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Samir, de 15 anos, é o filho único do casal Gazel. Quando decidiram que teriam apenas ele, Mariângela e Paulo pensaram que isso facilitaria para dar boas condições de estudo, lazer e alimentação. Foi o que aconteceu. O garoto estuda em uma escola particular de qualidade, faz cursos extracurriculares – como língua estrangeira –, frequenta instituições particulares de atividades esportivas, tem acesso a viagens e a vários tipos de lazer e ainda tem uma poupança feita pelos pais para investir no seu futuro.

Para o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado, a possibilidade de investir mais na formação de um único filho, sem ter que dividir a renda familiar para cuidar de vários, é a principal vantagem da redução familiar da população brasileira. "A relação de custo benefício na hora de decidir o tamanho da prole é um cálculo racional. Do ponto de vista econômico, isso é um processo produtivo."

Segundo o economista, não é benéfico hoje que a população brasileira tenha tantos filhos como tinha antes, já que a riqueza dividida por um número menor de pessoas aumenta a renda per capta. Ele também aponta que nos países desenvolvidos a responsabilidade dos pais com os filhos é maior e, consequentemente, se investe mais em educação.

"Aqui, as classes mais altas perceberam que, para criar bem um filho, o custo é elevado. Então partiu dela a redução familiar para poder oferecer mais qualidade para seus descendentes", diz Curado.

Fantasma

A formação acadêmica e cultural não é a única preocupação dos pais que optam pelo filho único. A ideia de que um filho único costuma ter tudo o que quer é um fantasma que ronda o planejamento familiar. Paulo Gazel conta que chegou a se preocupar com isso quando seu filho nasceu, mas o tempo foi passando e ele procurou não fazer tudo o que o menino pedia e passou a restringir os benefícios materiais.

Para os psicólogos, famílias com filho único tendem a concentrar nele todos os benefícios que têm capacidade de fornecer. Mas é indispensável considerar que a reação desse filho – se vai ser mimado ou não – varia de acordo com a forma como ele é socializado.

"Se ele conviver por bastante tempo com outras crianças ou adolescentes da sua idade, vai aprender a dividir", explica a psicanalista e professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Shirley Valera Rialto.

Se engana quem pensa que muitos filhos dão mais trabalho para os pais. Shirley diz que a criança que não tem irmão requer mais atenção da família por não ter outras crianças para interagir. Além disso, a criança amadurece mais rápido por ter mais contato com as conversas e problemas adultos. "Quando brinca com os pais ela não perde, não briga e não disputa um brinquedo como faz quando está com outras crianças. Como isso é importante para o desenvolvimento e para ela aprender a conviver em sociedade, a escola tem um papel fundamental nessa questão", diz.

A exemplo dos países europeus – que possuem um perfil familiar reduzido consolidado –, a educação integral é uma boa saída para auxiliar na formação dos filhos e amenizar os possíveis problemas que ser filho único pode causar. Para a psicóloga, essa pode ser a opção ideal para o Brasil a longo prazo.

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