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Os músicos Vina Lacerda, Julião Boêmio, André Prodossimo e Denis Mariano integram a Orquestra de Cordas de Curitiba | Diovulgação/FCC
Os músicos Vina Lacerda, Julião Boêmio, André Prodossimo e Denis Mariano integram a Orquestra de Cordas de Curitiba| Foto: Diovulgação/FCC

A obra do estilista Jum Nakao é marcada por rupturas. No ano de 2004, nas passarelas do São Paulo Fashion Week, 15 modelos rasgaram as roupas feitas de papel vegetal. Tratava-se de um questionamento sobre os (tênues) limites entre moda e arte em uma realização de grande impacto visual. Três anos depois, fotografias do momento do rasgar das roupas e dos bastidores do desfile, exibidas nos pisos que antecedem o Olho, preparam os visitantes para a instalação Revolver, que abre ao público amanhã no Museu Oscar Niemeyer.

Além de Nakao, formado em artes plásticas, participaram da criação da obra o cineasta Kiko Araujo e o cenógrafo Julio Dojcsar, a mesma equipe que idealizou o histórico desfile. Os três foram convidados pelo museu para expor as roupas de papel no Olho. "Quando recebemos o convite pensamos em uma forma de dialogar com o espaço arquitetônico do museu. Durante o processo, surgiu a idéia de fazer obras grandes ou usar toda a extensão do Olho, mas não era viável. Por isso, criamos maquetes do póprio Olho, como uma forma de apropriação do espaço", explica Kiko.

Na maquete – de 4 metros por 1,70 – foram colocados três ratos que roem as miniaturas dos delicados vestidos de papel, réplicas de 30 centímetros dos modelos apresentados no desfile. "Os ratos são a forma que encontramos de trazer o rasgar – que era o elemento surpresa do desfile – durante o tempo que durar a instalação", explica o cineasta. Tudo o que acontece dentro das maquetes é registrado por câmeras embutidas. As imagens são editadas e exibidas em uma parede expositiva, de 6 metros de altura por 28 metros de comprimento, resultando em imagens hiper-realistas, disformes e imperfeitas.

O uso dos ratos funciona como uma metáfora da destruição e serve para provocar o público. Outros elementos reforçam a idéia de descontrução e resignificação implícitas no título da obra: Revolver. Dentro de uma vitrine de vidro, ao lado da maquete, cinco vestidos de papel em tamanho natural. No vidro, inscrições aleatórias de conceitos, no estilo de poesia concreta, provocam uma reflexão sobre o papel da arte.

Atrás da maquete, gôndolas de supermercado exibem uma série de quase mil produtos que podem ser adquiridos pelos visitantes. "O ready-made é uma forma de colocar o público em contato com a obra. Ele pode se ver na mesma situação dos ratos, pois ao adquirir um produto – que não é reposto – deixa um espaço vazio. O público se torna um agente de destruição", diz o cineasta. A forma como os produtos – embalagens de detergentes, amaciantes sabão, etc – está exposta, reforça a idéia de consumo como destruição. Dentro das embalagens, líquidos coloridos que contrastam com as luzes fluorescentes das gôndolas, tornando os produtos extremamente atrativos ao olhar e contrastando com o tom do resto da instalação.

"Os produtos representam a sedução do consumo e a forma como ela pode ser destrutiva", explica Kiko. Todos os produtos têm a logomarca da instalação e podem ser adquiridos pelo preço de R$ 199, em uma espécie de fast-food da arte.

Assim como os ratos, o público pode se tornar um agente de destruição. Mas, sempre de forma ambigüa, já que tanto os ratos quanto o consumo podem ser sedutores. A ação de ambos torna a instalação um processo contínuo, já que a obra que será inaugurada amanhã se modificará ao longo dos três meses que estará em cartaz. Somente com o fim da mostra a obra estará "concluída". O público poderá também tirar fotos e gravar vídeos da instalação, para serem posteriormente exibidos pela internet. "É uma forma do público reproduzir os diferentes olhares possíveis sobre a obra", conclui Kiko.

- Serviço: Revolver. Instalação de Jum Nakao, Kiko Araújo e Júlio Dojcsar. Abertura para o público dia 9 de maio, quarta-feira. Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999) Tel.: (41) 3350-4400. Visitas de terça a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). Até 5 de agosto.

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