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Blues Velvet, inaugurado na última quinta-feira, é o terceiro palco de jazz na Rua Trajano Reis, ao lado do desbravador Wonka e do Espaço Cultural Alberto Massuda | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Blues Velvet, inaugurado na última quinta-feira, é o terceiro palco de jazz na Rua Trajano Reis, ao lado do desbravador Wonka e do Espaço Cultural Alberto Massuda| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Endereços

Confira os contatos das casas de jazz da Rua Trajano Reis, a Swing Street curitibana:

Titlunovel1 Wonka Bar (Rua Trajano Reis, 326), (41) 3014-6252 e 3026-6272. Quintas-feiras, a partir das 23 horas. Ingresso a R$ 8.

Espaço Cultural Alberto Massuda (Rua Trajano Reis, 443), (41) 3076-7202. Sextas-feiras, às 20h30, e sábados, às 21 horas. Couvert a R$ 4,50 (a música é apresentada no restaurante).

Blues Velvet (Rua Trajano Reis, 314), (41) 3538-3275. Terças-feiras, jazz experimental; sextas-feiras, jazz contemporâneo; e sábados, jazz tradicional. As apresentações começam às 22 horas. Ingresso a R$ 8 (de segunda a quinta) e R$ 10 (sexta e sábado).

  • Helinho Brandão: equilíbrio entre público, proprietário e músicos

Chamavam de Swing Street a Rua 52, de Nova Iorque, na primeira metade do século 20. A partir da década de 30, duas quadras em Manhattan eram o centro do jazz no mundo. (E não existe nenhum exagero na afirmação.)

Do saxofone alto de Charlie Parker ao trompete de Miles Davis, a 52 recebia todos – todos – os músicos que queriam experimentar as possibilidades do jazz em clubes como Downbeat e The Onyx. A cena local era tão influente que acabou inspirando o pianista Thelonius Monk a compor o standard "52nd Street Theme".

Inspirado da 52 nova-iorquina, o jornalista Roberto Muggiati, colaborador da Gazeta do Povo e autor de Improvisando Soluções e O Que É Jazz, batizou a Rua Trajano Reis de Swing Street de Curitiba – que chamou, carinhosamente, de "little apple".

A Rua do Suingue se explica porque, numa distância de cem metros ou nem isso, três casas dão espaço à música do improviso. O desbravador do gênero no bairro São Francisco apareceu há quatro anos no número 326. Na verdade, o Wonka abriu as portas com a disposição de ser conhecido como "bar de jazz". As quintas-feiras são as meninas dos olhos da proprietária Ieda Godoy, dia de Wonka Jazz Project.

A abertura do estabelecimento ocorreu pouco depois do fechamento do Original Café, um endereço-referência para a cena local. "Hoje, (o bar) é conhecido até fora da cidade e atrai músicos que passam por aqui a trabalho", diz Ieda. Exemplo: depois da apresentação do Seu Jorge, há duas semanas, vários integrantes de sua banda apareceram no Wonka para uma jam session.

Enquanto comentários de bastidores dizem que as casas de jazz não vão bem em São Paulo e no Rio – os cariocas perderam há pouco o Mistura Fina –, em Curitiba, o interesse do público sustenta uma programação jazzística variada.

O Espaço Cultural Alberto Massuda, no 443, veio em seguida, inaugurado no ano passado. É uma galeria de arte com restaurante e livraria, um "espaço multicultural", como define Cadri Massuda. Ele conta que a inclusão do jazz na programação musical do restaurante atendeu a um pedido dos frequentadores.

No Massuda, costumam se apresentar nomes fortes do jazz no Paraná: os pianistas Fernando Montanari e Gebran Sabbag, o baixista Boldrini e Saul Trumpet (adivinhe o instrumento que ele toca?).

O Wonka Jazz Project é encabeçado pelo saxofonista Helinho Brandão. Tanto o músico quanto todas as outras pessoas ouvidas pela reportagem pareciam animadas com a ideia da Swing Street curitibana, comparação inevitável (e divertida) desde a inauguração, na última sexta-feira, de uma filial do catarinense Blues Velvet no número 314.

No ano passado, o empresário Gil Eanes veio a Curitiba para convidar músicos dispostos a participar de um festival que realizaria em Florianópolis. As enchentes que isolaram várias cidades do estado obrigaram Eanes a passar oito dias na cidade. Fã de jazz e percebendo uma situação favorável para investir, decidiu que abriria um bar aqui.

Pesquisou lugares possíveis e estava prestes a desistir quando, por acaso, conversou com o dono de uma mercearia na esquina da Trajano Reis com a Paula Gomes. O preço camarada o levou a alugar um imóvel ao lado do Wonka.

Eanes acha "absolutamente essencial" os bares ficarem próximos uns dos outros. "É assim em toda parte", diz, em referência a endereços que se tornam conhecidos por abrigar lojas afins.

A pianista Marília Giller, responsável pela programação do Blues Velvet, conhece a noite curitibana há 30 anos e percebe que os bares são sazonais – fato confirmado por Brandão e por Jeff Sabbag, também pianista. Ela acha "fantástica" essa reunião de pessoas interessadas em jazz. Talvez a explicação seja o frio. "O inverno local cria um clima introspectivo que casa com o gênero musical, mais intimista", diz Marília.

Sabbag arrisca uma estatística: os bares em Curitiba, em média, duram dois ou três anos. Os de jazz vivem o dobro. Sobre o Wonka, ele diz que ali (aponta para o palco, que fica num porão, tal qual o célebre Village Vanguard, de Nova Iorque) "rola o jazz de verdade".

O barulho do público, que fica a centímetros da banda, e a liberdade dada aos músicos são perfeitos para se "tocar com vontade", nas palavras do trompetista Rogério Leitum. Este apareceu na última quinta, no Wonka, com o instrumento debaixo do braço parecendo faminto (por jazz).

Foi incrível perceber o público arredio nas primeiras músicas, bebendo e conversando sem prestar atenção ao que acontecia no palco. Em menos de meia hora, a banda seduziu o porão inteiro e não demorou para as pessoas começarem a dançar e a gritar entusiasmadas ao final de cada solo.

A Swing Street pode não durar para sempre – afinal, nada dura –, mas mostra que o equilíbrio entre público, proprietário e músicos (segundo Brandão, fundamental para uma casa de jazz dar certo) está perfeito até aqui.

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