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Cinema

Arte precisa de obsessão em Whiplash

Whiplash, de Damien Chazelle, tem atuações memoráveis e se desenrola em ritmo eletrizante, mas parte de premissas muito questionáveis

Atuações de Miles Teller e J. K. Simmons são trunfos do filme: o jovem aprendiz se mostra disposto a dar o próprio sangue (mesmo) e sacrificar muito em nome da música, inclusive a vida afetiva | Daniel McFadden/Divulgação
Atuações de Miles Teller e J. K. Simmons são trunfos do filme: o jovem aprendiz se mostra disposto a dar o próprio sangue (mesmo) e sacrificar muito em nome da música, inclusive a vida afetiva (Foto: Daniel McFadden/Divulgação)

Whiplash, que estreia hoje nos cinemas, tem seus atributos para ser recebido como um filme vibrante.

A história sobre um estudante de música (interpretado pelo festejado Miles Teller) que se coloca à prova para se subir ao posto de baterista principal de seu conservatório e se tornar um dos grandes nomes do jazz conta com atuações acima da média – sobretudo de J. K. Simmons, que interpreta o cruel maestro da banda do fictício conservatório Schaefer, em Nova York.

Seu olhar observador sobre os bastidores da música produz imagens exuberantes, e seu ritmo "double-time swing" e alta dose de intensidade emocional produz tudo menos tédio.

Mas conforme vão se cristalizando as premissas do filme do diretor e roteirista Damien Chazelle que se confundem com as ideias distorcidas do instrutor do conservatório, Terence Fletcher, algumas incertezas fazem a coisa azedar.

Fletcher, habilmente interpretado por Simmons, conduz sua banda em um estilo que seria demais mesmo em um ambiente militar. Até o ponto em que se torna inverossímil ou até mesmo ridículo, como quando joga uma cadeira na direção de Andrew Neyman (Teller) porque o andamento não está saindo como gostaria. Ou quando arremessa um surdo na parede da sala de ensaio enquanto obriga seus bateristas a tocarem por horas a fio até ouvir o que quer.

A justificativa para tal nível de humilhações, Fletcher revela durante o filme, é que elas são imprescindíveis para que o mundo possa conhecer um novo Charlie Parker. "Não há duas palavras mais nocivas na língua inglesa do que ‘bom trabalho’", diz o professor, que passa todo o filme ensaiando velhos standards com sua banda.

Andrew, que se mostra disposto a sacrificar coisas como a vida afetiva para se tornar um dos maiores em um ambiente altamente competitivo, não apenas aceita se submeter à didática monstruosa – chegando ao ponto de se arrastar para uma apresentação lambuzado de sangue após um acidente de carro.

Ele entra em conflito, sim, mas triunfa. É quando Whiplash parece mostrar que os fins justificam os meios, e que somente a obsessão e a tortura física e emocional geram um grande artista. Mais que criatividade e originalidade, ironicamente as maiores qualidades dos verdadeiros mestres do jazz.

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