• Carregando...
Pedro Herz entre seus filhos Fábio e Sérgio: família que sempre investiu no poder da palavra escrita | Fotos: Divulgação
Pedro Herz entre seus filhos Fábio e Sérgio: família que sempre investiu no poder da palavra escrita| Foto: Fotos: Divulgação
  • Loja curitibana terá três andares, com projeto arquitetônico de Fernando Brandão
  • Megastore da Avenida Paulista, em São Paulo, foi inaugurada no fim da década de 1960

Era uma dezena de volumes. Não muito mais do que isso. Com esses livros, todos em sua língua materna, que alugava a compatriotas e amigos que não falavam ainda o português, a imigrante alemã Eva Herz (1912-2001) iniciou, sem saber, um negócio que se tornaria um império das letras ao sul do Equador: a Livraria Cultura, que inaugura na próxima quarta-feira (14), no Shopping Curitiba, a sua 13.ª loja no Brasil.O negócio fundado por Eva, uma mulher culta, que valorizava o conhecimento e a literatura, aos poucos se transformou em livraria improvisada, ali mesmo na casa dos Herz na Alameda Lorena, no Jardim Paulistano, hoje bairro nobilíssimo de São Paulo. O negócio ajudou a sustentar os recém-chegados de origem judaica, que conseguiram escapar em 1938 da Alemanha nazista – e do Holocausto – no último minuto antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Como o governo de Getúlio Vergas, à época alinhado aos Países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), negou-lhes visto de entrada, os Herz primeiro desembarcaram na Argentina, mas sempre no intuito de se estabelecerem no Brasil. E aqui chegaram, em 1939, para fincar raízes.

Em entrevista à Gazeta do Povo, concedida por telefone, o filho mais velho de Eva e Kurt, Pedro Herz, hoje presidente do conselho administrativo da Livraria Cultura, contou que houve um momento em que, em 1947, uma escolha teve de ser feita: mudavam os livros ou a família. Assim surgiu, na já movimentada Rua Augusta, a primeira loja de um grupo que sempre apostou na força transformadora da palavra escrita.

"Acredito que um livro tem o poder de tirar uma criança da rua. Tenho certeza disso. É algo fantástico", diz Pedro, com a convicção de um empreendedor que acredita na expansão de seu negócio, a despeito do que vem ocorrendo no chamado mundo desenvolvido, em países da Europa e nos Estados Unidos, onde lojas do gênero fecham em cascata, cedendo lugar ao comércio digital e à pirataria. "No Brasil, há um déficit de livrarias físicas, há ainda uma grande demanda a ser satisfeita. Estamos convencidos disso."

Presente nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo (na capital e em Campinas) e em Brasília, a Livraria Cultura chega a Curitiba com tudo que tem direito. Em 3 mil metros quadrados, distribuídos nos três andares da loja, projetada pelo arquiteto Fernando Brandão, os curitibanos vão encontrar em torno de 150 mil títulos, de romances a livros de arte publicados pelo Museu Arte Moderna de Nova York (MoMA), passando por revistas importadas, quadrinhos, CDs e DVDs.

Herz, entretanto, lembra que a Cultura trabalha com um catálogo de – pasmem! – 4,5 milhões de títulos, e se o cliente não encontrar o que procura na loja, poderá fazer sua encomenda ali mesmo, no balcão, graças a um sistema informatizado que interliga os estoques do país, além de também viabilizar compras diretas das editoras e distribuidoras.

A aquisição também pode ser feita de casa, pela internet, no site da livraria – www.livrariacultura.com.br –, que hoje responde por 18% do total das vendas. "A rede é a nossa segunda maior loja. Só perde para a matriz, em São Paulo", diz ele, referindo-se à megastore instalada no Conjunto Nacional da Avenida Paulista, onde a primeira Cultura do centro comercial foi inaugurada em 1969, no mesmo espaço hoje ocupado pela filial compartilhada com a editora Companhia das Letras, que a usa com exclusividade para a venda de seu catálogo. Há, no mesmo complexo da Paulista, outras duas unidades com esse mesmo perfil exclusivo, uma com publicações do Instituto Moreira Salles e e outra da Record

Atendimento

Um dos diferenciais mais notáveis da Cultura sempre foi o atendimento. Muito bem treinados, os funcionários conhecem os produtos com os quais trabalham. Sabem quem são os autores, têm noção de quais são suas obras. "O nosso sistema de informática também os auxilia muito na tarefa de ajudar da melhor forma possível a clientela a encontrar o que procura, mas temos, sim, um departamento de Recursos Humanos eficiente."

Todos os atendentes da Cultura precisam ter curso superior completo e, ao serem contratados, podem manifestar suas áreas de interesse e, na medida do possível, explica Pedro, a empresa tentará colocá-los em funções afinadas com seus gostos pessoais, sejam eles literatura infantil, cinema ou música erudita. A loja curitibana empregará em torno de 120 funcionários.

Teatro

A filial curitibana, a exemplo da megastore da Avenida Paulista e de algumas outras no país, terá um Teatro Eva Herz, homenagem à matriarca e fundadora da Cultura. A sala de espetáculo, em condições técnicas de receber espetáculos musicais e teatrais de perfil mais intimista e camerístico, além de palestras e outros eventos do gênero, passará a integrar um circuito hoje coordenado pelo ator Dan Stulbach, atualmente no ar como o Paulo da novela das nove, Fina Estampa. O palco, contudo, também estará disponível para uma agenda local, garante Pedro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]