Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
música

A última do romântico

Astro espanhol Julio Iglesias vem a Curitiba para dois concertos de sua derradeira turnê mundial. Em entrevista exclusiva, cantor confirma lenda curitibana e fala de amores e filosofia

Julio Iglesias curitibano: cantor já deu canja em boate boêmia e teve um grande amor na cidade | Divulgação
Julio Iglesias curitibano: cantor já deu canja em boate boêmia e teve um grande amor na cidade (Foto: Divulgação)

Uma das mais célebres e divertidas "lendas urbanas" da mitologia local ganha hoje a sua versão definitiva. O cantor espanhol Julio Iglesias, artista latino que mais vendeu discos na história, o latin lover que seduziu três gerações de mulheres no mundo todo, confirmou em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo que realmente cantou algumas de suas músicas numa incógnita "canja" no Gato Preto, o mais tradicional reduto boê­mio no bas-fond do Centro de Curitiba.

"Cantei, cantei e cantei. Me lembro perfeitamente, como se fosse ontem. Caminhei até lá, entrei no local e cantei algumas músicas com o pianista que estava tocando por lá", afirma Julio.

O astro conversou com a reportagem na semana passada, pelo telefone de sua casa na paradisíaca praia caribenha de Punta Cana, na República Dominicana. No dia seguinte, o cantor embarcou para São Paulo, para dar início àquela que possivelmente será sua última grande turnê pelas capitas brasileiras.

Dois concertos estão marcados no Teatro Guaíra, o primeiro na próxima quarta-feira, dia 1.º de outubro, e uma apresentação extra no dia 8.

Amável e bem-humorado, o cantor se diverte com o fato de que seu passeio noturno pelo Centro tenha virado lenda. Disse não se lembrar de mais detalhes – como quais músicas cantou – mas concorda que sua inusitada performance pode ter ocorrido durante sua turnê em 1998.

E explica que o motivo de manter uma lembrança tão viva do episódio é o fato de Curitiba ser uma "cidade muito especial", para ele."Tenho um carinho muito grande [por Curitiba]. Por muitas razões. Em especial, porque tive aí um grande amor, que eu adorava. Imagino que ela ainda viva na cidade", suspira.

"Também por isso, é uma das poucas cidades das quais lembro do hotel, do restaurante, das ruas, das pedras nas calçadas. Uma cidade moderna, interessante, contemporânea. Possivelmente, a mais organizada do Brasil", afirma.

Aos 71 anos, Julio Iglesias é o astro mais superlativo em atividade na linhagem dos grandes cantores românticos do século 20. Detentor de todos os recordes possíveis em seu segmento. Seus 80 discos – álbuns de carreira replicados em vários idiomas, coletâneas, e registros ao vivo – venderam mais de 300 milhões de cópias em todo o mundo. O que lhe rendeu mais de 2,6 mil discos de ouro, platina e diamante. "Foi meu pai que comprou a metade", brinca o cantor.

Estima-se que mais de 60 milhões de pessoas já tenham assistido (incluindo os "gatos-pretos pingados" daquela noite em 98) a seus mais de cinco mil shows na carreira iniciada há 45 anos.

"As coisas simplesmente aconteceram. Não houve um dia em que me levantei e pensei ‘vamos fazer isso, cantar esta música, porque as pessoas do mundo todo vão comprar’. Não funciona assim", analisa.

Em tom filosofal, ele diz que as dúvidas que sempre cultivou sobre o próprio trabalho o impulsionaram ao sucesso. "Na vida de um artista é essencial. É a parte mais criativa que te impulsiona a melhorar. A dúvida sempre faz com que o esforço seja maior, pois você tem a ideia de que ele o libertará", observa.

Julio se diz realizado e afirma ter apenas um arrependimento na carreira: "Não ter aprendido antes".

O tema lhe dá oportunidade de expor sua teoria para uma revolução no sistema educacional que gostaria de ver implementada em escala mundial. "Uma das coisas mais importantes do mundo seria uma cátedra que falta em todas as escolas e universidades. Uma cadeira sobra a vida. O nome da disciplina seria ‘Eu’", propõe.

"Funcionaria assim: o professor chegaria na sala de aula e falaria: ‘Juanito, vamos saber um pouco de você’. O professor ajudaria as crianças a descobrir quem são, de onde vêm e o que pensam e sonham. Desde a genética, até se você pode comer sal, se a família tem histórico de cardiopatias. Depois de saber do corpo, se investiga a alma. Se você conhece os próprios corpo e alma antes dos outros, sai na frente", avalia.

Ele mesmo se questiona se tivesse sido submetido a processo semelhante teria se tornado uma estrela do showbiz internacional. "Não sei. Não acredito nas teorias deterministas, de que as pessoas nasçam destinadas a fazer algo. Um homem é um homem e suas circunstâncias", filosofa, citando o compatriota Ortega y Gasset (1883-1955). "As circunstâncias nos fazem redefinir as coisas na nossa vida", afirma.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.