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As pernas cruzadas, a mão que não pára, os dedos que tocam o braço da poltrona, uma olhada no relógio. São os indícios que estamos diante de um homem inquieto. Tide Hellmeister, um dos mais importantes artistas gráficos brasileiros, é assim. E toda essa inquietude ele transporta à arte. "Sempre fui muito ansioso. Não paro. Trabalho mais de 20 horas por dia", afirma. O seu mais novo livro – ou, como prefere chamar, catálogo de imagens – não poderia ter um título mais adequado: Inquieta Colagem.

A obra reúne cerca de 200 trabalhos do artista, produzidos em seu refúgio em Salto, interior de São Paulo. A edição é bilíngüe (português e inglês) e conta com textos de Chico Homem de Mello, designer e professor da USP; Carlos Soulié do Amaral, crítico de arte; Cláudio Rocha, tipógrafo; e de Fernando Bini, professor da Universidade Federal do Paraná. Uma prévia, cerca de 30 trabalhos, poderá ser vista exposta no Museu Oscar Niemeyer até o dia 24 deste mês.

Ao trabalhar com a tipografia, colagem, ilustração, design gráfico e pintura, Tide afirma que seu trabalho nunca é pré-estabelecido. Primeiro o artista prepara sua mesa com as bases (papel, tela, papelão) e outros objetos. Com esse arsenal em volta, pinta o fundo e pouco a pouco vai agregando seus personagens, sempre com um equilíbrio e sentido. "Começo do nada. É sempre um desafio para mim e isso que é gostoso", aponta Tide.

E, como podem ser classificadas as influências deste trabalho com liberdade total, que às vezes se aproxima do surrealismo, em outras do barroco? "Nem estou preocupado. Nem sei o que é isso", revela Tide. "Sempre fui muito afoito, não tenho paciência para ler. Não tenho bagagem livresca, nem terminei o ginásio. Sou autodidata".

A paixão pela colagem surgiu na infância. Aos 17 anos, começou na TV Excelsior como ajudante do cenógrafo Cyro Del Nero. Por quase 30 anos trabalhou no jornalismo, em importantes veículos brasileiros. Durante este período, a colagem sempre o acompanhou. "Arte é uma necessidade que eu sinto", revela Tide, que completa que seu trabalho foi importante em vários momentos de sua vida. Há 20 anos ele lutou contra o alcoolismo, mergulhando de cabeça na colagem.

Durante o lançamento de seu livro, na última quinta-feira no MON, o artista, que sempre se comunica com as mãos, nos detalhes do corte, na gestualidade da caligrafia, preferiu o silêncio. "Não queria falar. Não sou disso. Nunca em minha vida estive perante de tanta gente assim". O que o discurso verbal não diz, o gráfico revela.

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