap "Mangueira É Mãe" (de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães), no qual divide os microfones com Falcão, da banda O Rappa. Sobre esse encontro, a artista conta que ela e o vocalista já haviam cantado juntos antes, em uma apresentação no Circo Voador, lendária tenda de shows carioca. "Quando ele ouviu a música, adorou. Topou na hora. Ele me chama de ‘madrinha’."

E, na faixa "Maria da Penha" (de Paulinho Rezende e Evandro Lima), a Marrom prova que está atualizada no linguajar das novas gerações. A letra da música é recheada de expressões como "Zé Ruela", "vai ficar quente a chapa" e "esculacho", mais comuns na cena funk do que no samba.

A cantora, no entanto, vai logo dizendo que, como o próprio título do novo CD anuncia, não está cedendo à pressões do mercado, não. Fazendo musica "moderninha" para não sair de moda. Não precisa disso. Afinal, é umas grandes vendedoras de discos do país. Grava o que quer – reggae, forró, diversas modalidades de samba, orgulho negro e, claro, música romântica.

Sobre o processo de seleção das canções, conta que inicia a "colheita" seis meses antes de entrar em estúdio. "Tenho minhas cartas marcadas, aqueles compositores que sempre fazem algo bonito para eu cantar, como Altay Veloso, mas estou aberta a descobertas. Existe muita gente boa por aí." Não à toa canta com Mart’nália a ótima "Laguidibá". Quando fala da filha de Martinho da Vila, se derrama: "Conheço ela desde menina. Ela está se tornando uma grande sambista, uma percussionista de primeira".

Popular até a medula, mas também vista com simpatia pela crítica, que nela vê uma espécie de pilar do samba nacional, a maranhense talvez não saia de evidência justamente por não ter vergonha de se repetir. Também porque sempre busca estar afinada com as ruas, em sintonia com o público e suas transformações.

Falando em rua, existe um assunto que realmente tira Alcione do sério: pirataria. Ela não autografa CD que não seja original. "Não me contento com pouco, não. Quando faço um disco, um DVD, quero que seja um trabalho caprichado, bem gravado, com encarte impresso em papel de qualidade, fotos bonitas. A pirataria lesa o artista, compromete todo esse esforço", dispara.

Essa cruzada deve ter sido um dos assuntos tratados com o ministro da Cultura Gilberto Gil, com quem dueta na belíssima "Entre a Sola e o Salto", canção do baiano que só havia sido gravada por ela, em 1978. O repeteco deu mais do que certo: é uma das melhores faixas do disco. Quanto à posição de Gil sobre o "mercado paralelo" de CDs, Alcione disse que os governos estão se esforçando, mas a "a guerra é feia". GGG

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