• Carregando...

Rio de Janeiro – O primeiro fim de semana do Festival do Rio 2006 começou com uma grande participação do público, que lotou várias sessões – desde terça-feira passada, há filas na central do evento para comprar os ingressos dos filmes.

Um dos destaques da programação inicial foi Volver, em que Pedro Almodóvar retoma o olhar feminino dos filmes que o fizeram um diretor cultuado no cinema – os excelentes Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe e Fale com Ela. A história tem todas as características do universo do cineasta, com suas mulheres fortes, mas muito sofredoras por conta de seus homens – o macho no olhar de Almodóvar é sempre um crápula a infernizar a vida das amantes –, além da trama bem amarrada com toques de humor e a característica virada no final. Ainda que inferior às obras antecessoras, a produção liderada por Penélope Cruz (muito bela em cena) e Carmen Maura mostra que o espanhol continua fazendo bom cinema. Volver deve estrear em novembro no Brasil.

Outra produção com sessões lotadas na mostra foi a ótima A Scanner Darkly, do diretor Ri-chard Linklater (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol). O americano realizou uma animação no mesmo estilo que havia trabalhado em Waking Life (com traço de desenho sobreposto à interpretação de atores reais), mas com técnica mais elaborada e sem os "cabecismos" filosóficos na história. A trama, com toques futuristas, fala sobre viciados em uma droga especial chamada D (utilizada por 20% da população mundial), gente que vive paranóica e gera muitos momentos de humor para o público. Mas o filme estrelado por Keanu Reeves, Robert Downey Jr. (em excepcional atuação), Winona Ryder e Woody Harrelson não faz apologia das drogas, pelo contrário – no final da fita, Linklater lista todos os seus amigos (e são muitos) que morreram devido a algum tipo de vício. O filme ainda não tem previsão de estréia por aqui.

Também são produções interessantes Princesas, novo trabalho do diretor espanhol Fernando Aranoa (Segunda-Feira ao Sol), com temática social, falando sobre prostitutas em Madri; O Ilusionista, correta produção de época e de aventura sobre um mágico, que tem como destaque as boas atuações de Edward Norton e Paul Giamatti; e a comédia independente Pequena Miss Sunshine, sobre uma família disfuncional americana que se mobiliza para levar a filha mais nova a um concurso de beleza. A decepção ficou por conta de Dália Negra, filme de Brian De Palma baseado na obra homônima de James Ellroy, que abriu a mostra carioca em sessão para convidados na quinta-feira. O diretor foi infeliz na escolha do inexpressivo Josh Hartnett (Pearl Harbor) como protagonista. Apesar da rica ambientação de época, o roteiro do policial perde feio na comparação com outra adaptação de obra do mesmo escritor – Los Angeles – Cidade Proibida, de Curtis Hanson.

Na Première Brasil, o melhor dos filmes apresentados no fim de semana foi Os 12 Trabalhos, segundo longa-metragem do diretor paulista Ricardo Elias. É notável a evolução do cineasta em comparação ao primeiro filme – o regular e honesto De Passagem. Assim como na estréia, a capital paulista é cenário de uma história que fala de gente simples e pobre. A trama, livremente inspirada no mito de Hércules, é centrada em motoboys, uma classe profissional muito forte em São Paulo.

1972, dos críticos musicais José Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana, decepciona com um roteiro fraco, que mais parece um episódio piorado de Malhação, só que ambientado nos anos da ditadura (tema recorrente no cinema nacional recente). Não vale nem pela linda Dandara Guerra (filha de Claudia Ohana e do cineasta Ruy Guerra), fraca atriz, assim como o restante do jovem elenco principal. De Sonhos e Desejos, de Marcelo Santiago, desastre que já havia passado no Fes-tival de Gramado, é melhor nem lembrar. (RF)

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]