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Mestre Didi conseguiu verter em esculturas de muita força plástica as características de sua religião | Lalo de Almeida/Folhapress
Mestre Didi conseguiu verter em esculturas de muita força plástica as características de sua religião| Foto: Lalo de Almeida/Folhapress
  • Obra de Mestre Didi estão expostas em várias partes do país

O artista plástico, escritor, ensaísta e líder espiritual Deoscóredes Maximiliano dos Santos, popularmente conhecido como Mestre Didi, morreu no último domingo, em Salvador, aos 95 anos. O artista era famoso por representar elementos da cultura afro-brasileira em suas obras, como os orixás e os exus, temas recorrentes de suas esculturas.

Além das capacidades de escultor, Mestre Didi também era conhecido por liderar a comunidade espiritual nagô. Ele era filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, também chamada de Mãe Senhora, uma das principais mães de santo do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, de Salvador.

O artista não costumava falar sobre sua obra nem sobre si próprio. Ele chegou a expor em Gana, Senegal, Inglaterra e França, além do Guggenheim, em Nova York. No Brasil, ganhou reconhecimento após a 23.ª Bienal de São Paulo, em 1996, quando recebeu uma sala apenas para suas obras.

Mestre Didi lutava desde 2011 contra as consequên­cias de um câncer de próstata. Era casado com a antropóloga Juana Elbein dos Santos. Deixa a filha, a cantora Inaicyra Falcão dos Santos.

"Estive com o Mestre Didi há três dias, ele estava acamado. Ele foi um personagem importante na Bahia, um catalisador do culto aos ancestrais, sendo filho de uma das maiores ialorixás da Bahia, a Mãe Senhora. Era um homem de grande interesse nesse universo afro-brasileiro. Foi um homem extraordinário. É uma perda irreparável, porque sem ele a religião afro-brasileira fica mais empobrecida. Como artista, ele foi muito longe, participou até da mostra Magiciens de la Terre, no Pompidou. Ele ganhou prestígio nacional com suas obras. Temos 40 obras dele no acervo do Museu Afro Brasil e pretendo fazer uma grande mostra em homenagem a ele. Ele foi o princípio de uma nova linguagem brasileira com profundas raízes africanas", disse Emanoel Araujo, diretor do Museu Afro Brasil, em São Paulo.

Religião

Mestre Didi era também o homem que conseguiu verter em esculturas de muita força plástica as características de sua religião e da cultura afro-brasileira. Tornou-se, assim, um dos grandes artistas do país, por sua originalidade.

"O trabalho dele é de uma potência plástica e ainda atravessa o universo simbólico, ritualístico. Deixá-lo apenas dentro do escaninho da arte popular é um pouco redutor. Ele consegue ultrapassar esse universo para falar de outras experiências simbólicas e culturais, que não apenas as da cultura popular. Fazer essa articulação é a importância dele", afirmou Luiz Camillo Osorio, curador do MAM do Rio, onde atualmente há obras de Mestre Didi, do acervo do museu, em exibição.

Suas peças estão espalhadas pelo país, muitas delas em Salvador, como as do Parque das Esculturas, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). Mestre Didi também foi escritor: publicou mais de 20 títulos – o primeiro deles ainda jovem, com prefácio de Jorge Amado.

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