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Mais de quarenta obras de Carlos Drummond de Andrade serão reeditadas | Marcel Gautherot/Divulgação
Mais de quarenta obras de Carlos Drummond de Andrade serão reeditadas| Foto: Marcel Gautherot/Divulgação

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Reedições

A Rosa do Povo, Sentimeno do Mundo, Contos de Aprendiz, Claro Enigma e Fala, Amendoeira, de Carlos Drummond de Andrade. Companhia das Letras. Preço médio: de R$ 15 a R$ 34.

Já faz mais de um ano que a Companhia das Letras anunciou a aquisição dos direitos da obra do poeta mineiro Carlos Drummond de An­­drade (1902-1987), mas foi só no último mês de março que os primeiros volumes lançados pela editora chegaram ao mercado. Publicado anteriormente pelo grupo editorial Record, a troca de casas de Drummond, que partiu de uma decisão dos próprios herdeiros do poeta, pode ter sido o pivô de uma crise no grupo que culminou com a saída da diretora editorial Luciana Villas-Boas. Mas o fato é que a migração de autores já consagrados parece ser uma constante no mercado. Assim como Drummond, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles e Erico Verissimo migraram, respectivamente, das editoras Record, Rocco e Globo de Porto Alegre, para a Companhia das Letras. Mário Quintana também deixou a Globo para ser editado pela Objetiva; Rubem Fonseca deixou a Companhia e foi para a Nova Fronteira; Nelson Rodrigues, da Companhia das Letras para a Agir, e por aí vai. Para as empresas, a aquisição de nomes de peso da literatura nacional pode ser vantajosa no modelo da cauda longa, ou seja, ainda que a procura não seja tanta, pode ter vendas virtualmente garantidas a longo prazo.

Investimento

Entretanto, relançar uma obra em uma nova editora não garante um aumento na qualidade do material, tampouco um súbito interesse do público leitor. Para valer o investimento, as editoras, muito mais do que simplesmente publicar os livros, tratam de criar uma nova identidade visual para a obra, além de agregar valor a ela com ações e material extra.

As efemérides ajudam as vendas. O portal Livronauta, por exemplo, registrou no último mês um aumento de 20% na procura por livros de Nelson Rodrigues, já que em 2012 comemora-se seu centenário. O caso de Drummond não é diferente: além de ser homenageado na Festa Literária Internacional de Pa­­­raty (Flip) deste ano, 2012 marca os 25 anos da morte do artista. "No ano passado, quando o Instituto Moreira Salles instituiu o primeiro Dia D [31 de outubro, em comemoração ao aniversário de Drummond], já houve uma procura maior. As datas comemorativas ajudam a ventilar a obra e a importância do autor homenageado", afirma Leandro Sarmatz, editor da Companhia das Letras responsável pela coleção Carlos Drummond de Andrade. A editora se comprometeu a relançar em quatro anos os mais de 40 volumes escritos pelo mineiro, e de acordo com Sarmatz, sete deles sairão ainda esse ano, além dos cinco já lançados. A rede da Livraria Cultura já registrou um aumento de 314% nas vendas do autor em comparação ao ano passado.

Sarmatz é membro do conselho editorial que trabalha nas obras de Drummond, do qual fazem parte dois netos do escritor e outros editores. Juntos, recolhem fotos, documentos e primeiras edições dos livros, reproduzidos nas primeiras páginas, além de encomendar posfácios especialmente feitos para cada livro. "A identidade visual acaba servindo não só como uma demonstração da qualidade do escritor, mas também como uma espinha dorsal, que orienta o leitor a procurar outras obras dele".

Clássicos

Outros clássicos reeditados, embora mostrem uma eficiência no trabalho da edi­­­tora, continuam vendendo pouco a longo prazo. Um importante livro de contos, como Seminário dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles, por exemplo, vendeu 87 exemplares entre o começo de 2009 até hoje em toda a rede das Livrarias Curitiba, a maior do Paraná, com média de 22 por ano, contra 14 exemplares vendidos em 2008, quando o livro era editado pela Rocco. A procura é maior com outro clássico, Capitães da Areia, de Jorge Amado: de 667 vendidos na rede entre 2009 e 2010, passou a quase dois mil exemplares nos últimos dois anos, período em que foi incluído em várias listas de livros obrigatórios para concursos vestibulares – trabalho geralmente também atribuído à editora, que faz uma campanha para a adoção desses livros por processos seletivos e leituras nas escolas, obviamente interessados em escoar a grande tiragem. "Se não houver um trabalho forte da editora, de di­­­vulgação e adoção, a procura é baixa. O leitor brasileiro atual opta pelos livros mais vendidos e de linguagem mais simples.", comenta João Alécio, assessor de imprensa da rede de livrarias.

As campanhas da editora para as novas edições de Drummond em redes sociais e mídias externas, além dos ciclos de palestras para debater a obra do escritor podem impulsionar as vendas além das comemorações programadas para o ano. Mas é cedo pa­­­ra dizer se, a longo prazo, Drummond venderá mais na nova casa editorial ou se apesar de sua grandiosidade, perpetuará o clichê de que poesia não vende.

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