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"Se alguém pedir indicação para chegar a um lugar aqui pertinho, é provável que a gente não saiba responder", brinca o chefe da equipe técnica do Guaíra, Cleverson Cavalheiro. Ele vê o Guaíra como um mundo à parte, onde as pessoas vivem alienadas.

Realmente. Os funcionários respiram trabalho, e parecem não se importar (embora tenham a esperança de um novo aumento salarial). Não raro, as oito horas diárias de expediente extrapolam para doze, treze horas, se não mais. Isso acontece nos dias de espetáculo – quase diários –, quando as equipes técnica, de manutenção e de limpeza precisam deixar tudo pronto para a chegada dos artistas e do público.

Haroldo Sosinski, de 52 anos, coordena a equipe de manutenção. Além do trabalho rotineiro, ele está acostumado a receber telefonemas à noite e nos fins de semana, solicitando reparos de emergência. "Pode ser uma torneira vazando, uma poltrona quebrada, uma lâmpada queimada. Temos que estar a postos", diz. Há 36 anos, o funcionário, admitido como office-boy, visita diariamente cada cantinho do teatro, para verificar se tudo continua funcionando direitinho.

As "meninas da limpeza", como são chamadas carinhosamente pela supervisora do setor, Dona Cleuza de Oliveira, faxinam banheiros, limpam os carpetes e poltronas, varrem os saguões. Depois da apresentação, elas limpam tudo de novo. A sujeira varia de acordo com o espetáculo. Quando tem show de rock ou apresentações para as escolas, Dona Cleuza reclama. "Minha filha, é uma bagunça! Tem gente que pensa que porque o teatro é do Estado pode estragar", conta. No show da banda Los Hermanos, não quis nem ver. "Cheguei a chorar de tanta tristeza", lamenta.

Dona Cleuza, de 53 anos, trabalha no Teatro Guaíra há 13 anos. Começou como servente, fez limpeza e chegou a ser porteira. Hoje, coordena uma "turminha boa" de 17 funcionárias – só cinco estatutárias. "Amo aquilo que faço", conta.

Os funcionários da equipe técnica também ficam para o final da festa. É o momento de desmontar o palco e adiantar parte do trabalho do dia seguinte. "O trabalho vai até a uma da manhã e recomeça na manhã seguinte", conta Cavalheira, chefe do setor.

Ele conversou com o Caderno G enquanto coordenava a montagem de dois espetáculos no Guairão. Da metade do palco para a frente, montava-se o show de B.B. King. Da metade para trás, a equipe cenotécnica finalizava a fabricação dos objetos de cena de O Quebra Nozes, balé do próprio Teatro Guaíra.

Não importa o espetáculo. Os técnicos do Guaíra realizam uma pré-produção detalhada até mesmo para pequenas apresentações – o que faz o trabalho ser reconhecido nacionalmente pelo profissionalismo.

"B.B. King ou o grupo de teatro do Cajuru tem a mesma importância para nós", diz Cavalheiro. A pré-produção de O Quebra Nozes, por exemplo, levou seis meses para ficar pronta. "É como um joguinho de xadrez", completa o técnico.

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