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Olhos Azuis: correto tecnicamente, mas incoerente | Fotos: Divulgação
Olhos Azuis: correto tecnicamente, mas incoerente| Foto: Fotos: Divulgação
  • Só Dez Por Cento É Mentira: entrevista com Manoel de Barros

Paulínia (SP) - Um filme-poema. Um documentário sobre o mato-grossense Manoel de Barros (O Livro das Ignorãça, entre outros) não poderia ter outra forma. Afinal, como contar a trajetória desse poeta de biografia inventada a não ser unindo-se a ele na poesia? Assim fez o diretor Pedro Cezar (de Fábio Fabuloso, que recebeu o prêmio de júri popular como melhor documentário no Festival Inter­na­cional do Rio em 2004) em Só Dez Por Cento É Mentira, que arrancou lágrimas e aplausos demorados do público que acompanha o Fes­tival Paulínia de Cinema, na noite de terça-feira (14).

Diante das várias negativas de Manoel de Barros em lhe conceder uma entrevista "falada" – o autor, há anos recluso em sua fazenda no Pantanal, prefere a palavra escrita à palavra oral –, Cezar não encontrou argumentos. "Era só um sonho", disse, conformado. Após um longo silêncio, o inventor do "dialeto manoelês" decidiu voltar atrás: "Pode trazer suas tralhas".

Se "a invenção serve para au­­mentar o mundo", o diretor decidiu criar um documentário baseado em invenções. Ele une a fantástica entrevista que obteve de Manoel de Barros a depoimentos de "leitores contagiados", só revelados com nome e sobrenome no final. Sua melhor defesa é o verso que virou título do filme: "Tenho uma confissão a fazer/ do que escrevo/ 90% é invenção/ só 10% é mentira".

O diretor carregou um pouco no clichê ao incluir, por exemplo, cenas bucólicas de crianças brincando no rio entre as imagens de cobertura. Mas compensa os deslizes revelando as cores e texturas de paredes descascadas, muros e fachadas antigas, em uma fotografia "pior do que a poesia de Manoel de Barros", como diria um dos entrevistados, mas em sintonia com os versos do poeta.

Preconceito

Depois da leveza do primeiro filme, a ficção Olhos Azuis, de José Joffily (Dois Perdidos Numa Noite Suja) expõe ao público, um tema árduo: o preconceito. O filme se apropria da estética de um típico filme de suspense norte-americano para contar a trajetória de redenção de Marshall (David Rasche), ex-chefe de departamento de imigração do aeroporto JFK, em Nova Iorque.

A narrativa é contada em dois momentos. No tempo presente, acompanha a viagem de Marshall para Pernambuco para procurar a filha do homem que arruinou. Nesta jornada pelo Brasil profundo ele é acompanhado por uma prostituta com todos os esterótipos "dispensáveis": pele morena, sensualidade, pele à mostra e que fala ótimo inglês.

Em flashbacks, a narrativa mostra Marshall em seu último dia de trabalho antes da aposentadoria. Racista, ele decide complicar a entrada no país de um grupo de imigrantes latino-americanos, entre eles o brasileiro Nonato (Irandhir Santos), uma dançarina cubana (Branca Messina) e um casal de traficantes argentinos.

Para desespero dos subordinados, uma negra e um descendente de mexicanos, ele leva a brincadeira às últimas consequências. O caminho que tenta trilhar após o trágico incidente que provoca é o da redenção: em Recife, ele procura pela filha de Nonato, o homem que atacou.

Tecnicamente correto, o filme é incoerente: esteticamente segue a cartilha cinematográfica do alvo de crítica e espelha-se no racismo de seu protagonista ao traçar um discurso maniqueísta e sem sutilezas, que alimenta preconceitos ao esterotipar os norte-americanos como os maus de olhos azuis, as mulheres cubanas como sensuais e os argentinos como bandidos e malandros. Só para citar alguns deslizes.

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