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O autor

Dante Mendonça é jornalista, escritor e cartunista. Assina crônicas no jornal Tribuna do Paraná desde 2000 e na Gazeta do Povo desde 2012. Nascido em Nova Trento (SC), vive em Curitiba desde 1970. É membro da Academia Paranaense de Letras e Cidadão Honorário de Curitiba. O Diabo Ataca no Varejo é seu nono livro.

Lançamento

O Diabo Ataca no Varejo

Dante Mendonça. Editora Splendor/Unisul, 160 págs., R$ 35. Crônicas. Lançamento amanhã, às 17 horas, no Bar Stuart (Pça. Osório, 427, Centro).

  • Dante Mendonça, jornalista e escritor

Numa folha qualquer, o cronista Dante Mendonça desenha cenas da vida, como o dia em que o professor de matemática levou, por engano, a mulher do colega a uma boate suspeita. Correndo o lápis na folha, com cinco ou seis linhas ele relembra o episódio em que um famoso jornalista levou uma surra de posta de bacalhau da esposa ciumenta, em pleno sábado de aleluia.

O cronista caminha, e caminhando chega no balcão do bar. Lá estão expostas no atacado as histórias da cidade. A matéria-prima de seus textos, como aquele em que o poetinha Vinicius de Moraes desaforou Dalton Trevisan, pelo telefone, após ser esnobado pelo vampiro.

Histórias que, com leveza e humor, estão contadas em O Diabo Ataca no Varejo, que Dante lança amanhã no tradicional Bar Stuart. O livro é uma seleção de 61 crônicas publicadas nos jornais Gazeta do Povo e Tribuna do Paraná.

"Numa analogia com as artes plásticas, o cronista é o aquarelista. A crônica é uma coisa ligeira, rápida, fluida, fresca, transparente. Neste sentido, ela é a aquarela da literatura", compara o escritor e desenhista, que também comete suas aquarelas.

Este é o nono livro de Dante. O primeiro em que usa o gênero que pratica diariamente há 14 anos nos dois principais diários da cidade, desde que premeditou sua migração do traço para o texto. "Percebi que precisava me reinventar como jornalista. Senti que o cartum estava perdendo espaço e senti que tinha de enveredar pelo texto", explica.

Desde então, já foram milhares de crônicas em que a cidade, seus personagens, lendas e histórias são contadas e recriadas. "Para a jurisdição da literatura local eu não sou um escritor e jamais serei. Sou essencialmente um jornalista", afirma. "Todo o cronista de jornal devia, de dois em dois anos, publicar uma coletânea retrospectiva do seu trabalho que na verdade, funciona como uma prestação de contas com o leitor", palpita.

Para Dante, a crônica é o gênero preferido do leitor brasileiro, porque cria uma relação de intimidade. "É como puxar uma cadeira na mesa e dizer: senta aqui vamos conversar".

Esta proximidade implica uma relação de respeito". Quando você escreve, atira uma garrafa no mar. Não se sabe aonde a crônica vai chegar. No motorista de táxi, mas também vai chegar no arcebispo. À zona do meretrício, mas também no Clube Curitibano e na Associação das Senhoras Católicas. Assim, é preciso ter uma gentileza especial que alcance todos os leitores", ensina.

Os diabos de cada um

O autor explica que o critério para seleção do material e o título do livro foram estabelecidos após uma conversa com o escritor Deonísio da Silva sobre Adolf Hitler e outros demônios. "Assim como todo mundo tem seu anjo da guarda, todos temos nosso diabo particular", afirma Dante.

"O diabo tem mil nomes, mil caras. Cada um de nós tem o que merece e carrega. E atualmente ele não trabalha mais no atacado, a não ser em casos de guerras. Em regra, ele atua no varejo, no café pequeno, no boteco, na política, para o bem ou para o mal", observa.

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"Foi no Bar Caiobá da João Negrão que o Gato recebeu o apelido de Gato. Nome e sobrenome ninguém sabia, porque num bar quem batiza o freguês é a freguesia. Vale a escrita do garçom. Com o dedo indicador, Gato desenhava na mesa de fórmica molhada de cerveja o quadrilátero de sua existência; e justificava porque vivia restrito às quatro linhas: na Rua José Loureiro, farmácia e até chaveiro 24 horas. Na Barão do Rio Branco, uma lojinha atrás da outra. Na Marechal Deodoro, a agência bancária. Na João Negrão, entre uma padaria e um açougue, os amigos do Bar Caiobá. Costeando a quadra, era o que lhe bastava."

Trecho da crônica "O Gato do Bar Caiobá", integrante do livro O Diabo Ataca no Varejo.

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