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Membro da Academia Brasileira de Letras e vencedor de três prêmios Jabuti, Moacyr Scliar era um criador prolíficoe um dos mais reconhecidos autores brasileiros | Neco Varella/AE
Membro da Academia Brasileira de Letras e vencedor de três prêmios Jabuti, Moacyr Scliar era um criador prolíficoe um dos mais reconhecidos autores brasileiros| Foto: Neco Varella/AE

Homenagens

Saiba mais sobre a repercussão da morte do escritor Moacyr Scliar no meio literário

"Gostava muito dele. Em algumas dessas andanças pelo mundo, tivemos algumas vezes juntos nesses congressos no exterior.

Era bom contista, bom cronista.

Era melhor contista do que cronista. Imaginoso, profundo e sério. Uma perda para a literatura brasileira.’’

Lygia Fagundes Telles, 87, escritora.

"Tive vários contatos com ele. Era uma pessoa que nos deixava com a sensação de que você era incapaz de corresponder à delicadeza dele. Ele fazia parte de uma espécie em extinção, de médicos humanistas.

O que mais me chama a atenção é que era uma pessoa tão delicada, generosa...’’

Drauzio Varella, 67, escritor e médico.

"O Moacyr vai fazer falta. Além do escritor bom e premiado, era um homem generoso e solidário, muito preocupado com os outros, essa era a sua verdadeira grandeza. Era um grande trabalhador da palavra, tinha capacidade de trabalho extraordinário. Na sala do aeroporto, ele sentava num cantinho, abria o notebook e começava a escrever.’’

Ana Maria Machado, 69, escritora.

"Deixa uma obra vastíssima, acho lamentável que ele tenha interrompido uma carreira tão prolífica relativamente jovem. Ele tinha muitos livros para escrever e sempre foi um escritor sempre muito generoso com os autores jovens.’’

Joca Reiners Terron, 43, escritor.

"Eu gostava muito do Scliar como escritor e como pessoa. Com O Centauro no Jardim, do começo dos anos 1980, ele deu uma dimensão internacional ao tema judaico, com raízes brasileiras. Ele era um grande fabulador, um grande contador de histórias.’’

Cristóvão Tezza, 58, escritor.

"Foi uma referência sólida e consistente para várias gerações. Surgiu no apogeu do conto no Brasil, conseguia conciliar muito bem o humor avesso com a melancolia. O mais bonito na obra era a compaixão ao estranho. Ele foi nosso médico sanistarista da literatura.’’

Fabrício Carpinejar, 38, poeta e escritor.

Veja também

São Paulo - O escritor Moacyr Scliar, que havia sofrido um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) e estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde 11 de janeiro, faleceu à 1 hora da madrugada de ontem. Segundo boletim médico, Scliar, que tinha 73 anos, morreu de falência múltipla de órgãos.Internado desde 11 de janeiro para uma cirurgia de extração de tumores no intestino, Scliar sofreu um AVC em 16 de janeiro e foi encaminhado à unidade intensiva. No dia se­­guinte, passou por uma cirurgia para retirada de coágulo decorrente do AVC, passando a ser mantido com um mínimo de se­­dação ne­­cessária. O escritor passava pela retirada gradual da sedação quando, no dia 9 de fe­­vereiro, apresentou um quadro de infecção respiratória, voltando então a ser sedado e a respirar por aparelhos.

O velório foi realizado na tarde de ontem, no salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O se­­pultamento ocorre hoje, às 11 horas, no Cemitério Israelita de Porto Alegre, em cerimônia destinada a familiares e amigos.

Repercussão

A Academia Brasileira de Letras (ABL) decretou luto oficial de três dias por causa da morte do escritor gaúcho, que ocupava desde 2003 a cadeira de n.º 31. Segundo a ABL, a bandeira acadêmica será hasteada a meio mastro no período de luto. "Moacyr foi um trabalhador literário incansável, um ser humano agradabilíssimo que nos vai fazer muita falta", afirmou o presidente da ABL, Marcos Vinicius Vilaça.

A presidente da República, Dilma Rousseff, enviou na tarde de ontem uma nota de pesar pela morte de Scliar, a quem se referiu como "ícone da literatura gaúcha, brasileira e latino-americana". "Ele representou nossa sociedade em diversos gêneros literários, sem perder de vista sua condição de filho de imigrantes e sua formação médica. É com tristeza que nos despedimos desse mestre da nossa literatura", diz a nota.

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, também manifestou pesar pela morte do escritor. "Além de suas qualidades inegáveis como intelectual, que fizeram dele um autor reconhecido pelo público e crítica, Scliar sempre contribuiu com ações de in­­centivo à leitura, tendo colaborado, desde o início, com o Plano Nacional de Livro e Leitura, onde atuava como membro do Conselho Diretivo."

Trajetória

"Não preciso de silêncio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais. Preciso só de um teclado." Em meio a dezenas de depoimentos de autores sobre as mais diferentes manias no momento de escrever, publicados desde o início do ano passado no blog do escritor Michel Laub, o do gaúcho Moacyr Scliar se destacou pelo pragmatismo: para o criador prolífico e naturalmente inspirado, o único im­­pedimento para a escrita seria a falta da ferramenta com a qual levá-la a cabo.

Tanto era assim que, em quase 50 anos de carreira literária, ele publicou mais de 80 livros. O primeiro – Histórias de um Médico em Formação – foi publicado em 1962, mesmo ano em que concluiu a faculdade de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O mais recente foi o romance Eu Vos Abraço, Milhões, que saiu em setembro do ano passado. Entre um e outro escreveu romances e livros de crô­­nicas, contos, literatura in­­fan­­til e ensaios, numa média de mais de um livro por ano, com destaque para O Ciclo das Águas, A Estranha Nação de Rafael Mendes, O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim.

Tudo isso mantendo os critérios que o tornaram um dos mais reconhecidos autores brasileiros contemporâneos em solo nacional, com uma cadeira na Academia Brasileira de Letras desde 2003 e três Jabutis (1988, 1993 e 2009) entre prêmios recebidos, e também no exterior, com obras publicadas em 20 países e honrarias como o Casa de Las Americas, em 1989.

Medicina e judaísmo

Scliar não deixou de lado a carreira na medicina. Na área, destacou-se desde 1969 em cargos como chefe da equipe de Educação em Saúde da Secretaria da Saú­­de do Rio Grande do Sul e como diretor do Departamento de Saúde Pública. Entre o lançamento do livro de contos que Scliar preferia considerar como sua primeira obra profissional, O Carnaval dos Animais, em 1969, e o primeiro romance, A Guerra no Bonfim, em 1971, encontrou tem­­po para cursar pós-graduação em medicina comunitária em Israel. Ainda no início da década passada, em 2002, concluiu doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, com a tese Da Bíblia à Psicanálise: Saúde, Doença e Medicina na Cultura Judaica.

A tradição judaica o acompanhou em toda a carreira literária, assim como o imaginário fan­­tástico. Nascido em 23 de mar­­ço de 1937 no bairro do Bom Fim, que até hoje reúne a comunidade judaica de Porto Alegre, e alfabetizado pela mãe, Sara, que era professora primária, Scliar chegou a ter o romance O Centauro no Jardim incluído numa lista com os cem melhores livros relaciona­­dos à história dos judeus dos úl­­timos dois séculos, elaborada pe­­lo National Yiddish Book Center.

Casado desde 1965 com Judith Vivien Oliven e pai de Roberto, nascido em 1979, Scliar também dedicou atenção especial às obras infanto-juvenis. Costumava dizer que escrevendo para os jovens reencontrava o jovem leitor que havia sido. Boa parte de sua produção nessa área foi considerada "altamente recomendável" pela Fundação Biblioteca Na­­cional.

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