Valéria Sarmiento está na 50.ª edição do Festival de Nova York num programa duplo. Além da apresentação de La Noche de Enfrente, último trabalho do diretor chinelo Raoul Ruiz (1941-2011), a diretora chilena está lançando seu novo filme, Linhas de Wellington, sobre a invasão de Napoleão a Portugal em 1810.
Valeria é viúva de Ruiz falecido em agosto do ano passado trabalhou em parceria com ele por 30 anos e foi constante colaboradora na montagem de grande parte dos seus filmes.
Bem-recebido na sessão prévia para a imprensa, Linhas de Wellington era inicialmente destinado ao próprio Ruiz, que recebeu um convite para desenvolver um projeto de filme e minissérie em comemoração aos 200 anos do fim da invasão napoleônica.
Mas Raoul apenas estabeleceu a concepção da história e não chegou a rodar o projeto, tendo sido substituído por Valéria que, embora tenha mantido várias de suas ideias originais, procurou dar um caráter pessoal à história.
Num filme de guerra com duas horas e meia de duração, a diretora, com estilo politizado e delicado, teve a preocupação de abordar outras questões, além do cerne do conflito.
O celebrado ator John Malcovich interpreta em poucas, mas ótimas cenas, o excêntrico general inglês Wellington, liderando um grande elenco formado por Catherine Deneuve, Mathieu Amalric, Elsa Zylberstein, Nuno Lopes e Marisa Paredes, entre outros.
Valéria conversou com a Gazeta do Povo sobre a motivação para retratar essa história e o significado de ter o filme no festival.
Qual foi a principal motivação para fazer o filme?
Para mim, num sentido clássico do termo, não houve propriamente uma motivação para fazer Linhas de Wellington. O filme seria realizado por Raoul e, depois que ele partiu, me pareceu uma evidência, eu precisava fazê-lo, seria uma homenagem a ele.
Sua direção aconteceu a partir da concepção de Ruiz?
A participação dele foi muito além da concepção e ajustes no roteiro. Sua presença espiritual esteve o tempo todo conosco durante as filmagens e seus ensinamentos em todos esses anos, ajudaram muito no resultado.
Por que optou por focar o filme em questões paralelas à guerra mantendo o conflito como pano de fundo?
Quando recebi o roteiro, constatei que seria um projeto difícil. Apesar de ter estudado as guerras napoleônicas no colégio, elas estavam distantes na minha mente. Para aproximá-las de mim, procurei desenvolver uma ligação emocional com a história, ressaltando a questão do exílio, das torturas e da opressão. Quando alguém quer filmar e este é seu ofício, sempre consegue fazer pontes. O importante era mostrar que o verdadeiro protagonista era o povo e não os generais.
O que representa ter o filme selecionado para o Festival de Nova York?
Um reconhecimento e uma confirmação de que os filmes de Raoul são importantes e o serão sempre para muitas pessoas.
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