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Collaço: produtor tem a função social de “provocar uma ampliação de horizontes culturais” | Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Collaço: produtor tem a função social de “provocar uma ampliação de horizontes culturais”| Foto: Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Entre as atrações da Série Solo Música de 2013, projeto do produtor curitibano Alvaro Collaço que já chega à quinta edição na Caixa Cultural, estão recitais solo de rabeca e "música imaginária" grega de 200 a 500 a.C.– apresentações "raras", como ele gosta de frisar a cada produção inédita que traz para a cidade.

Collaço não é um caçador de raridades, mas sai do comum em suas empreitadas baseado em valores que defende apaixonadamente: os artistas que leva ao palco têm de acrescentar algo ao repertório do público.

"Você pode odiar o estilo, o gênero, o que for. Mas passar em branco, não", diz o produtor, em entrevista concedida nas proximidades da Praça do Gaúcho – região onde mora e mantém um escritório abarrotado de papeis e até materiais de sua última ópera.

Formado em jornalismo e educação artística, Collaço, aos 47 anos, vê na produção cultural uma função social maior que o viés comercial de todo trabalho. "O meu viés é provocar uma ampliação de horizontes culturais no público", diz. "O produtor cultural é quase um pauteiro – tanto de jornais quanto das conversas das pessoas."

As credenciais para tanto, de acordo com Collaço, vêm de uma relação de longa data com a música. O curitibano se apaixonou quando criança pelo rock por influência do irmão, Beto, que é músico e compositor. Alvaro chegou a estudar bateria, mas, reconhecendo sua própria indisciplina, acabou desistindo.

Ficaram os discos dos Beatles, Yes e Simon & Garfunkel trazidos pelo irmão mais velho e a paixão pela música e pela pesquisa. Hoje, Collaço compra, em média, 140 discos por ano – repertório de onde surge a pluralidade da sua curadoria, sempre fartamente amparada por informações históricas sobre as quais versa com fluência.

"A Série Solo Música, por exemplo, é um pouco a minha discoteca", conta. "Alguns recitais podem ser mais pop, trazer mais público, mas meu conceito de vida é trazer artistas que respeito musicalmente. Isso em primeiro lugar."

O conceito vem sendo seguido à risca desde o primeiro espetáculo produzido por Collaço, já que sua estreia na área foi um show do violonista Baden Powell (1937-2000), em 1994.

O produtor era assessor de imprensa do Hotel Rayon quando foi procurado para fazer um festival de violão. "Tive a honra de passar o dia conversando com Baden Powell", lembra.

Seria a primeira de muitas conversas com artistas que, de acordo com Collaço, formariam seu estilo de produção. Diante do célebre músico fluminense, Collaço percebeu seus limites como jornalista e sua vocação inata para a produção.

Desde então, foram cerca de 300 espetáculos – entre eles, Nelson Freire & Orquestra Sinfônica do Paraná, Arnaldo Cohen, Baden Powell, Orquestra do Século 18 de Amsterdã, Uakti, Ná Ozzetti, Monica Salmaso e Consuelo de Paula –, além de produções de CDs de artistas como Marília Vargas, Waltel Branco e o Trio Brandão-Kiun.

"O que mais fica dos concertos é o que está por trás dos palcos", diz. "São lembranças de camarim, de conversas sobre música, sobre a vida."

Da atração seguinte – o violoncelista búlgaro Anatoly Krastev –, veio outra ideia que, para Collaço, resume uma das principais motivações de sua profissão.

"Ele me disse uma coisa que me marcou para sempre: em um teatro, a réstia de luz entre o palco e plateia é o produtor. Ou seja, é o produtor quem liga o palco e a plateia", lembra.

"Se não fosse a Beth Moura, não teria um monte de gente jovem vindo para cá [da série Radar – A Nova Música Brasileira no Teatro Paiol]. Se não fosse O Torto, não estariam aqui o Jerry Adriani e o Odair José. Todas essas pessoas ajudaram a fomentar uma plateia", diz Collaço.

A "ampliação de horizontes culturais" desejada pelo produtor pode ser uma meta abstrata e a longo prazo, mas ele diz conviver diariamente com frutos imediatos. "Já vi várias vezes pessoas dizendo que seus dias tinham sido horríveis e saindo do teatro com o dia ganho. Há uma ação espiritual nisso", diz. "O meu trabalho como produtor é esse: propiciar esses encontros."

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