• Carregando...
Eles já estão entre nós. O Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare está na cidade desde a última quinta-feira, preparando sua estreia nacional no Festival de Curitiba | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Eles já estão entre nós. O Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare está na cidade desde a última quinta-feira, preparando sua estreia nacional no Festival de Curitiba| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

SERVIÇO

Veja a programação completa do Festival de Curitiba e assista ao vídeo com dicas do que fazer na cidade após os espetáculos no Guia Gazeta do Povo

Dicas

Confira algumas informações para você aproveitar bem o Festival de Curitiba:

Variedade

O festival começa hoje e acontece até dia 10 de abril.

Você tem a possibilidade de montar uma programação bem recheada com as 31 peças convidadas para se apresentar na Mostra Contemporânea e as 373 montagens inscritas no Fringe. Elas utilizam 83 espaços culturais reservados pelo festival, que variam entre nossos principais teatros, pontos alternativos e diversas praças do centro da cidade.

Ingressos esgotados

Foram colocados à venda cerca de 260 mil ingressos em vários pontos espalhados por Curitiba. Programe-se para não perder a chance de conferir a peça de sua escolha. Algumas montagens já estão com ingressos esgotados: Édipo, Labirinto, Marina, Sete por Dois, Preferiria Não?, 39 Degraus, Estilhaço, Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, O Livro, três sessões do Risorama e a apresentação de Maria Gadú no Teatro Guaíra.

Quem somos nós para julgar o valor da palavra? Ainda mais quando lemos esta pergunta nas linhas de um jornal? Um termo que, além de seu valor propriamente dito, consegue reunir diferentes sentidos em nossa sociedade; da permissão, até a promessa e afirmação, junto com todo o ensinamento religioso.

Pois prepare-se para prestar muita atenção nela. Até o próximo dia 10 de abril, a palavra é seu principal fio condutor no meio de toda a variedade técnica escalada para a 20.ª edição do Festival de Curitiba, que começa hoje.

Saiba tudo sobre os espetáculos da Mostra Principal 2011 do Festival de Curitiba

A montagem escolhida para a abertura do evento é Sua Incelença, Ricardo III, espetáculo que sela o explícito caso de amor entre a equipe potiguar do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare com o diretor mineiro Gabriel Villela, do Grupo Galpão. E foi por meio da palavra que eles conseguiram levar uma das mais criativas e esperadas adaptações da obra do poeta e dramaturgo inglês para as ruas.

"A palavra falada ganha força. Não precisa de artifícios. Palavra planejada para a ágora", revela Villela, em uma analogia com o local utilizado pela civilização grega como o principal espaço público. Ele continua com suas referências, mas, desta vez, parte para o campo tecnológico: "O verbo vai direto para o espectador, que encontra o ator cara a cara dizendo 'ai de mim'. Em tempos de iPad, 'iPid', 'iPod', 'iPud', o ator chega com o 'iDeMim'! Boa frase, não? A Apple não inventou isso, nós sim", conclui de forma traquina.

Não é à toa que Villela utiliza um discurso carregado de exemplos e citações tão díspares. O diretor parece ter criado uma aconchegante cama pop para acolher a todos os espectadores. Partiu da contextualização popular feita na cultura do sertão nordestino e lá se apropriou das incelenças, cânticos populares normalmente associados a ritos fúnebres ou pedidos de chuva. São recitados com a repetição de versos simples construídos com linguajar popular. Em alguns momentos, até parecem "mantras sertanejos", embalados pelas melodias de Queen e Supertramp. Talvez o único eco britânico respeitado pelo espetáculo.

Graças ao jogo de palavras no título com o termo "incelença", no lugar de "excelência", o grupo também conseguiu dar uma cutucadinha bem malandra em Shakespeare. "Foi uma apropriação devida e indevida da obra. Tentamos cumprir um movimento de desrespeitar a obra de Shakespeare. Sair da mediocridade. É o Ricardo III segundo o Clowns de Shakespeare", atesta o diretor mineiro.

Ricardo coletivo

Ao segundo toque da campainha, você deve estar se perguntando que adaptação é essa que utiliza a cultura nordestina, junto com palhaços e rock inglês, para contar a história de Ricardo III na rua? Acompanhe a curiosa constatação feita pela professora Anna Camati: "São muito 'shakespeareanos'! A mistura de gêneros e estilos, música, dança, bonecos, ópera... Essa apropriação de diferentes elementos é uma grande característica na obra de Shakespeare", comenta.

A conversa da reportagem da Gazeta do Povo com a equipe do Clowns de Shakespeare e Villela aconteceu no fim da tarde da última sexta-feira, em uma grande roda formada na Casa Vermelha. Contou com a simpática participação de Anna Camati e Liana Leão, ambas professoras do curso de Letras da Uniandrade e Universidade Federal do Paraná (UFPR), respectivamente. Elas participam do projeto Global Shakespeares, organizado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma rede de contatos mundial que busca recolher as mais diferentes adaptações do dramaturgo inglês.

O resultado da montagem é fruto de muita pesquisa. Houve um longo período de estudo e dissecação do trabalho de Shakespeare. Villela conta que "o Clowns é um grupo formado em academia. Mantém a prática de estar constantemente pesquisando". Ideia reforçada pelo coordenador de produção do grupo, Fernando Yamamoto. "Levamos um tempo nos aprofundando no texto de forma simples e sem pudor com a 'matemática' shakespeareana. Ficamos somente em cima da palavra. Ela beneficia o ator de forma individual e a sua revelação atinge o coletivo Ricardo III", conclui.

O ator que assume a responsabilidade de encarar o vilão (vilão?) protagonista é Marco França. "A participação de todos os outros atores é o que permite meu estado absoluto no personagem", diz. A partir daí, começam a surgir dicas de como foi montado o protagonista, um dos maiores ícones na história da dramaturgia.

"O Ricardo III foi construído a partir da libido do ator que o interpreta. A gente é 'macunaíma', e utilizamos muito a libido. Não podemos montar um personagem depressivo. Só vale para uma possível adaptação alemã, quem sabe. Eles são mais sérios. Nós, não. Somos artistas da sobrevivência. A fome vem antes da moral e do direito", finaliza Gabriel Villela.

Serviço:

Sua Incelença, Ricardo III – Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, no Bebedouro (Largo da Ordem). Dias 29 e 30, às 19 horas. Entrada franca.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]