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Depeche Mode: a partir de maio, trio britânico parte rumo a uma extensa turnê mundial | Divulgação
Depeche Mode: a partir de maio, trio britânico parte rumo a uma extensa turnê mundial| Foto: Divulgação

Poucas são as bandas surgidas na década de 1980 que sobreviveram ao passar do tempo com tanta dignidade quanto os britânicos do Depeche Mode. Um dos primeiros grupos a estabelecer uma identidade sonora totalmente baseada no uso de sintetizadores – a banda é tida como precursora do synthpop –, o trio composto por Dave Gahan (vocais), Martin Gore (teclados, guitarras e vocais) e Andrew Fletcher (teclados), ao longo de quase três décadas de atividades, foi capaz de manter uma sonoridade concisa, à base de muita criatividade.

Não à toa, a música feita pelos mais célebres habitantes da pequena cidade de Basildon, Inglaterra, é referência de nove a cada dez grupos da nova geração, especialistas em reciclar influências da década retrasada. Exatamente por isso, não é de espantar que, mais cedo ou mais tarde, a sonoridade do Depeche Mode acabasse influenciando até a própria banda. É o que se ouve em Sounds of the Universe, 12º disco do grupo, lançado mundialmente ontem.

Obcecado por comprar equipamentos vintage no site de leilões virtuais eBay, o principal compositor do trio, Martin Gore, é dono de uma vasta coleção de teclados antigos e sintetizadores analógicos, acumulados desde os primeiros anos de atividade da banda. Durante as gravações do novo álbum, realizadas em Santa Bárbara e Nova Iorque, nos EUA, Gore investiu ainda mais na parafernália retrô, com a aquisição de diversos pedais de efeito para as guitarras.

Munidos dos mesmos instrumentos que ajudaram a criar os primeiros sons do que viria a ser um dos nomes mais importantes da música eletrônica mundial, Gahan, Gore e Fletcher recriaram sua própria sonoridade em Sounds of the Universe, com a vantagem da experiência acumulada pelos integrantes com o passar das décadas – após dois discos-solo, Dave Gahan agora também contribui com Gore nas composições. Some-se a tudo isso a produção do britânico Ben Hillier (do disco anterior, Playing the Angel), segundo a trabalhar em mais de um álbum da banda – o posto era antes ocupado por Flood (de Violator e Songs of Faith and Devotion).

O resultado de tal combinação de ingredientes fica evidente logo na primeira faixa do novo disco, "In Chains". Após um minuto de experimentações com teclados e sintetizadores (dignas de um filme de ficção científica), um corte brusco dá vez a acordes de órgão, logo preenchidos pela bela voz de Gahan, no melhor estilo gospel-blues. Aos poucos, a tão característica atmosfera sombria e densa, presente em outros trabalhos da banda, se faz completa e comandada por uma tortuosa linha de baixo.

Na sequência, "Hole to Feed" empresta a batida das canções de Bo Diddley para dar base a riffs funkeados de guitarra e camadas de teclados dos mais diversos tipos. Intensa e quase claustrofóbica, "Wrong", primeira faixa de trabalho do novo álbum, é descrita por Martin Gore como "o mais próximo do R&B que possivelmente a banda consegue chegar".

De linhas vocais tocantes, a ótima "Fragile Tension", narra, ao som de bom electro-rock, o resquício intenso de um sentimento que insiste em permanecer entre duas pessoas. Na mesma linha, a dançante "In Sympathy" combina seus elementos eletrônicos com elegância e sem exageros, assim como "Peace", a mais synthpop do novo trabalho. Sounds of the Universe ainda guarda espaço para as famosas baladas arrastadas, de vocais lânguidos, comuns na discografia do trio inglês, aqui representadas pelas ótimas "Perfect" e "Corrupt" e pelas entediantes "Little Soul" e "Come Back".

Combinando a acessibilidade do pop a seu próprio conceito de música eletrônica, o Depeche Mode mostra em seu novo álbum que a sonoridade da banda é resistente não apenas à passagem do tempo, mas à toda e qualquer reciclagem, inclusive à própria.

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