Entrevista com Fabiana Dultra Britto, crítica de dança, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia.Questionada sobre quais grupos de dança contemporânea são os mais relevantes hoje no país, a professora e crítica de dança Fabiana Dultra Britto afirma não enxergar utilidade em classificar artistas de acordo com parâmetros pessoais. "Arte não é objeto de comparação", declarou, por e-mail, à Gazeta do Povo, Fabiana, que também é autora do livro Temporalidade em Dança: Parâmetros para uma História Contemporânea. Mas a estudiosa defende o tipo de obra que considera mais relevante: a que não é meramente uma repetidora do que é feito na atualidade. "Aquela que propõe aos espectadores uma experiência de reorganização das suas percepções de espaço-tempo habituais", disse. Na entrevista a seguir, Fabiana elucida algumas questões fundamentais sobre a dança contemporânea.
A dança contemporânea é vista por muitos como uma arte de difícil acesso, cifrada. Por que você acha que isso acontece?
Vejo isso como uma falsa polêmica, pois essa discussão não é um privilégio da dança, mas de qualquer arte contemporânea. Qualquer coisa com a qual não temos familiaridade nos parece cifrada. A dificuldade de acesso é, portanto, proporcional, ao esforço que se deve empreender para se aproximar de algo cujas referências não são as nossas próprias. Acho preocupante que não se perceba que o preconceito estético embutido nesse argumento da dita "inacessibilidade da dança contemporânea" é contraditório ao argumento politicamente correto do respeito às diferenças sociais, teóricas ou qualquer outra...
Existe um marco para o surgimento da dança contemporânea? De onde vem o termo? O que caracteriza a forma de fazer dança contemporânea?
Não tenho conhecimento de nenhuma pesquisa séria que se tenha feito, como se faz em outras áreas, para saber a genealogia desse termo. E, embora muitos autores e artistas continuem definindo as diferentes danças pelos seus elementos constitutivos, entendo que a dança contemporânea é justamente a comprovação da falácia desse argumento, pois, diferentemente das outras formas de composição coreográfica, ela é não-programática, ou seja, não se baseia em programas, regras ou regimes estabelecidos previamente ao próprio processo de composição. Daí a impressão que se tem de que tudo vale.
