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Antonio Villeroy é um nome novo para muita gente que já cantou suas músicas nas vozes de Ana Carolina e Maria Bethânia, entre outro nomes. Com a primeira, tudo começou há quase dez anos, quando foi levado a um bar de Belo Horizonte para ver a "novata".

- Fiquei tão surpreso e encantado que fiz quatro letras de música assistindo Ana Carolina cantar, "Garganta" e mais três. Mostrei pra ela no camarim, ela achou a cara dela e queria gravar. (O diretor artístico da BMG) Jorge Davidson não queria, disse que não era comercial e que eu era desconhecido, mas ela insistiu – conta ele.

O resultado todos já sabem, um grande sucesso, o primeiro de muitas gravações e parcerias com Ana.

Isso era o Totonho, que agora virou Antonio Villeroy para lançar, como cantor, "Sinal dos tempos – ao vivo", um CD e DVD gravado em Porto Alegre, sua cidade, no venerável Teatro São Pedro com a orquestra de cordas do teatro, pela gravadora Orbeat e distribuição Warner Music. Coisa muito fina, MPBzona de classe, com grandes canções e instrumentação black tie, bem diferente de "Garganta" e de outras canções que caíram na boca do povo, como "Pra rua me levar", "Uma louca tempestade, "Que se danem os nós", todas com Ana, convidada de honra do DVD, que tem ainda mestre João Donato numa canção emblemática, "A paz", dele, Donato, com Gilberto Gil.

Totonho acumula uma bagagem que inclui dois discos independentes, o primeiro, em 1991, lhe valeu o prêmio Sharp de revelação. É curador há 10 anos do Brasil Festival, que acontece anualmente na cidade de Sanary Sur Mer, na França. Estudou agronomia em Porto Alegre, deu aula de música e leu muito., mostrando na entrevista uma face erudita, apesar de dizer que viveu mais do que leu. Mas explica:

- Eu procurei muito mais as coisas através da minha experiência e da minha percepção e análise da experiência do que da leitura, que é a experiência de outra pessoa, apesar disso ser complementar.

Claro como água limpa. Antonio aponta três pilares para sua formação de compositor: Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento. A explicação é um pouco comprida, mas vale a pena. Vamos lá:

- O Chico é um cara que eu ouvia como quem vai estudar, sempre vejo nele a preocupação da ouriversaria. A estrofe com rima interna e externa, rima sempre rica, nunca verbo com verbo. Todo compositor trabalha com a comunicação, que precisa ter informação, a coisa nova, e redundância, o que já ouviu em algum lugar. A rima é uma espécie de redundância, você sabe que vai encontrar, mas aí vem a surpresa - conta ele.

Sobre Caetano, revela:

- O Caetano eu ouvia como quem está matando aula. Ele mexe mais com comportamento, coisas mais arejadas como quem está saindo para a rua para tomar um sol. Quando eu era novo não sabia que tinha um jornal chamado "O Sol", daí o verso de "Alegria alegria", do sol batendo nas bancas de revistas, me dava uma sensação de liberdade. Caetano, junto com Gil, foi um cara muito responsável por uma coisa de comportamento, uma abertura do pensamento das pessoas em questões sexuais, raciais e econômicas. Eles ajudaram num certo desbunde, entre aspas, de curtir o corpo, se vestir legal, se sentir bem, curtir.

Já Milton...

- ... Mexia com o negócio espiritual mesmo, embora na época fosse totalmente agnóstico e achava esse deus que os homens criaram nocivo ao desenvolvimento da sociedade. O homem criou deus à imagem e semelhança de seus interesses, do interesse da igreja de colonizar, de destruir. Depois descobri que se pode ter religião de uma forma bacana. E aí claro que, com Chico, posso agregar Francis Hime e Edu Lobo, ao Caetano agrego o Gil e, junto com Milton, Toninho Horta e Lô Borges. Foi por aí que quis fazer a coisa chamada canção. – explica ele.

E o faz bem, com pérolas como a canção-título, parceria com Bebeto Alves, uma reflexão sobre os obstáculos da vida: "Quando os velhos caminhos se esgotam/ E os tempos não voltam/ É preciso atravessar lá fora/ Um corredor/ Um rio da história, uma revolução/ O caos de uma palavra nova, um sim e um não/ Que nos faça acordar/ Sim, meias palavras não bastam/ É preciso acordar/ É preciso mergulhar."

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