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Anselmo Duarte ficou visivelmente emocionado ao ser aplaudido de pé por uma platéia que lotou a Cinemateca de Curitiba na segunda-feira passada, quando o cineasta falou sobre suas experiências atrás das câmeras. Recebeu as manifestações de admiração do público como alguém que hoje está acima do bem e do mal, mas ainda marcado pela inveja e injustiças que afirma ter sofrido no passado.

Aos 85 anos, a responsabilidade que carrega é ainda das mais pesadas. É o único cineasta brasileiro a ter vencido a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cinema de Cannes, na França. Foi em 1961, quando seu segundo longa-metragem, O Pagador de Promessas, derrotou os hoje clássicos da cinematografia mundial O Eclipse, de Michelangelo Antonioni; O Processo de Joana D’,Arc, de Robert Bresson; e O Anjo Exterminador de Luís Buñuel, entre outros.

Falando entusiasmado ao microfone, o cineasta relembrou como foi voltar ao Brasil. Em São Paulo, Duarte foi aguardado por um veículo do corpo de bombeiros, pronto para desfilar. "Era um clima de Copa do Mundo. As pessoas viram um caminhão dos bombeiros passando comigo lá em cima. Eu segurando aquela palma dourada e a multidão perguntando, ‘Quanto foi? Quanto foi?’ ‘Seis a zero!’ gritava eu," relembra. O Brasil era mais a terra do futebol do que do cinema, fato que seu prêmio ajudaria a começar a mudar ao abrir um caminho para produção engajada do Cinema Novo no exterior.

No Rio de Janeiro, a recepção ao premiado foi mais fria, o primeiro indício daquilo que Duarte interpretaria como hostilidade e a inveja de seu sucesso. O filme e o prêmio abalariam suas relações com o cinema nacional, deixando seqüelas permanentes na sua recém-iniciada carreira. Tudo teria, segundo ele, começado a dar errado, processo que culminaria na rejeição ao seu filme mais ambicioso, Vereda da Salvação.

Duarte não tinha o engajamento nem a formação intelectual de seus detratores. Queria fazer cinema desde os tempos de menino, quando era engraxate e molhador de tela (tinha de umedecer os tecidos das telas de cinema para que não queimassem). Deixou Salto, cidade do interior de São Paulo onde nasceu, para seguir ao Rio de Janeiro depois de ver um anúncio sobre It’s All True, o naufragado projeto de longa-metragem que Orson Welles tentou realizar no Brasil. Acabou seguindo a carreira de ator, "bem canastrão de começo", como ele mesmo admite. Tornou-se galã fazendo as chanchadas carnavalescas da Atlântida e filmes da Vera Cruz. Carnaval de Fogo e Tico-Tico no Fubá, alguns de seus grandes sucessos, fizeram a sua fama crescer, a ponto não poder sair na rua, tamanho era o assédio dos fãs.

"Eu era ator, mas se discordava do diretor, não deixava filmar", conta, para dar uma idéia da extensão do poder que tinha à época. A ambição de se tornar diretor de cinema – que é como ele se autodefine hoje – se concretizaria no elogiado Absolutamente Certo!, em 1957. Ganharia a Palma de Ouro já no filme seguinte.

Em entrevista ao Caderno G, Anselmo falou de crítica e cinema nacional. Clique aqui para ler.

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