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Rio de Janeiro – Ele jura que tentou de todas as maneiras evitar que seu sobrenome famoso viesse a público. Mas, depois do sucesso de seus dois livros, foi impossível para o escritor americano Joe Hill, de 36 anos, esconder dos fãs que foi batizado Joseph Hillstrom King. Sim, o novo xodó da literatura de terror dos Estados Unidos é filho mesmo de Stephen King, a quem Hill considera o "melhor escritor de histórias de fantasia da literatura".

O primeiro livro de Hill, a coletânea de contos 20th Century Ghosts, publicada em 2005 e não lançada no Brasil, recebeu o Prêmio Bram Stoker – uma espécie de Nobel da literatura de terror. Já a A Estrada da Noite ("Heart-shaped box"), seu primeiro romance, foi lançado em 2007 e chegou à lista dos mais vendidos do The New York Times. O livro, que está saindo no Brasil pela editora Sextante, segue a fórmula do terror pop que fez sucesso com Stephen King.

A história gira em torno de um roqueiro de meia-idade, atormentado com o passado, que compra um fantasma pela internet para completar sua coleção de bizarrices – crânios, laços usados em enforcamentos e até um vídeo que mostra um assassinato. A assombração chega com um paletó, justamente dentro de uma heart-shaped box, uma caixa em forma de coração, referência a uma música da banda Nirvana.

Em turnê para o lançamento do livro em Hamburgo, na Alemanha, Joe Hill falou, por e-mail, sobre seu livro e sobre como é ser filho – e f㠖 de Stephen King. E explicou, ainda, porque gostaria de deixar a identidade de seu pai escondida.

Hoje, o cinema cria praticamente qualquer coisa com tecnologia e efeitos especiais. Como é, então, escrever uma história de fantasia nos nossos tempos? Ainda é possível surpreender? Joe Hill – Os livros são mais poderosos do que os filmes, não o contrário. Ler um romance é uma experiência profundamente mais pessoal e intensa. Desde a primeira frase, o escritor está bem dentro de sua cabeça. Quando um romance é muito bom, o escritor elege o leitor como um colaborador. O leitor faz metade do trabalho, imaginando o que o escritor somente sugeriu ou deixou implícito. A imaginação do leitor é usualmente mais assustadora do que qualquer coisa que o escritor poderia ter dito explicitamente. Enquanto que num filme, o que se vê é apenas o que se tem.

Como você procura construir essa inspiração visual nos leitores? Tenho medo de estar fazendo o leitor perder seu tempo. É importante apontar para a direção certa: na primeira página, no primeiro parágrafo, na primeira frase, até mesmo no título, se for possível. Como o escritor americano Elmore Leonard sempre fala, a chave para prender a atenção do leitor é escrever apenas as coisas que ele quer ler. Porque, se você não pode ir direto ao ponto, sempre haverá alguma coisa boa na TV.

Em A Estrada da Noite, a coleção do protagonista Judas Coyne parece uma representação da busca pós-moderna por informação. Todo mundo quer tudo, até mesmo o impossível. A sociedade contemporânea facilita na hora de se escrever histórias de fantasia? A ficção científica se tornou gradualmente quase irrelevante. Quem mais precisa de ficção científica, quando vivemos nela hoje em dia? Mas vale lembrar que toda a literatura é uma fantasia, trata-se de um faz-de-conta. E, mesmo com os avanços tecnológicos do último século, no fim o escritor termina sempre com a mesma página em branco a ser preenchida.

Quem você considera o melhor escritor de histórias de fantasia na história da literatura?Ah, meu pai, disparado. Não há ninguém nem próximo dele.

Você só revelou que seu pai era Stephen King em 2007, depois de alcançar o sucesso com seu primeiro romance. Por quê? Essa é uma má interpretação comum: eu não revelei a identidade de meu pai. Na verdade, teria ficado feliz se ninguém soubesse quem é meu pai. Tenho escrito e vendido histórias como Joe Hill há dez anos. Isso me deu a oportunidade de cometer meus erros em particular e de aprender meu ofício sem a pressão de ser o filho de um cara famoso. Eu queria saber se uma de minhas histórias seria vendida pelos motivos certos, por alguém se empolgar com ela. E não porque alguém estaria a fim de lucrar com meu sobrenome.

Como foi a descoberta?Antes de A Estrada da Noite ser publicado, eu havia escrito uma coletânea de contos chamada 20th Century Ghosts. Ela foi recusada em todos os cantos dos Estados Unidos, mas foi vendida para uma pequena editora na Inglaterra. Depois que o livro saiu, comecei a aparecer mais para sua divulgação. As pessoas, então, notaram a semelhança física, e os fãs viciados em Stephen King lembraram que ele tinha um filho chamado Joe Hill King. Eu fui "googlado" até a morte.

Os estilos são parecidos?Nós dois compartilhamos idéias e temáticas semelhantes. Meu estilo de escrever uma frase atrás da outra, porém, é um pouco diferente do dele. Ele tem um texto casual, como numa conversa. Ele escreve como num fluxo de consciência. Já minha narrativa é mais cortada, e eu tenho a tendência de trabalhar com frases que dêem a sensação de aforismos.

Qual seu livro preferido de Stephen King? Eu acompanho o trabalho do meu pai desde que tenho idade suficiente para ler. O primeiro foi O Talismã, que ele escreveu em colaboração com Peter Straub. Foi um ótimo livro para começar. É uma aventura para garotos, repleta de magia, monstros e fugas heróicas. O meu favorito provavelmente é A Zona Morta, o qual eu considero ser a tragédia americana perfeita.

Quando você percebeu que queria ser escritor?Tanto meu pai quanto minha mãe (Tabitha King) são escritores profissionais. Eu chegava em casa da escola e encontrava os dois em seus escritórios digitando. Assim, percebi que brincar de faz-de-conta era uma boa forma de ganhar a vida.

Como sua carreira começou?Meu primeiro contato profissional foi com uma história do Homem-Aranha que eu enviei para a Marvel. Eu tinha 12 anos. Por motivos estranhos, eles não quiseram publicar.

Os livros de Stephen King fizeram também muito sucesso no cinema. Você gostaria que seu romance fosse adaptado por Hollywood? Os direitos de A Estrada da Noite foram vendidos para a Warner Brothers. Eles se mostraram dispostos a fazer o filme, mas é claro que as companhias compram os direitos para muitas histórias e só filmam algumas poucas. Portanto, temos de esperar para saber.

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