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Fotografias de Curitiba, lugar “de uma beleza solitária” e um dos temas abordados por Sanches Neto: “A cidade e eu mantemos uma relação amorosa nunca efetivada”, escreveu o ex-cronista | Eduardo Aguiar/Especial para a Gazeta do Povo
Fotografias de Curitiba, lugar “de uma beleza solitária” e um dos temas abordados por Sanches Neto: “A cidade e eu mantemos uma relação amorosa nunca efetivada”, escreveu o ex-cronista| Foto: Eduardo Aguiar/Especial para a Gazeta do Povo

Cidades Alugadas

Miguel Sanches Neto. Container Edições, 208 páginas, R$ 30. Crônicas. Distribuído pela editora Arte e Letra.

Vista-se Logo, Querida

Miguel Sanches Neto. Container Edições, 192 páginas, R$ 30. Crônicas. Distribuído pela editora Arte e Letra.

Uma Outra Pele

Miguel Sanches Neto. Container Edições, 200 páginas, R$ 30. Crônicas. Distribuído pela editora Arte e Letra.

O escritor Miguel Sanches Neto faz 50 anos no dia 24 de julho de 2015. À sombra da data, ele diz ter sentido a necessidade de "organizar o passado". Foi assim que decidiu criar a editora Container junto com a esposa, a designer Juliana Sanches, para publicar de arrancada três volumes de uma série de antologias. Mais que reunir as crônicas que escreveu entre 1993 e 2012, ele criou a chance de organizar sua produção para jornais como Gazeta do Povo e Folha de S.Paulo.

"É uma espécie de ajuste de contas com o cronista que fui", diz Sanches Neto. "A crônica foi o gênero que mais tardiamente comecei a praticar. Havia escrito poemas, contos, crítica e romance quando me dediquei a essa anotação livre sobre o cotidiano. E foi o único que parei de escrever. E por um motivo: a crônica me roubava ideias, frases, observações e personagens que poderiam servir para contos e romances."

Ao reler textos de até 20 anos atrás, ele conta que ficou admirado com a coragem de escrever sobre fatos íntimos no jornal. "Boa parte dos textos é de autoficção na sua forma mais plena. Assim, posso dizer que mudei pouco, tendo apenas ganhado mais velocidade narrativa", diz.

Com seleção do próprio autor, buscando os textos que resistiram ao tempo, os três primeiros volumes de crônicas se ocupam dos lugares em que ele viveu (Cidades Alugadas), da vida entre os livros (Uma Outra Pele) e de textos mais próximos da ficção (Vista-se Logo, Querida).

O plano é publicar sete volumes que vão reunir cerca de 90% de todas as crônicas escritas por Sanches Neto em duas décadas. Ele optou por não indicar o veículo em que foram publicadas, apontando apenas o mês e o ano ao fim de cada texto. E fez isso inspirado em Rubem Braga, "para desvincular os textos da circunstância de produção, situando-os apenas no tempo. É uma tentativa de dar independência às narrativas", explica.

Entrevista

Crônicas resistiram ao tempo

Para o escritor Miguel Sanches Neto, a melhor parte do trabalho de editar um livro é conseguir "dar uma face impressa para textos que admiramos".

Por que criar uma editora?

Nos últimos anos, houve uma inserção maior do escritor e do editor brasileiros no mercado internacional e isso fez com que se definisse um padrão de literatura viável comercialmente. O interesse recai sobre romances inéditos, legando a segundo plano os demais gêneros literários e a reedição mesmo de romances. Neste contexto, o papel das pequenas editoras é fundamental para atuar em nichos específicos. Digamos que elas produzem para os fãs do autor e não para o público leitor em geral. O seu segundo público é o leitor que toma emprestado livros em bibliotecas ou participa de projetos de leitura. A Container, assim, reedita o projeto da Imprensa Oficial [onde Sanches Neto trabalhou como editor], que era produzir livros ligados ao Paraná e colocá-los gratuitamente nas bibliotecas públicas. A diferença agora é que o foco são os meus livros ou as minhas preferências como leitor.

Qual é a pior parte de editar um livro?

É a revisão. Por melhor que seja o revisor, sempre há dúvidas, escapam problemas, mesmo você tendo relido o material diversas vezes. Faço duas leituras do livro antes de mandar para o revisor e duas depois que ele entrega o material – uma antes e outra depois da diagramação. E quando recebo o primeiro exemplar impresso, dá sempre um medo de ter passado algo. E é batata, folheio o livro e abro na página em que tanto eu quanto o revisor cochilou.

E qual é a melhor?

É poder dar uma face impressa a textos que admiramos.

Por que reunir as crônicas em livro?

Entre 1993, quando fiz as primeiras crônicas para o jornal A Notícia, de Joinville, e 2012, quando interrompi minha coluna na Gazeta do Povo, produzi centenas de crônicas. Nunca fui pautado pelo fato jornalístico, escrevi muito sobre minha própria vida ou mesmo pequenos textos de ficção. Ou seja, exerci uma crônica com intenções literárias. Ao parar de escrevê-las, pensei em fazer mais uma coletânea – eu já havia publicado quatro: Herdando uma Biblioteca (Record, 2004), Impurezas Amorosas (Leitura, 2006), Um Camponês na Capital (Aymará, 2009) e De Pai Para Filho (Scipione, 2010). Comecei a definir um conjunto de crônicas até perceber que havia uma unidade interna e que elas podiam figurar em volumes temáticos. Os três primeiros volumes de uma coleção que terá sete títulos tratam de seres e situações inusitadas, de cidades e da escrita. Com isso, acabei recuperando uns 90% das crônicas produzidas em duas décadas. Na minha avaliação, elas não envelheceram. Contou também que, sendo um escritor prolífico, e estando às vésperas dos 50 anos, senti a necessidade de organizar o passado, de deixar definido quais são os textos que eu gostaria de ver em livros.

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