• Carregando...
Os “parangolés” de Hélio Oiticica são uma das referências da peça, que tem tendas e sacos de dormir falantes | Leco de Souza/Divulgação
Os “parangolés” de Hélio Oiticica são uma das referências da peça, que tem tendas e sacos de dormir falantes| Foto: Leco de Souza/Divulgação

Peça

Exposição

Teatro Novelas Curitibanas (R. Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco), (41) 3321-3358. Estreia hoje. Temporada de quinta a domingo às 20 horas. Entrada franca. Até 26 de agosto. Classificação indicativa: 18 anos. Sujeito a lotação.

Depois de três obras dramáticas no ano, o Teatro Novelas Curitibanas começa o segundo semestre com uma comédia calcada nas agruras da criação artística. A parceria de integrantes do coletivo Couve-flor com Dimis Soares (diretor de Vivienne) rendeu uma investigação sobre o processo inventivo, sob o título de Exposição, que estreia hoje, às 20 horas.

A direção foi compartilhada por Dimis com Cândida Monte, de quem partiu o projeto, e Gustavo Bittencourt. No elenco estão Eduardo Simões, Mariana Ribeiro e Talita Dallmann.

O substrato principal veio da correspondência trocada entre os artistas plásticos brasileiros Lygia Clark e Hélio Oiticica na década de 1960, quando ela estava na Europa e chegou a passar fome, tendo de vender obras por pechinchas.

Tendo em mente as cartas publicadas no livro Lygia Clark e Hélio Oiticica – Cartas 1964-1974 (UFRJ Editora, 1998), o grupo se extenuou em exercícios diversos. Após a escolha do melhor material, a dramaturgia final foi aviada por Dimis. "Ficou como uma colagem", admite. Para dar conta de apresentar as melhores cenas surgidas nos ensaios, o espetáculo ocupa cem minutos.

Minutos geniais

Um dos elementos do treinamento que virou tema da peça foi a dura exigência de Dimis com o elenco, a quem pedia "cenas criativas" o tempo todo. Em um momento, um ator decide que o outro deve criar de acordo com seu fluxo de consciência durante três minutos de "genialidade". "Depois que eles reclamaram, eu peguei mais leve, mas a cena ficou", contou Dimis à reportagem.

Outras referências dizem respeito diretamente à correspondência dos dois artistas homenageados – que, de acordo com o grupo, são um caso típico de gente que recebe o devido valor só no exterior. Uma delas são as "máscaras de cone" criadas por Lygia, também chamadas "máscaras sensoriais"; outra é um monólogo que cita trechos em que a artista fala das privações que sofreu na França.

"A precariedade tem muito a ver com os dois artistas", lembra Dimis, citando objetos escolhidos para compor figurino e cenário da peça, como saia de plástico bolha e tecidos rasgados.

Os "parangolés" de Oiticica, chamados por ele de "pinturas vivas ambulantes", têm fartas citações no espetáculo – como um saco de dormir falante.

Apesar desse tema forte saído das artes visuais, o grupo escolheu como eixo principal a questão da participação do público. Com isso, provoca a interação em diversos momentos.

"Quisemos ser honestos com o legado da Lygia, em que o público pode modificar a obra", explica Dimis.

Mas ninguém precisa deixar de ir à peça com medo de ser tirado para dançar no palco. As incitações não chegam a agredir, e se referem mais à possibilidade de a plateia dar um novo rumo a algumas cenas. E para se "proteger" do risco de mutação, os atores ganham certa margem de improviso.

Projeto

A ideia da peça partiu de Cândida, quando lia a correspondência entre Hélio e Lygia. Ela havia visto Vivienne e manifestado o desejo de trabalhar em parceria com Dimis, unindo criação de texto e direção. Morando em Miami, ela enviou um recado a Dimis, que aceitou a proposta. "Para mim foi muito diferente compartilhar a direção e trabalhar sem um texto inicial", conta ele.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]