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A arquiteta Laura Bertol ficou indignada com o fechamento do Cine Ritz, um dos pontos de referência mais importantes para o calçadão da Rua XV de Novembro, em Curitiba. Sua monografia de final de curso na UFPR é justamente sobre a degradação dos espaços públicos das cidades. Aqueles onde as pessoas podem se encontrar para se conhecer, conversar e trocar idéias. Diante da notícia do fim da sala de exibição, ela resolveu protestar. Esbarrou em uma limitação, contudo: protestar onde, se o problema era justamente a ausência de espaços públicos adequados que servissem de palco para a troca de idéias e opiniões?

A solução veio da internet. Ela criou uma comunidade no endereço www.orkut.com, o célebre Orkut. O objetivo era reunir todos os que sentissem a mesma vontade de protestar contra o fechamento do cinema.

Hoje, a comunidade Eu Quero o Ritz de Volta reúne quase 400 pessoas. "Foi bacana, principalmente no começo, quando conseguimos organizar um movimento, fazer protestos", diz a arquiteta, de apenas 23 anos. É bem verdade que a comunidade não conseguiu reabrir o espaço – longe disso. Mas serviu para que Laura e mais de 300 outros curitibanos descobrissem a internet como ferramenta para discussão da cultura na cidade.

Ao mesmo tempo em que uma pequena multidão de orkutianos também passou a se interessar por assuntos culturais de Curitiba. Hoje, há dezenas de comunidades que falam sobre o teatro, o cinema, a música e outros aspectos das artes na cidade. Basta escrever no sistema de busca do site o nome da manifestação artística e o da cidade – e logo em seguida aparece uma relação de possibilidades. Exemplo? Digite música eletrônica e Curitiba. Aparece uma comunidade na tela. De lá, é possível navegar para outras relacionadas – sobre casas de shows e djs.

Algumas das mais freqüentadas são comunidades de fãs. O escritor Dalton Trevisan congrega mais de 900 apaixonados. Mais ainda tem Paulo Leminski. Somando todos os grupos sobre o poeta, há mais de 10 mil inscritos para discutir sua obra. Outras páginas servem para comentários sobre um assunto mais amplo. Na comunidade sobre "teatro em Curitiba", os aficionados trocam dicas de peças e fazem comentários sobre o que já assistiram. Ainda há pouca troca de informações em muitas dessas comunidades, mas todas vão aumentando o número de integrantes.

Em algumas páginas, a discussão fica mais interessante. Exemplo é o da comunidade sobre os sebos da cidade. O criador do grupo, que se identifica como Samuel, foi logo de cara fazendo críticas a lojas de usados. O dono de uma delas entrou em cena para se defender. Era Paulo José da Costa, proprietário da Fígaro e da Trovatore, dois sebos tradicionais de Curitiba. Os dois trocaram algumas farpas, auxiliados por mais gente que decidiu entrar na discussão.

Hoje, quase seis meses depois do entrevero, Costa admite que a discussão foi produtiva. "Houve críticas construtivas e isso foi importante para mim", diz ele. "É o tipo de resposta do público que dificilmente eu conseguiria de outro jeito", afirma.

Costa é um árduo defensor das comunidades de internet. Há anos ele participa do site www.allegrobr.com, grupo de discussão especializado em música erudita. O Allegro, aliás, é um bom exemplo de como esse tipo de debate on-line pode gerar bons resultados. Feito em Curitiba, pelo webmaster Adriano Brandão, o sítio consegue juntar os nomes mais importantes da música clássica no país.

Adriano Brandão diz não acreditar que esse tipo de comunidade traga mudanças sociais. "Mas acredito que causa transformação individual", conta ele. Por meio da troca de idéias, muitos podem aprender mais sobre o tema e até tomar decisões que mudem suas vidas. "Mas acho que, no Orkut, isso é mais difícil de acontecer. O nível de discussão é muito rasteiro", comenta. Por esses e outros motivos, Brandão conta que não freqüenta o Orkut, nem mesmo para ver a comunidade Allegronautas. Do que trata a comunidade? É um ambiente virtual para discutir o site Allegro, que não é nada mais do que um ambiente virtual para discussão de idéias. E assim caminha a humanidade – pelas vias da internet.

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