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Oligarquia. Essa palavra, que designa os regimes políticos em que um pequeno grupo de pessoas se perpetua no poder, traduz a realidade dos Estados Unidos nos dias de hoje. Os conservadores governaram o país por 20 anos nas últimas três décadas. Os Bush ficaram no topo durante 12 anos.

A constatação do predomínio dos republicanos na história recente dos EUA, no entanto, não é suficiente para afirmar que a eleição de um democrata possibilitará a união de uma sociedade profundamente dividida entre o grotão e o cosmopolita, o urbano e o rural, o materialismo e a religiosidade.

Barack Obama e John McCain são peças de uma mesma engrenagem. São partes inseparáveis do império mais poderoso da história da humanidade.

E como explicar a preferência de grande parte dos eleitores dos EUA por um afro-americano e filho de pai muçulmano diante de um concorrente branco e que simboliza tradições profundas da nação?

Uma explicação razoável seria a busca pela superação dos erros do passado e do presente. Muitos norte-americanos vêem em Obama uma grande chance de reverter a crise que se instalou no país, hoje odiado por vários outros povos.

É exatamente nesse ponto, o da construção do entendimento e da paz, que ficam evidentes as diferenças entre Obama e McCain. Os defensores do republicano argumentam que, por ser veterano de guerra, o aliado de George W. Bush reúne as condições para conduzir a bom termo os conflitos com os países asiáticos. Do lado democrata, quem apóia Obama está convencido de que ele, um político jovem, filho de negro e sem os vícios das antigas gerações, poderá desfazer os equívocos do atual governo e iniciar um novo ciclo de relações internacionais. Com Obama a diplomacia iria se sobrepor aos tanques e às bombas.

No campo da economia, muito se questiona a capacidade de Obama para fazer as mudanças necessárias. Os norte-americanos já deram mostra de que estão cansados dos erros de Bush e esperam, mais do nunca, que os EUA voltem a ser a locomotiva do planeta. Opositores e muitos analistas apontam a falta de experiência executiva do democrata como um entrave para a realização das mudanças. Mas qual a experiência de gestão de McCain? Bush era "experiente" – foi governador do Texas – e arrasou com as finanças do país.

A popularidade de Obama não se dá simplesmente por sua aparência de astro pop – McCain o comparou a estrelas de Hollywood, como Britney Spears e Paris Hilton. Celebridades à parte, a realidade é que o candidato democrata está livre das acusações que pesam sobre os republicanos, que deixaram em segundo plano temas relevantes, como o aquecimento global.

Talvez esses detalhes justifiquem o fato de muitos estudantes norte-americanos estarem ligados e mobilizados por Obama. Eles acreditam em mudanças. Principalmente porque consideram as políticas de Bush ultrapassadas. E McCain representaria a continuidade do atraso.

Para os países em desenvolvimento, e aí entra o Brasil, pesa contra Obama a tradição protecionista dos democratas. Isso é inegável. Porém, a abertura prometida pelos republicanos aos produtos brasileiros, especialmente os agrícolas, até agora ficou só no discurso.

Pelo sim e pelo não, o mundo vê em Obama o início de uma nova era. Se será melhor que a atual, só o tempo dirá. É a opção entre a continuísmo e a esperança de melhora.

Célio Martins é jornalista.

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