O curitibano Rones Dumke se autodenomina um artista apolíneo. O termo, que faz referência ao deus Apolo, de beleza irretocável, cabe com perfeição às telas de recortes precisos, linhas e formas geométricas e referências à ótica e à mitologia grega que ele exibe na exposição A Arte Silenciosa de Rones Dumke (veja o serviço completo), que abre amanhã, às 18h30, no Museu Alfredo Andersen, ao lado de outras quatro exposições (confira o serviço no box ao lado e no fim desta matéria).
Ao visitar as duas salas que abrigam 47 obras do artista, feitas de 2004 até este ano, o público será tomado por um sentimento de quietude e contemplação provocado por uma "arte silenciosa". As telas coloridas da série Geometria do Silêncio, que aliam pintura, desenho e colagem, escondem os ruídos, ou seja, as pinceladas e texturas, criando a ilusão de estarmos diante de uma impressão serigráfica. "Diria que minha pintura é um convite à reflexão, algo que se faz em recolhimento, em águas profundas, em silêncio", diz.
Coleção de enigmas
Dumke é antes de tudo um colecionador. Está sempre visitando sebos à cata de livros antigos dos quais possa recortar figuras e padrões para compor suas colagens enigmáticas. Como Marx Ernst, surrealista ao qual paga tributo, usa figuras alheias mas também próprias, como na série Aparições, de colagens feitas a partir de fotografias de modelos vivos para construir imagens desprovidas de nexo causal. "Consigo, assim, um resultado atemporal", diz.
As imagens de deuses gregos, associadas a figuras geométricas e recortes diversos, como conchas, estrelas do mar, pedaços de um molde de costura vienense ou de um tratado de história natural do século 18, estão ali para provocar surpresa. "Mostro que todos os paradoxos são conciliáveis", explica. As letras escritas nas telas remetem às iniciais de Palas Atena, Vênus, Antínoo, entre outros deuses que habitam o imaginário de Dumke desde que ele deu início a sua trajetória artística, na década de 70. "São minha assinatura", diz ele, que teve o carioca Carlos Scliar (1920-2001) como o principal incentivador de suas colagens.
O recorte de um homem que parece voar com uma cadeira, que Dumke chamou "O Parasita de Constantinopla", originou a série Calidoscópio do Sonho, em que cada imagem recortada é acompanhada por outra que funciona como uma espécie de comentário. Em Aparições, Dumke manipula fotografias de modelos nuas, que remetem a mulheres selvagens do mundo grego, e outras figuras ligadas ao mar digitalmente e, depois, trabalha nelas com lápis e bico de pena até conseguir um efeito inusitado.
As três séries que compõem a mostra fazem referências explícitas à arte surrealista, concretista e à pintura metafísica italiana, com destaque para as obras de Giorgio De Chirico, em que transparecem elementos oníricos e questões relacionadas à filosofia e à alquimia. "Na arte é preciso estudar o ocultismo, o aspecto misterioso da vida. O artista deve ser um clarividente, ver o que os outros não veem, buscar uma qualidade espectral, similar a um sonho", considera Dumke.
Serviço
A Arte Silenciosa de Rones Dumke pinturas e colagens do artista. O Precursor do Ensino na Arte do Paraná fotos e obras de Alfredo Andersen feitas no período em que lecionava. Ser Fruto cerâmicas de Soraia Savaris. Percepção desenhos, pinturas e esculturas de Osvaldo Gaia. Projeto Andersen na Escola seleção de obras de alunos de escolas que visitam o Museu. Abertura, dia 19, às 18h30. Museu Alfredo Andersen (Rua Mateus Leme, 336). De terça a sexta-feira, das 9 às 18 horas, e sábados, domingos e feriados, das 10 às 16 horas. Até 24 de outubro.
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