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Morra jovem e deixe um belo cadáver. Não se sabe ao certo quem é o autor dessa frase um tanto mórbida. Mas, não seria uma surpresa se tivesse sido proferida por alguém que conheceu o show biz do lado de dentro. De Rodolfo Valentino a River Phoenix, passando por Marilyn Monroe e Cássia Eller, o mundo do entretenimento está repleto de defuntos que não chegaram a acumular rugas e tampouco sentiram na boca o amargo sabor da decadência.

Dentre esses cadáveres ilustres que jamais chegaram aos 40, o mais icônico é, sem dúvida alguma, o de James Dean. Tanto que, com o passar das décadas, sua imagem de garoto ao mesmo tempo sensível e desajustado acabou se tornando uma espécie de símbolo do que foi ser jovem no atribulado século 20.

Morto aos 24 anos, em 1955, Dean pode não ter ter sobrevivido ao brutal acidente automobilístico que lhe arrancou deste mundo, mas certamente assegurou seu lugar na eternidade ao sair de cena em um momento em que prometia se tornar o maior astro de cinema de sua geração. E olha que a concorrência era pesada: Marlon Brando, Montgomery Clift e Paul Newman disputavam, com beleza e talento, esse trono.

O documentário James Dean – Para Sempre, de Michael Sheridan, investe justamente nessa tese, a da cristalização de uma imagem. Recém-lançado em DVD no Brasil, o filme foi exibido em 2005 no Festival de Cannes. A repercussão foi tão positiva que os produtores, que o haviam pensado como um produto para a TV a cabo, também o lançaram nos cinemas.

A história de Dean se parece com outras tantas trajetórias de astros que alcançaram a fama apesar – ou, segundo alguns biógrafos, em decorrência – de uma infância e adolescência difíceis, senão dolorosas. Ainda garoto, Jimmy, como os íntimos o chamavam, perdeu a mãe. O pai, disposto a recomeçar a vida e formar outra família, o despachou para a casa de parentes. Essa rejeição jamais foi superada e fez de Dean um jovem triste, ansioso e sempre ávido por uma figura paterna.

Para Donald Spoto, autor do mais interessante livro sobre o ator, esse vazio deixado pelo afastamento do pai e a busca por um mentor que lhe proprcionasse um modelo de masculinidade a ser seguido se refletem na relação por vezes atribulada, mas certamente intensa que Dean manteve com os poucos diretores com quem trabalhou, sobretudo Elia Kazan (de Vidas Amargas) e Nicholas Ray (de Juventude Transviada).

James Dean – Para Sempre, contudo, não tem como principal, ou único, foco a carreira cinematográfica de Dean (leia quadro). Como muitos já conhecem bem essa fase, Sheridan fez uma pesquisa bastante completa de todo material existente a respeito dos trabalhos que o ator fez na televisão norte-americana, onde chegou a se tornar uma espécie de quase celebridade, e no teatro.

O filme também dá uma certa ênfase à intensa vida amorosa de Dean, dado a grandes e intempestívas paixões – sobretudo pela jovem estrela Pier Angeli, identificada como o grande amor da vida do astro. Em suas entrelinhas, James Dean – Para Sempre também fala de possíveis envolvimentos do ator com outros homens, como Sal Mineo, com quem contracena em Juventude Transviada.

O que alguns dos fãs mais ardorosos de Dean podem estranhar no trabalho de Michael Sheridan é sua tentativa, mesmo sem ter buscado o viés do sensacionalismo, de não se render ao mito James Dean. O documentário, muito bem-realizado e nada laudatório, evita uma visão romântica e afetiva, buscando mostrar o quão excêntrico, neurótico e por vezes até mesmo histérico o astro podia ser, especialmente quando contrariado. Não é, portanto, um filme de tietagem pura e simples, mas de busca por detalhes que não apenas esclareçam mais problematizem uma figura que povoa o imaginário de todos que pretendem compreender a importância do cinema no século passado. GGG1/2

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