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Paulo Moura: ouvido apurado e técnica primorosa | Divulgação
Paulo Moura: ouvido apurado e técnica primorosa| Foto: Divulgação

Discografia - Os álbuns antológicos gravados pelo clarinetista Paulo Moura

Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali (1959)

Confusão Urbana, Suburbana e Rural (1976)

Mistura e Manda (1984)

Dois Irmãos (1992), com Raphael Rabello

Wagner Tiso e Paulo Moura (1996)

Pixinguinha: Paulo Moura & Os Batutas (1998)

Mood Ingênuo (1999), com o pianista americano Cliff Korman

Paulo Moura Visita Gershwin & Jobim (2000)

K-Ximblues (2001), em homenagem à obra do pouco lembrado clarinetista e saxofonista K-Ximbinho

Dois Panos pra Manga (2006), com João Donato

El Negro del Branco (2004), com Yamandu Costa

AfroBossaNova (2009), último disco, com o guitarrista e bandolinista Armandinho Macedo

A música que sempre renascia

Paulo Moura foi um dos melhores músicos que o Brasil gerou. Tinha uma habilidade incomum para tocar, e conhecia a fundo teoria musical. Ele levou o nome do nosso país para muitas partes do mundo, e talvez tenha sido um dos nossos mais importantes embaixadores informais.

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São Paulo - Há quem diga que o clarinete é o instrumento que, de tão sublime, mais nos aproxima dos céus. Agora imagine o que ocorria quando ele era tocado pelo maior craque do pedaço, por um músico genial. Pois bem, esse som capaz de elevar o profano ao sagrado foi silenciado com a partida de Paulo Moura, na noite da última segunda-feira (12).

O clarinetista e saxofonista, de 77 anos, estava internado desde o início do mês na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, e realizava tratamento para tentar curar um linfoma (câncer no sistema linfático).

Nascido em 1933, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, filho do também clarinetista e mestre de banda Pedro Moura, Paulo era irmão do trombonista Valdemar e dos trompetistas José e Alberico, e partiu para as primeiras aventuranças e incursões musicais nos salões de gafieiras e nos cafés da Praça Tiradentes. Com facilidade de aprendizado e ouvido apuradíssimo, assombrava seus professores, primeiro na Escola Nacional de Música. Depois, com mestres do porte de Moacir Santos, com quem estudou orquestração e fatalmente aprendeu lições indeléveis de saxofone, Guerra Peixe e José Siqueira, que lhe passaram noções de harmonia, contraponto e fuga, e Paulo Silva e Lincoln Pádua, em aulas sobre teoria e contraponto.

Para ser incensado como um dos maiores, senão o grande nome do clarinete na música popular no país, Paulo Moura, figura sempre afável nos palcos, palmilhou uma longa estrada, apresentando-se com grandes nomes nacionais e estrangeiros. Foi assim desde seu primeiro registro fonográfico, em 1951, quando logo de cara acompanhou Dalva de Oliveira cantando nada mais, nada menos que "Palhaço" (Nelson Cavaquinho), até seu último trabalho, AfroBossaNova, ao lado de Armandinho, lançado no ano passado.

Parcerias

No meio do caminho, Moura foi cultivando amizades com músicos da pesada e intimidade com diversos gêneros e linguagens, como o choro, o samba, o jazz, o baião e o frevo. No segundo semestre de 1950, assim como outras estrelas do Sinatra-Farney (fã clube criado por jovens devotos de Frank Sinatra, A Voz, e Dick Farney, A Voz de Travesseiro), gente como João Donato, Johnny Alf, Raul Mascarenhas, Nora Ney e Doris Monteiro, Moura começava a se profissionalizar, atuando primeiramente como acompanhante de crooners.

O primeiro disco, um 78rpm, foi lançado pela Columbia em 1956, com as gravações de "Moto Perpétuo", de Paganini, e "O Voo do Besouro". Três anos depois, os laços com os principais nomes da música brasileira da época se estreitaram nas jam sessions incendiárias do Little Club, do Bottles e do Bacará, no lendário Beco das Garrafas.

Dono de uma técnica primorosa, Moura era capaz de ligar o velocímetro dos dedos no talo fazendo todas as notas soarem com nitidez. Além disso, tinha grande noção de dinâmica, de andamento e de contraponto, com improvisos que ensinavam que não era a quantidade de notas o que mais importava, e sim a emoção emanada do peito. Foram cerca de 40 álbuns (leia mais no quadro acima), fora participações nos discos de outros compositores e intérpretes, como Milton Nascimento e Elis Regina.

Registros que escreveram o nome de Moura na história e nos corações dos amantes da boa música. Aqui debaixo ele já estendia seus braços e como uma espécie de sombra protetora distribuía suas bênçãos a todos os clarinetistas populares que vieram depois, como Nailor Azevedo (o Proveta), Paulo Sérgio Santos e o italiano Gabriele Mirabassi. Agora ele as distribui lá de cima, enquanto aqui embaixo fica um vazio, "uma pausa de mil compassos", como diria Paulinho da Viola, e o legado de um músico de primeira grandeza.

Serviço:

O Canal Brasil presta uma homenagem a Paulo Moura, hoje, a partir das 20 horas. A emissora exibe dois episódios do programa Estúdio 66, no qual o clarinetista relembra canções, como "Linda" – em dueto com Ricardo Silveira –, "Sopapo" e "Passo do Ganso", ao lado do pianista João Donato.

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