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Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical" | Reprodução www.globo.com/paraisotropical
Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical"| Foto: Reprodução www.globo.com/paraisotropical

Tudo pronto para a entrevista. O cenário não era de cinema, e tampouco o assunto principal da conversa seria o filme que virou precocemente DVD (pirata) e caiu na boca do povo. Ainda assim, nem o próprio ator escapa de fazer comparações com o personagem que carimbou sua identidade. Mesmo quando o figurino da vez é o de MC Rato Careta, basta ligar a câmera para André Ramiro citar o policial André Matias, vivido por ele em "Tropa de elite".

- Antes de gravar, deixa eu colocar o chapéu para ficar menos parecido com o Matias - brincou Ramiro, dentro do estúdio onde prepara seu primeiro disco de rap.

Apesar da referência, o ator e MC diz que vê poucas semelhanças entre ele e o "aspirante" do Bope interpretado no cinema. De cara, o jeito cauteloso de falar, a simpatia e até os óculos redondinhos lembram o personagem do filme. As diferenças só começam a aparecer quando Ramiro conta um pouco sobre o CD "As crônicas do Rato Careta", que deve ser lançado depois do Carnaval.

- Minha batalha é outra. O Matias é um policial, eu sou um cidadão como qualquer outro - compara.

Foi nas batalhas de MCs que Ramiro descobriu um destino para as poesias que gostava de escrever desde a adolescência na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele conta que trabalhava como porteiro de cinema no shopping Fashion Mall quando conheceu o amigo que o levaria às primeiras rimas, debaixo dos arcos da Lapa.

Antes de subir ao palco pela primeira vez, Ramiro conta que perdeu horas em casa, em frente ao espelho, fazendo rimas tão simples quanto coração com mão, ou amor com ventilador. O resultado não podia ser diferente: derrota na primeira batalha, mas com sabor de vitória.

- Perdi, mas vi que era aquilo que eu queria fazer da minha vida - lembra, antes de explicar como funciona a brincadeira, em que cada um dos dois rimadores tem 90 segundos para tentar improvisar melhor do que o outro.

Em pouco tempo, ele descobriu que gostava de um rap diferente do que costuma ouvir. Não falaria sobre "como é bom ficar doidão", e também não se dedicaria apenas a temas sociais espinhosos. A vontade de versar sobre assuntos positivos - namoradas, o filho ou os amigos - lhe valeu o apelido de Rato Careta, incorporado à sua vida de MC.

É esse o tom com que Ramiro tenta tratar o trabalho informal na faixa "José Camelô". Profeticamente ou não - ele garante que a idéia surgiu muito antes de "Tropa de Elite" entrar para a história da pirataria -, na música ele encarna a história de um vendedor ambulante, que, na opinião do MC, é mais uma das vítimas do governo.

- O governo não dá exemplo para a gente. Muito pelo contrário. A gente tem história de corrupção. Então, muita gente pensa: se os engravatados estão botando dinheiro no bolso, qual o problema de eu comprar um DVD pirata, que custa mais barato? - questiona.

Se na música ele tenta evitar o lado amargo do rap, os temas mais pesados despertam ao longo do papo a boa oratória do MC. Além de criticar o governo, Ramiro diz que "Tropa de Elite" favoreceu a discussão sobre a pirataria, conta que conheceu policiais honestos durante as filmagens e revela que se surpreendeu com a naturalidade dos "caveiras" ao falar sobre o trabalho violento nas favelas.

- Ali [no filme] eu passei a entender que debaixo de uma farda tem um ser humano como qualquer outro, que é passível de erros. Mas a solução para a segurança pública do nosso país não está na polícia - dispara Ramiro, que se define como um sujeito mais maleável do que a maior parte dos policiais com quem conviveu para fazer o filme.

No disco, ele também tenta ser maleável, misturando batidas eletrônicas com instrumentos tocados por músicos distantes do mundo do rap. E não é só na estética que ele pretende fazer diferente:

- Essa coisa do rap de ter uma crítica social, um discurso social, a gente tem que tomar cuidado com isso para nós não nos tornarmos apenas artistas revoltados - alerta, depois de elogiar o funk comercial. - A galera do funk tem uma coisa que a galera do rap não tem, no sentido da estrutura.

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